Negócios

Como calcular receita e lucro numa pequena e média empresa

Em artigo, o professor da Fundação Dom Cabral Eduardo Menicucci explica os pormenores contábeis desse tipo de cálculo e dá dicas para uma boa gestão de uma PME

Eduardo Menicucci, da Fundação Dom Cabral: Há um “ditado” no mundo das finanças das médias empresas que diz: “Faturamento é vaidade, Resultado é contabilidade e Caixa é realidade” (ThinkStock/Uelder Ferreira/Thinkstock)

Eduardo Menicucci, da Fundação Dom Cabral: Há um “ditado” no mundo das finanças das médias empresas que diz: “Faturamento é vaidade, Resultado é contabilidade e Caixa é realidade” (ThinkStock/Uelder Ferreira/Thinkstock)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 16 de outubro de 2023 às 15h00.

Qual a principal referência para sabermos se uma empresa está crescendo? Seria o faturamento? Ou algum indicador de lucratividade (como, por exemplo, o lucro líquido)? Alguma métrica de retorno (retorno sobre o patrimônio líquido, por exemplo)? Ou mesmo o crescimento do próprio patrimônio líquido? Podemos pensar em geração de caixa (e mesmo ter caixa)?

Há um “ditado” no mundo das finanças das médias empresas que diz: “Faturamento é vaidade, Resultado é contabilidade e Caixa é realidade”.

Até existe “alguma” relação entre a receita (faturamento) e lucro, e, após a apuração de resultados, entre o lucro e o caixa. Mas, ressalte-se, não é uma relação direta, nem eterna, nem tampouco previsível com alta assertividade.

Como obter a receita

Mas..... A primeira atitude de qualquer empresa, quer seja micro, pequena, média ou “gigante”, é obter receita. E receita (ou faturamento), para qualquer empresa, de qualquer setor e segmento, de qualquer tempo de vida e porte será sempre a multiplicação de duas (2) variáveis:

  • preço (P)
  • quantidade (Q)

Para empresas comerciais esse entendimento é bastante direto: quantas mercadorias foram vendidas a qual preço.

Multiplicando-se as duas variáveis chega-se à Receita Bruta (Vendas Brutas ou mesmo Faturamento Bruto).

Para empresas industriais a diferença básica está em que houve, inicialmente, a transformação de matérias primas em produtos acabados e estes que serão vendidos.

Por fim, empresas prestadoras de serviços também obtém receita bruta com a multiplicação das mesmas duas variáveis (Preço e Quantidade).

Normalmente a unidade de medida (Quantidade) é “HH” (horas humanas).

Entendida essa primeira variável de resultados, o próximo passo é calcular tanto os custos como as despesas da empresa.

De uma forma objetiva, custos estão relacionados à atividade fim das empresas (para uma empresa comercial os custos são as mercadorias a serem revendidas, por exemplo).

Já as despesas são atividades de apoio, de suporte. Exemplos clássicos são as áreas administrativas e financeiras.

Como calcular as margens

Apenas com essas três rubricas da DRE (Demonstração de Resultados do Exercício) já podemos calcular dois indicadores financeiros extremamente relevantes para a gestão: as MARGENS BRUTA e OPERACIONAL (com alguns ajustes podemos chegar à margem EBITDA[1]).

Veja o exemplo de uma DRE (conforme legislação brasileira):

  • Receita/Venda Bruta = Preço x Quantidade (P x Q)
  • (-)  Devoluções, Deduções, Abatimentos e Impostos sobre Vendas
  • (=) Receita/Venda Líquida
  • (-)  CPV (Custo do Produto Vendido) / CMV (Custo da Mercadoria Vendida) / CSP (Custo do Serviço Prestado ou Vendido)
  • (=) Resultado/Lucro Bruto
  • (-)  Despesas Comerciais
  • (-)  Despesas Gerais e Administrativas
  • (-/+) Outras Despesas / Receitas Operacionais
  • (=) EBIT – Resultado Operacional – LAJIR
  • (-/+) Despesas/Receitas Financeiras
  • (=) Resultado antes do Imposto de Renda/CSLL (LAIR)
  • (-)  Imposto de Renda / CSLL
  • (=) Resultado/Lucro Líquido do Período

Onde está o resultado operacional

A subtração das três rubricas citadas (Receita Bruta - Custos - Despesas) já nos indica o resultado OPERACIONAL da empresa, que, a nosso ver, é uma excepcional métrica de gestão, pois mostra quanto (tanto em R$ como %) o negócio principal da empresa está gerando de resultado.

Importante destacar que todas essas três rubricas advêm de movimentação no Balanço Patrimonial (BP), e que é também imprescindível acompanhar essa primeira peça contábil (BP).

Como ilustração, em uma empresa comercial o CMV (Custo da Mercadoria Vendida) é obtido pela seguinte fórmula (obrigatoriamente):

  • CMV = estoque inicial + compras – estoque final

Apurado esse resultado operacional, o que está “abaixo” é mais estratégico, e às vezes com influência menor da empresa.

Por exemplo, despesa financeira (juros) normalmente está vinculada a algum tipo de empréstimo e/ou financiamento, e em vários casos atrelado a algum indicador (normalmente o CDI[2]).

Quando este indicador varia, o impacto na despesa financeira acontecerá (para o bem ou para o mal), sem que a empresa tenha uma gestão direta sobre ele (CDI).

Por fim, recolhidos também os tributos sobre renda (IRPJ e CSLL), chega-se à, para as sócias e para os sócios, linha mais importante, que é o Lucro Líquido.

O que levar em consideração

Desta forma, sinteticamente apresentados os principais indicadores financeiros advindos da DRE (Demonstração de Resultados do Exercício), apresento algumas “dicas” para que você gerencie ainda melhor sua média empresa:

  1. Sempre (mas sempre mesmo) decomponha a primeira linha da DRE (Receita Bruta) nas duas variáveis: Preço e Quantidade. O faturamento pode aumentar pelo aumento do preço de venda de seus produtos, mercadorias ou serviços, mas o volume pode ter ficado constante. Ou a receita subiu porque a empresa vendeu uma quantidade maior pelo mesmo preço. Claro que o ideal é a combinação de preço e quantidade, e, além disso, do mix (“portfólio”) de produtos, mercadorias ou serviços;
  2. A margem bruta (também às vezes chamada de margem de contribuição) tende a ser constante, linear nos anos. A menos que os custos subam mais que o preço de venda, essa margem é o primeiro parâmetro para você confirmar que a lucratividade da empresa está sendo mantida;
  3. As despesas devem ser, inicialmente, mensuradas em $ (dinheiro), já que tendem a ser mais fixas ao longo do tempo. Não é comum o consolidado de despesas variar muito de um período a outro, nem muito menos em relação à receita;
  4. O resultado das três dicas anteriores culminou com o Resultado Operacional (“EBIT[3]”), que é um indicador muito importante;
  5. Após o resultado operacional, monitore o resultado Financeiro (Receita e/ou Despesa Financeiras = juros) e eventualmente (a depender do regime tributário em que sua empresa estiver enquadrado) o IRPJ/CSLL[4].

Nesta altura você chegou ao Lucro Líquido, que, merecidamente, é a “recompensa” por todo seu esforço e gestão. Esse valor terá basicamente três destinações:

  • reinvestimento
  • eventual pagamento de dívida
  • e, por fim, a distribuição

[1] EBITDA = “Earnings Before Interest, Tax, Depreciation and Amortization” – Lucro Antes dos Juros, dos Impostos, da Depreciação e da Amortização

[2] CDI = Certificado de Depósito Interbancário. Praticamente igual à SELIC, taxa básica de juros da economia brasileira

[3] EBIT = “Earnings Before Interest and Tax” – Lucro Antes dos Juros e dos Impostos

[4] IRPJ = Imposto de Renda da Pessoa Jurídica e CSLL = Contribuição Social sobre o Lucro Líquido

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