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Como a Trocafone quer usar R$ 100 milhões para ampliar a venda de celulares seminovos

Empresa faturou R$ 415 milhões em 2023 e passou por um processo de profissionalização da gestão

Trocafone: empresa faturou R$ 415 milhões no ano passado (Trocafone/Divulgação)

Trocafone: empresa faturou R$ 415 milhões no ano passado (Trocafone/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 3 de maio de 2024 às 12h50.

Última atualização em 3 de maio de 2024 às 13h46.

No mundo dos automóveis, quando os carros zero quilômetro estão fora de alcance por causa de seus preços, o olhar se volta para os seminovos, uma alternativa econômica e que, muitas vezes, vale a pena.

O movimento, já tradicional nesse setor, começa a ganhar escala em outras áreas. Uma delas é a de tecnologia. Com os smartphones custando quase o preço de um carro popular usado, a alternativa para muitas pessoas também é essa: pegar um celular seminovo.

Na dianteira desse movimento no Brasil está uma empresa criada há uma década por dois argentinos: a Trocafone. O negócio está batendo recorde de vendas nos últimos meses e faturou R$ 415 milhões no ano passado, um crescimento de 6,7% em relação a 2022.

Agora, anuncia uma mudança na liderança da operação, com a profissionalização da gestão da empresa. A ideia é seguir crescendo e apostar em novas frentes para acelerar esse crescimento, como os consertos mais rápidos dos telefones que serão colocados à venda e ampliação das lojas próprias. No comando dessa aposta estará Flávio Peres, que trabalha no setor de telefonia há 20 anos e agora assume o cargo de CEO da companhia. 

O movimento também mira uma nova rodada de captação de US$ 20 milhões (cerca de R$ 100 milhões) que a Trocafone acaba de abrir. A ideia com esse capital é ampliar a planta operacional. 

“A empresa entra em uma fase de amadurecimento do negócio com investimentos tecnológicos para as operações e a agregação de profissionais experientes no mercado para a reestruturação interna”, diz Rafael Steinhauser, presidente executivo do conselho de administração da Trocafone.

Todo esse investimento é embasado numa demanda aquecida. 

Conforme estudo da IDC realizado em 2022, o valor total do mercado de smartphones no Brasil, contemplando tanto aparelhos novos quanto usados, foi de R$ 81 bilhões. A penetração do mercado de smartphones seminovos no Brasil, no entanto, representa apenas 3,3% e está bem abaixo de mercados mais amadurecidos como o americano, de 26%. 

“Esse dado sublinha o vasto potencial para crescimento e expansão no segmento de seminovos”, diz Steinhauser.

Como o negócio começou

Para o empreendedor argentino Guillermo Freire, fundador da Trocafone, o modelo de negócios atua na economia circular, diminuindo o descarte de lixo eletrônico e barateando o acesso aos aparelhos. “Temos como missão democratizar o acesso à tecnologia e reduzir o lixo eletrônico. Queremos oferecer mais possibilidades aos consumidores brasileiros que desejam ter um aparelho moderno e funcional, com segurança e confiabilidade”, disse à EXAME em 2022.

Freire e seu sócio Guillermo Arslanian se conheceram nos Estados Unidos. A história dos empreendedores com o mercado de celulares usados começou após um assalto. Na época, Freire estava desempregado quando seu celular foi furtado. Sem dinheiro, ele começou a procurar por celulares seminovos. "Eu comprei um aparelho usado que apresentou problemas em pouco tempo e não tinha garantia. Naquele momento eu vi uma oportunidade ", diz.

Juntos, os empreendedores começaram a estruturar um marketplace para compra e venda de celulares seminovos. Com o objetivo de escalar o negócio, os empreendedores se mudaram para o Brasil e escolheram o país como principal mercado. A sede da Trocafone fica na Lapa, em São Paulo.

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Qual é a estrutura da Trocafone hoje

Depois do período da pandemia, os dois argentinos se afastaram um pouco da empresa. Foi o início do movimento de profissionalização da gestão, assumida agora por Peres.

“A empresa saiu do período de covid-19 faturando R$ 300 milhões”, diz Peres. “Tomamos algumas iniciativas a partir disso, principalmente de ficar mais próximo do mercado consumidor. Melhoramos nosso site. Tecnologias mais atuais”.  

Agora em março, bateu recorde de venda com faturamento de R$ 42 milhões. A empresa também atingiu desempenho histórico com faturamento de R$ 415 milhões no balanço de 2023.

Desde que começou a funcionar, a empresa já vendeu 2,7 milhões de aparelhos em suas segundas vidas.

“Há dez anos, as pessoas estavam comprando seu primeiro smartphone”, afirma. “Passado esse tempo, as pessoas já sabem bem o que é um bom smartphone. Ela vê mais valor em comprar um telefone de boa especificação que ela pode pagar, do que um telefone de entrada”. 

Como funciona a operação da Trocafone 

O negócio da Trocafone tem duas frentes. A primeira é a da captação dos telefones usados. A empresa pega esses celulares sempre do consumidor, pessoa física, a partir de uma rede de parceiros e pelas lojas próprias. Hoje, a Trocafone tem 28 quiosques pelo Brasil. 

“Coletamos celulares de 8 mil pontos de venda no Brasil inteiro”, afirma Peres. “Trazemos para nosso centro em São Paulo, onde fazemos um processo de limpeza de dados. A primeira ação é ter certeza que todo o celular foi apagado. Depois, fazemos um diagnóstico, vemos se ele tem algum problema, consertamos e fazemos a higienização final”. 

Na sequência, ele volta para as lojas, seja por vendas online, parceiros ou quiosques. 

A meta para este ano é crescer 20%, faturando R$ 500 milhões. 

“O mercado está muito aquecido, temos bastante demanda e oferta, é uma meta factível”, afirma. “Agora buscamos ter mais eficiência na rede de coleta, trazer os aparelhos mais rapidamente para dentro de casa. Queremos ter uma ampliação na capacidade produtiva para absorver novas demandas”. 

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