Victor Santos, cofundador da Liv Up: "Esse era o grande objetivo: como criar uma marca e desenvolver produtos que levem comida boa e prática para a rotina de quem está no corre."
Repórter
Publicado em 23 de outubro de 2024 às 14h43.
A mesa da foodtech Liv Up está tão cheia quanto numa ceia de Natal. A startup brasileira que ficou conhecida pelas marmitas saudáveis está num momento de crescimento acelerado: a foodtech atingiu o breakeven em 2024 e projeta um faturamento de mais de R$ 250 milhões em 2025.
Dados da Associação Brasileira das Indústrias de Alimentos (ABIA) mostram que, em 2023, o segmento de alimentação saudável movimentou cerca de R$ 100 bilhões, impulsionado pela entrada de novas empresas. Outras foodtechs como Mr. Fit, Kük e Pronto Light apareceram no mercado e ampliaram suas operações e presença nacional durante a pandemia, pressionando a posição de destaque da Liv Up no setor.
Para se adaptar a esse cenário desafiador, a Liv Up focou em estratégias de redução de custos e aumento de eficiência operacional. Fez, por exemplo, uma parceria com a logtech RoutEasy, cuja plataforma de otimização de rotas reduziu em até 40% os custos operacionais e em 20% as despesas de entrega de alimentos. Também desistiu de expandir o portfólio para carnes, peixes e hortifrutis.
Na mesma época, o setor de tecnologia enfrentava o "inverno das startups", que resultou em uma redução significativa nos investimentos em startups brasileiras. Vale ressaltar, porém, que apesar de ter afetado todo o setor, a Liv Up passou 2022 com uma jaqueta de frio para aquecer: em uma rodada série D que contou com duas extensões, a foodtech levantou R$ 265 milhões.
Foi somente em 2024 que a empresa parou de queimar caixa e atingiu a lucratividade. Segundo um dos fundadores, os resultados foram potencializados pela entrada no segmento B2B com a marca "Generosa" e a constante adaptação dos produtos com base no feedback do consumidor.
Fundada por Victor Santos e Henrique Castellani, a Liv Up desde o início se destacou pelo foco em produtos naturais e sem conservantes, utilizando ingredientes provenientes de agricultores locais que podem atingir uma renda de até R$ 15 mil por mês.
O modelo de negócios inicialmente focava em vendas diretas ao consumidor final. "Começamos em 2016 justamente olhando para o consumidor moderno, conectado, que tem um dia a dia super corrido e quer comer bem, sem abrir mão do sabor", diz Santos. "Esse era o grande objetivo: como criar uma marca e desenvolver produtos que levem comida boa e prática para a rotina de quem está no corre."
Ao longo de seus oito anos de operação, a Liv Up viu seu perfil de consumidor mudar e se diversificar. No início, o foco era um público mais jovem, especialmente pessoas de 25 a 35 anos, interessadas no universo fitness. Hoje, mais de 30% dos clientes têm acima de 45 anos, além de uma forte presença entre universitários, um público que busca preços acessíveis e praticidade. “Lançar linhas mais baratas foi fundamental para atrair consumidores com um orçamento mais apertado, sem perder de vista aqueles que já eram nossos clientes”, afirma.
A Liv Up está presente em mais de 80 cidades brasileiras e planeja expandir sua operação com a abertura de mais três a cinco centros de distribuição em 2025. A expansão será focada em cidades de médio porte, com população entre 250 mil e 1 milhão de habitantes, onde a demanda por alimentação saudável tem crescido.
NotCo desiste dos congelados no Brasil e aposta nas bebidas proteicas para competir com YoProA chegada da Liv Up ao segmento B2B em 2024 marcou uma nova fase para a empresa. Com a marca Generosa, voltada para o atendimento de grandes empresas e redes de fast food, a Liv Up tem o objetivo de oferecer refeições saudáveis para trabalhadores de diferentes setores. O conceito é claro: substituir o fast food diário por opções mais saudáveis, oferecendo uma alternativa de alimentação nutritiva e prática para funcionários de empresas como Burger King, Popeyes e Braz Elettrica.
A operação no B2B tem um modelo flexível, com entregas adaptadas às necessidades de cada empresa. “Estamos trabalhando diretamente com as equipes de RH para ajustar a frequência das entregas e o volume de refeições conforme a demanda”, explica Santos. As refeições são servidas em marmitas individuais, com preço acessível, e podem ser fornecidas até cinco vezes por semana, dependendo do contrato.
O objetivo é triplicar a receita no segmento B2B em 2025, o que reforçará o faturamento total da Liv Up e contribuirá para o alcance da meta de R$ 250 milhões.
Para sustentar o crescimento projetado para 2025, a Liv Up lançou novas linhas de marmitas saudáveis. Uma das principais apostas é a linha “marmitas turbinadas”, focada em oferecer maior quantidade de proteínas por refeição, atendendo à demanda de consumidores que buscam mais nutrientes para rotinas de treinos. A estratégia reflete o entendimento das mudanças no perfil do consumidor, que, cada vez mais, busca produtos que aliem "sabor, qualidade e preço justo", diz Santos.
Outra novidade é a linha de marmitas vegetarianas, voltada para um público que procura reduzir o consumo de carne ou adotar uma dieta 100% à base de plantas. A empresa também se beneficiou de um movimento de reprecificação, com produtos a partir de R$ 15, o que ajudou a atrair universitários e consumidores de faixas etárias mais altas.
Segundo o CEO, a Liv Up realiza pesquisas de NPS e análise de feedback de forma contínua, ajustando receitas e produtos com base nos comentários recebidos. "Já tivemos casos em que mudamos a textura de carnes e o tempo de cozimento do peixe, levando a um crescimento de três vezes nas vendas", diz Santos.
Em 2025, a empresa deve lançar novas linhas de produtos, ainda focadas no segmento de refeições, mas explorando outras opções de pratos e receitas que atendam a necessidades específicas dos clientes. Ao todo, a Liv Up produz mais de 300 toneladas em refeições por mês. "Nosso desafio é dar escala à comida artesanal. Queremos que o consumidor sinta o sabor de uma refeição caseira em cada marmita que recebe".