Alessandra Montagne, um dos principais nomes brasileiros na gastronomia internacional. (Anne Claire Heraud/Divulgação)
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Publicado em 31 de julho de 2024 às 14h39.
“Alain, você não ligou para mim por engano?”, ela teria dito, não faz muito tempo, ao atender uma ligação de ninguém menos do que Alain Ducasse. “Aqui quem fala é Alessandra”. O lendário chef francês, cujos restaurantes somam, atualmente, 21 estrelas Michelin, havia ligado para o número certo — encarregado de renovar a gastronomia do Louvre, ele queria propor o nome dela para comandar um dos restaurantes do museu. “Liguei para você, Alessandra Montagne”, ele teria respondido. “Estou montando um time com quatro chefs, que considero meus herdeiros, a nova geração Ducasse, e você é um deles.”
Desde então, a fama desta carioca nascida no Morro do Vidigal não para de crescer, principalmente no Brasil. Em Paris, como é de imaginar, ela já era bem conhecida — do contrário, um dos chefs mais importantes da França, e da atualidade, não teria lhe chamado para chefiar um restaurante no Louvre. Desnecessário dizer que o museu aprovou o nome dela, e que ela aceitou o convite. O projeto, que ainda está cercado de mistério, será anunciado em detalhes depois das Olimpíadas de Paris. Na Cidade Luz, ela é dona de dois restaurantes, o bistrô Tempero — ou “temperô”, como dizem os franceses — e o Nosso. Em ambos, ajuda a valorizar a culinária brasileira.
Sua trajetória é cada vez mais conhecida. Quando ela tinha poucos dias de vida, a mãe dela foi tentar a sorte na França. Foi por isso que Alessandra não cresceu no Morro do Vidigal, onde nasceu, mas em Poté, no interior de Minas Gerais, onde os avós dela viviam. Quando tinha 16 anos de idade, a futura chef engravidou e se casou com o pai da criança. Descobriu-se, em seguida, em meio a um casamento conturbado, com direito a violências diversas. Aos 22 anos, repetindo os passos da mãe, foi-se embora para Paris, deixando o filho com uma tia.
Na capital da França, Alessandra ganhou a vida como babá, secretária e faxineira até juntar dinheiro suficiente para montar o Tempero. O fascínio pela gastronomia e a facilidade com as panelas ela credita à avó que a criou — foi quem a ensinou a cozinhar, e desde muito cedo. “A cozinha é onde me sinto mais livre e protegida”, declarou a chef em uma entrevista recente. “É na cozinha que me sinto no meu lugar”. Não demorou para o sucesso do Tempero chegar aos ouvidos de Ducasse, que se tornou uma espécie de padrinho da brasileira — só depois, obviamente, de experimentar a comida dela e aprovar.
Conhecida por propor misturas como pão de queijo com caviar e por privilegiar ingredientes de agricultores locais, entre outras práticas em prol da sustentabilidade de seus restaurantes, ela passou mais de dezesseis anos longe do Brasil. Em agosto, desembarca no país de origem com todos os holofotes apontados para ela. Um dos motivos de sua vinda são os dois jantares que irá protagonizar, nos dias 14 e 15 de agosto, no Vista Ibirapuera, o restaurante localizado no rooftop do prédio do MAC, no Parque do Ibirapuera (o terceiro jantar de Alessandra no Brasil será no dia 24 de agosto no Barracuda Hotel & Villas, localizado em Itacaré, na Bahia).
Em São Paulo, ela promete servir as criações que fizeram a fama dela na capital francesa. É o caso do creme de cogumelo Paris com picles e caramelo de cogumelo, da lagosta com “mel” de cacau, pimenta de cheiro e coentro, e do praliné salgado de caju com yuzu. Os pratos serão harmonizados com vinhos franceses e brasileiros. Registre-se que a chef carioca pretende trazer parte da equipe do Nosso para escoltá-la durante os jantares no Brasil. O braço-direito dela é o chef brasileiro Luiz Gustavo Galvão, um dos escalados, assim como o sommelier francês Matthieu Di Nacera.