Sandália da Piccadilly (ADRI FELDEN/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 28 de novembro de 2021 às 09h19.
Depois de ver o faturamento despencar em 2020, de fechar uma de suas plantas no Rio Grande do Sul e demitir centenas de funcionários, a calçadista Piccadilly decidiu apostar na melhora da produtividade, com aumento da automação da fábrica, e em produtos mais relacionados à nova realidade do consumidor para se recuperar. Em tempos de covid-19, com mais gente em home office, saiu o salto fino e entrou um sapato mais casual, com preço mais competitivo.
"Entendemos que havia uma mudança significativa no comportamento do consumidor e decidimos criar produtos para esse momento. O mercado respondeu muito rápido", disse a presidente da empresa, Cristine Camila Grings Nogueira.
Das dez linhas mais vendidas pela Piccadilly, cinco são da coleção atual. Naquele momento de lançamento da coleção, as vendas subiram 525%.
Segundo a executiva, o diferencial foi combinar calçados mais confortáveis com preços atraentes. Para chegar a essa equação sem comprometer a qualidade do produto, a solução foi trazer os calçados para o meio e a base da pirâmide. Cristine explica que o desafio era como agregar valor sem agregar custo, uma vez que os insumos estão em alta e a renda do consumidor, em queda.
"De qualquer forma, a resposta foi positiva. Hoje, em termos de faturamento, estamos nos aproximando dos níveis de 2019, antes da pandemia." A expectativa é que a empresa, que tem 7 mil pontos de vendas no Brasil e no exterior, feche o ano com crescimento de 35% em relação a 2020 e receitas de R$ 275 milhões. Desse montante, R$ 175 milhões referente ao segundo semestre.
O setor calçadista sofreu bastante em 2020 com as restrições de circulação das pessoas nas cidades, fechamento do comércio e trabalho remoto. A produção de calçados caiu 18,4% no ano passado, retornando a patamares de 15 anos atrás. As exportações tiveram o pior resultado em quase quatro décadas.
Nesse cenário, diz Cristine, foi necessário rever várias estratégias comerciais e operacionais. Na avaliação do sócio-diretor da Gouvêa Consulting, Jean Paul Rebetez, a pandemia fez as empresas se reinventarem e focarem na eficiência operacional. "Tudo isso para preservar o caixa que ainda restava." Segundo ele, praticamente tudo precisou ser revisto, seja porque a população empobreceu seja porque o mercado exigiu mudanças rápidas, como a digitalização. "As empresas tiveram de correr atrás (para se manter de pé)."
No caso da Piccadilly, Cristine diz que a recuperação só veio com um conjunto de medidas. Uma delas foi a adoção de uma gestão mais focada em indicadores para tornar a companhia mais eficiente. Ao mesmo tempo a Piccadilly tem trabalhado com programas de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para a criação de novos produtos de forma mais econômica e diferente. A digitalização também foi fortalecida na empresa. A executiva diz que, desde 2019, a transformação digital virou um tema estratégico e permanente nos objetivos da empresa