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Com pandemia, lucro dos bancos cai 31,9% no primeiro semestre

Na prática, os bancos estão reservando mais recursos para fazer frente a mais casos de inadimplência de empresas e famílias, o que reduz seu lucro

Dinheiro: despesas dos bancos com provisões somaram R$ 65,0 bilhões no primeiro semestre de 2020 (IltonRogerio/Getty Images)

Dinheiro: despesas dos bancos com provisões somaram R$ 65,0 bilhões no primeiro semestre de 2020 (IltonRogerio/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 15 de outubro de 2020 às 14h31.

Última atualização em 15 de outubro de 2020 às 14h59.

A pandemia provocada pelo novo coronavírus trouxe forte impacto para a lucratividade dos bancos na primeira metade de 2020. Dados divulgados nesta quinta-feira pelo Banco Central mostram que, no primeiro semestre do ano, os bancos registram lucro líquido ajustado de 40,8 bilhões de reais. O valor representa uma queda de 31,9% em relação ao mesmo período de 2019.

Outra medida importante para avaliar o desempenho dos bancos, o Retorno Sobre Patrimônio Líquido (ROE) do sistema atingiu 11,2% ao ano em junho de 2020, ante taxa de 17,8% em junho do ano passado. Já o ROE acumulado em 12 meses até junho deste ano foi de 13,6%, ante 16,7% do acumulado até dezembro de 2019.

Esta retração do retorno obtido pelos bancos está diretamente relacionada à pandemia. Em meio à crise, as instituições financeiras elevaram o volume de provisões para fazer frente à inadimplência.

As despesas dos bancos com provisões somaram 65,0 bilhões de reais no primeiro semestre de 2020, o que representa um aumento de 80% em relação ao visto no primeiro semestre de 2019. Os números foram divulgados por meio do Relatório de Estabilidade Financeira (REF) do BC.

Na prática, os bancos estão reservando mais recursos para fazer frente a mais casos de inadimplência de empresas e famílias, o que reduz seu lucro.

Segundo o diretor de Fiscalização do Banco Central, Paulo Souza, o lucro do sistema financeiro em 2020 deve cair para um patamar entre 80 bilhões e 85 bilhões de reais, na esteira da pandemia.

"Estimamos uma redução do lucro entre 30% e 35% neste ano, devido ao aumento de provisões. Deve haver certa retração ainda na rentabilidade dos bancos até o fim deste exercício", avaliou, em entrevista coletiva.

Souza disse ainda que, mesmo com a queda nas taxas de juro, a mudança de mix das carteiras tem permitido a manutenção da margem dos bancos. "Mas as despesas com provisões e a queda de receitas de serviços vai puxar a rentabilidade do sistema como um todo para baixo", completou.

Conforme o diretor do BC, mesmo antes da pandemia existia a visão de que uma redução da Selic (a taxa básica de juro) levaria a uma diminuição do lucro dos bancos. Atualmente, a Selic está em 2,00% ao ano, no menor patamar da história.

Antes da crise de covid-19, em dezembro de 2019, a taxa já estava em níveis baixos (4,50% ao ano). "Com Selic menor, já era normal esperar redução do nível de retorno dos bancos", pontuou.

Para Souza, um retorno na faixa de 13% ainda traz "atratividade" para o sistema financeiro. "Fica difícil prever o que vai acontecer em 2021, porque a pandemia é severa e houve provisões", disse o diretor. "Mas em um cenário com juros mais baixos, o retorno de qualquer empresa tende a ser menor. Uma rentabilidade entre 10% e 12% é o que devemos observar no sistema financeiro."

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