(RNI/Divulgação)
GabrielJusto
Publicado em 16 de outubro de 2021 às 18h53.
A pandemia provocou um salto na participação das vendas online no faturamento das empresas do comércio varejista brasileiro. Antes da crise sanitária que obrigou o fechamento das lojas físicas, o e-commerce representava, em média, 9,2% da receita. Mas, em julho do ano passado, com apenas quatro meses de pandemia, essa marca mais do que dobrou e foi para 19,8%. E, em junho deste ano, já estava em 21,2%.
"O resultado confirma com números a hipótese de que as empresas aceleraram o processo de digitalização ao longo da pandemia, principalmente para minimizar os impactos negativos da queda de circulação de pessoas nas lojas físicas", observa o economista Rodolpho Tobler, coordenador da Sondagem do Comércio, feita pela Fundação Getúlio Vargas.
Os dados fazem parte de um recorte especial da sondagem, obtido com exclusividade pelo Estadão. As vendas online, de acordo com os critérios adotados pelo estudo, incluem os negócios fechados no site, no aplicativo da loja e por WhatsApp.
A rápida digitalização ocorreu praticamente de maneira uniforme em empresas de todos os tamanhos: pequenas, média e grandes. Com a reabertura das lojas físicas, Tobler diz que pode haver uma certa correção nos próximos meses, mas ele acredita que muitas mudanças vieram para ficar. Ele argumenta que essa nova forma de vender atraiu novos consumidores de várias localidades do País e propiciou impacto favorável no negócio dos varejistas.
Para avaliar o saldo líquido nas vendas do comércio provocado pelo abre e fecha e o impulso dado pelo comércio online, o economista comparou o desempenho de dois grupos de varejistas que atuam no online.
As empresas cuja fatia do e-commerce na receita está acima da média do setor conseguiram, desde de meados do ano passado até hoje, obter um desempenho melhor de vendas em relação ao grupo de companhias cuja participação do online nos negócios está abaixo da média de mercado.
O economista destaca dois momentos importantes que mostram que as empresas mais digitalizadas estão à frente das menos digitalizadas em desempenho de vendas. O primeiro momento foi no fim do ano passado, quando a recuperação do comércio foi puxada pelas varejistas cujas vendas do online respondiam por uma fatia maior do que a média dos setor, de acordo com informações apontadas pela sondagem, levando em conta o nível de demanda atual.
O outro momento foi no início deste ano, com a segunda onda da pandemia. O estudo mostra que todo o varejo foi afetado por causa das restrições mais severas ao funcionamento das lojas físicas. No entanto, as companhias com participação das vendas online no faturamento acima da média do mercado sofreram menos e registram uma demanda ainda importante por seus produtos, observa Tobler.
Outro resultado significativo apontado pela sondagem da FGV é que 49,7% das empresas - quase a metade - não faziam nenhuma venda online antes da pandemia. Em julho do ano passado, essa fatia tinha recuado para 28,4% e em junho este ano estava em 20,2%.
Isso significa que quase 80% de todas as varejistas consultadas pela sondagem faziam uso de canais digitais. Esse número é ainda mais significativo para as empresas de grande porte, com mais de 90% das companhias usando canais online. Já as empresas de menor porte continuam mais resistentes à digitalização, com quase 30% do número de varejistas focadas só nas lojas físicas.
Tendência. Com a avanço da vacinação e a reabertura da economia, Tobler acredita que a tendência é de estabilização das vendas do varejo como um todo por causa da concorrência maior dos gastos com serviços que ficaram de lado na fase mais crítica da pandemia.
Mesmo assim, Tobler acha que a fatia das vendas online no comércio varejista brasileiro como um todo, que girava em torno de 5% antes da pandemia, possa fechar este ano em 10%.
Fundada em 1956, em Goiânia (GO), a rede regional Novo Mundo, especializada na venda móveis e eletroeletrônicos, foi uma das companhias que aproveitaram a pandemia para acelerar a digitalização.
Desde o ano 2000, a varejista vendia por meio do seu site, além das lojas físicas espalhadas por nove Estados nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste e no Distrito Federal. "Antes da pandemia o online representava 22% do nosso faturamento e hoje responde por 40%", diz Matheus Sepulveda, diretor da Novo Mundo Digital.
Além do site, sob o guarda-chuva do online hoje estão as vendas feitas por meio do aplicativo da loja, WhatsApp, marketplace da varejista e todos os negócios fechados que foram influenciados pelo meio digital.
O diretor conta que a venda do online cresceu 58% no ano passado na comparação com 2019 e garantiu que a empresa como um todo repetisse a receita do ano anterior.
Com o fechamento das lojas físicas por causa da crise e sanitária, a varejista implementou as vendas por meio de WhatsApp e aplicativo. Mas o grande impulso veio com a digitalização das lojas físicas no período. "Já tínhamos acordado para o digital, mas realmente a pandemia acelerou essa mudança", diz Sepúlveda.
As 139 lojas tradicionais passaram por uma reforma radical no modo de operar para se consolidar num formato multicanal. Os vendedores passaram a ser consultores e ficaram responsáveis pela venda como um todo, da escolha do produto na loja física ou no meio online até o pagamento. As vendas online e as das lojas físicas passaram a atuar de forma integrada, com o consumidor podendo comprar no site e retirar na loja ou escolher na loja e comprar no site.
Além disso, as lojas viraram minicentros de distribuição, dando mais agilidade às entregas das compras feitas online. "Hoje nas capitais entregamos as compras online em até duas horas", diz o diretor.
A transformação da 139 lojas físicas tradicionais para o formato multicanal custaram à companhia R$ 75 milhões. No mês passado, a varejista retomou o plano de abertura de lojas. Foram cinco novos pontos de venda em setembro. "Queremos aumentar a capilaridade nos Estados onde estamos", diz Sepulveda. A empresa que neste ano deve faturar R$ 1,2 bilhão, quer abrir mais três lojas até dezembro e 20 em 2022.