Negócios

Com cacau amazônico, ela resgata ancestralidade e promove o empoderamento feminino

À frente da Cacauaré, Noanny Maia inova ao oferecer produtos além do chocolate; para 2025 a meta é fechar captação e investir na infraestrutura dos produtores

Noanny Maia, fundadora da Cacauaré: tradição e inovação na produção sustentável da Amazônia.

Noanny Maia, fundadora da Cacauaré: tradição e inovação na produção sustentável da Amazônia.

Caroline Marino
Caroline Marino

Jornalista especializada em carreira, RH e negócios

Publicado em 12 de dezembro de 2024 às 10h00.

Quando a paraense Noanny Guimarães Maia decidiu deixar o mundo corporativo para empreender, tinha duas certezas: merecia mais reconhecimento no trabalho e desejava ajudar produtores locais, preservando a Amazônia. Assim, nasceu, em 2021, a Cacauaré, localizada em Mocajuba (Pará), dedicada à produção e comercialização de produtos de cacau nativo. Em 2023, a empresa faturou cerca de R$ 90 mil e projeta alcançar R$ 200 mil até o final deste ano. Para 2025, busca investimento para expansão.

A companhia une tradição e inovação com produtos como nibs, barras de 100% cacau, geleias, granola e chás. Atualmente, impacta cinco regiões e mais de 30 famílias, incluindo ribeirinhos, indígenas e quilombolas. Além disso, promove o turismo de experiência, permitindo que visitantes conheçam a cultura ribeirinha e o cultivo de cacau. A empresa também oferece o cacau cerimonial, bebida usada em rituais xamânicos de autoconhecimento e cura. Todo o processo – da colheita à fermentação, secagem e armazenamento das amêndoas – ocorre localmente para garantir a qualidade, dentro de um ecossistema agroflorestal.

Preservação da floresta e valorização da cultura

A marca utiliza práticas de manejo sustentável que ajudam a preservar a floresta, mantendo-a produtiva e protegida. “Sempre acreditei no potencial da floresta e me doía ver o desmatamento e tantos produtores sem oportunidades”, diz Noanny. Segundo ela, o objetivo é valorizar os produtos amazônicos e suas tradições. “Ao promover o cacau cerimonial e medicinal, incentivamos a conexão espiritual e o resgate da cultura cacaueira ancestral, criando uma experiência sensorial”.

Com esse trabalho, Noanny recebeu este ano o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios na categoria de Microempreendedora Individual (MEI). À Exame, ela conta o caminho que percorreu para chegar até aqui.

Superação e resgate familiar

A trajetória de Noanny exigiu determinação, resiliência e visão de mercado. Antes da Cacauaré, ela criou a Canoa Marketing, uma agência de comunicação para pequenos negócios que utilizavam insumos da floresta. No entanto, a pandemia provocou a perda de clientes e um grande apoiador, inviabilizando a empresa. “Vendi tudo o que tinha de escritório e comecei a pensar no que poderia fazer”, relembra.

Na mesma época, seu pai faleceu de covid-19 e ela decidiu voltar a Mocajuba para apoiar a mãe. “Meu pai, já aposentado, era produtor rural e decidimos conhecer melhor seu trabalho, conectando-nos com seus parceiros. Aproveitamos sua agricultura na várzea para alcançar mais pessoas da comunidade”.

Ela decidiu resgatar a cultura familiar do cacau ao lado da mãe e da irmã. “Somos a quarta geração de produtores. Minha avó nos ensinou a arte das geleias e licores, além de usar o cacau medicinalmente”.

Mulheres empreendedoras e desafios do mercado

A empreendedora também observou a vulnerabilidade das mulheres na agricultura local. “Estruturamos um projeto inovador para levar ao mercado produtos além do chocolate e inspirar outras mulheres nesse trabalho”. A Cacauaré começou com geleias doces e licores, depois expandiu para o cacau cerimonial.

Formada em administração, marketing e direito, Noanny valoriza o aprendizado contínuo. “Todo dia aprendo mais, estudo tendências e conheço o mercado. Tocar uma empresa exige esse olhar à frente”.

Outro pilar do sucesso foi a rede de apoio. “Minha mãe é o alicerce do negócio. Envolveu a comunidade desde o início, já que minha irmã e eu morávamos em Belém e não conhecíamos ninguém”.

A busca por investidores, no entanto, não foi fácil. “Empreender é mais difícil para nós, mulheres. Existe o estereótipo de que somos frágeis e a busca por aportes é mais desafiadora”. Apesar disso, ela acredita na força feminina e na superação desses obstáculos.

Planos de expansão e impacto social

A Cacauaré já obteve empréstimos em bancos, recebeu apoio do Impact Hub Manaus e participou de acelerações da Fundação Certi. Para 2025, planeja fechar seu primeiro investimento para fortalecer a infraestrutura e tornar as comunidades autônomas e autossuficientes.

“A ideia é que possam desenvolver agricultura de qualidade e crescer”, explica Noanny. A estratégia principal é buscar mulheres investidoras e empresárias para potencializar essa rede de impacto.

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