Negócios

Collins e Lemann: uma conversa

O encerramento do evento Brazil Conference, organizado por alunos brasileiros em Harvard e no MIT nos dias 22 e 23 de abril, foi marcado pela frase do empresário Jorge Paulo Lemann de que o seu maior sonho é que o país seja menos desigual. Embora essa declaração tenha sido a de maior repercussão, a conversa […]

COLLINS E LEMANN EM HARVARD: ‘Só faço negócios com quem eu gosto’ / Luciana Padilha

COLLINS E LEMANN EM HARVARD: ‘Só faço negócios com quem eu gosto’ / Luciana Padilha

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Da Redação

Publicado em 29 de abril de 2016 às 16h04.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h25.

O encerramento do evento Brazil Conference, organizado por alunos brasileiros em Harvard e no MIT nos dias 22 e 23 de abril, foi marcado pela frase do empresário Jorge Paulo Lemann de que o seu maior sonho é que o país seja menos desigual. Embora essa declaração tenha sido a de maior repercussão, a conversa que Lemann, o homem mais rico do Brasil, teve com o guru de negócios Jim Collins foi principalmente sobre pessoas. O papo viajou pela carreira de sucesso do empresário brasileiro fazendo paradas estratégicas para explorar detalhes da sua relação próxima com outras figuras ilustres do capitalismo mundial – e até da política.

Uma das parcerias mais marcantes é com o seu sócio Warren Buffett, o terceiro homem mais rico do planeta, dono da empresa de investimentos Berkshire Hathaway, e que comprou as fabricantes alimentos Heinz e Kraft Foods junto com Lemann. “Eu tenho passado muito tempo na companhia do Warren Buffett e uma coisa que ele sempre diz é ‘Eu só faço negócios com quem eu gosto’. Nós já estivemos prestes a fechar um acordo que financeiramente era muito atraente, mas Buffett voltou atrás e disse ‘Eu não gosto das pessoas dessa empresa. É melhor não fechar’”.

Collins e Lemann também são amigos de longa data e relembraram aquele que os apresentou: Sam Whalton, fundador da varejista Wal-Mart. O brasileiro diz que Whalton foi sua grande inspiração após ele e seus sócios Beto Sicupira e Marcel Telles terem comprado as Lojas Americanas no Brasil. “Nós visitamos as lojas do Wal-Mart com o Sam e ele sempre dava dicas muito simples e claras. Ele tinha uma capacidade excepcional de simplificar as coisas”, diz.

Lemann também contou sobre detalhes da relação de 45 anos com seus sócios na 3G Capital, Sicupira e Telles. Jim perguntou o que os uniu por tanto tempo. “Eles foram as melhores pessoas com quem eu trabalhei. E em algum ponto nós descobrimos que poderíamos fazer muito mais juntos do que separados. Então viramos sócios”, diz Lemann. “O segredo é que nós nunca tomamos grandes decisões se não estivermos de acordo. Só colocamos ideias para frente se todos estiverem convencidos”. Mas nem sempre isso é fácil. Segundo Lemann, Beto Sicupira é sempre o mais estressadinho. “Quem o conhece sabe que ele gosta de gritar”, conta o bilionário. “Marcel é mais moderado, mas também tem opiniões fortes. Eu geralmente tento acalmar todo mundo”.

O empresário também falou sobre como sua cultura de buscar os melhores profissionais foi moldada, em alguma medida, pelo banco de investimentos Goldman Sachs. “Nós fizemos muitos negócios com o Goldman Sachs no Brasil e eu ficava impressionado como vários dos sócios pareciam tão safos. Nosso sistema de recrutar, treinar e cultivar boas pessoas é basicamente inspirado no deles”, conta Jorge Paulo. “Acho que o Goldman era melhor antes de se tonar uma empresa listada na bolsa, mas ainda hoje colocam muita ênfase em gente, e isso faz deles o melhor banco de investimento que conheço”.

Mesmo nos trechos em que Jorge Paulo Lemann aborda os problemas do Brasil, ele fez questão de contar histórias marcantes sobre amigos que fez ao longo do caminho. Um deles foi o ex-primeiro ministro de Singapura, Lee Kuan Yew, o principal responsável pela ascensão econômica do país asiático – segundo Lemann, “uma das pessoas mais impressionantes que conheci”. Ambos eram conselheiros da montadora Daimler quando Lemann perguntou em tom de brincadeira a Yew se ele achava que conseguiria dar jeito no Brasil, um país com população vinte vezes maior que Cingapura. “Claro que sim. É tudo a mesma coisa!”, respondeu Yew. Lemann diz que não tem a mesma confiança na sua capacidade gerencial que Yew, mas se sente triste por não ter se envolvido mais com política e com governo.

Lemann refuta ainda a ideia de que é um gênio do setor financeiro. Ele diz que mal sabe multiplicar. Mas é anedótico ao falar sobre a única ocasião em que esse predicado lhe serve bem: “Quando eu mudei para a Suíça e casei com uma mulher suíça, ela queria que eu fizesse atividades de casa típicas de um marido suíço, como consertar os equipamentos do lar e arrastar móveis de um lado para o outro. Meu argumento para fugir dessas atividades foi: ‘eu sou um gênio financeiro, não posso ser submetido a isso!’”. Jim Collins e a plateia riram.

Collins não deixou de falar da amizade de ambos e fez uma homenagem a Jorge Paulo Lemann, explicando a influência dele sobre seu pensamento como consultor de gestão. “Quando Jorge Paulo estava prestes a comprar a Anheuser-Busch, estávamos em meu laboratório em Boulder, Colorado, e eu me mostrei apreensivo em relação a essa aquisição de 50 bilhões de dólares. Achei que talvez ele estivesse sonhando grande demais. Aí ele me disse: ‘Jim, você não entende o meu problema. Eu tenho gente boa demais na Ambev e eu preciso dar a eles algo grandioso para fazer!’” Para Collins, a experiência de Lemann mostra como é fundamental oferecer grandes desafios para atrair gente boa e capaz. “Quanto mais grandiosos forem os projetos, mais gente boa você vai precisar e quanto mais gente boa você tiver, mais grandiosos terão de ser os seus projetos”, diz o consultor americano, autor de livros que já venderam mais de 10 milhões de cópias pelo mundo.

(Daniel Barros, de Boston)

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