Diego García e Gerry Giacomán Colyer, cofundadores da Clara: negócio segue sem break even, mas receitas já pagam as despesas para aquisição de clientes (Divulgação/Divulgação)
Leo Branco
Publicado em 8 de agosto de 2022 às 07h00.
Unicórnio da América Latina mais rápida a chegar a esse patamar (foram apenas oito meses de operação até a empresa de tecnologia ser avaliada em 1 bilhão de dólares pelos investidores), a mexicana Clara fechou acordo com o banco Goldman Sachs para uma linha de crédito de até 150 milhões de dólares.
"É um orgulho o investimento vindo do Goldman Sachs, uma instituição com credibilidade e critérios muito elevados de gestão de risco", diz Gerry Giacomán Colyer, um dos fundadores da Clara. "O anúncio mostra a sustentabilidade do nosso negócio."
Aberta no início de 2021 e em operação no Brasil desde dezembro de 2021, a Clara resolve uma das principais chatices do mundo corporativo: a burocracia para reembolsos de gastos de funcionários, como contas de almoços com clientes, táxis ou Ubers em deslocamentos de trabalho e por aí vai.
A proposta da Clara é ofertar cartões de crédito com alguns limites de gastos para os funcionários. Tudo isso pode ser controlado via um app moderninho com UX caprichado para facilitar a vida dos gestores.
O público-alvo imediato da Clara são as pequenas e médias empresas sem condições de instalar uma estrutura parruda de controladoria de gastos.
Elas pagam um fee mensal para ter acesso ao pacote completo: a plataforma para visualizar os gastos e a emissão dos cartões de crédito sob a bandeira da Mastercard.
Atualmente, 5.000 empresas no México, Brasil e Colômbia adotam o serviço da Clara. Destas, por volta de 40% são startups. Dito isso, a fatia de clientes entre grandes empresas de setores da economia real vem aumentando, diz Colyer.
A rede de hotelaria Hilton recentemente aderiu ao serviço da Clara. No Brasil, negócios de tecnologia como a varejista online Amaro estão no portfólio.
Com o financiamento do Goldman Sachs, o plano é dobrar o número de clientes até o fim de 2022. "Estamos adicionando em média 100 negócios à base por semana", diz Colyer.
O capital deve tirar do papel o plano da Clara de começar uma operação no Chile e outra no Peru nos próximos meses.
Na frente de desenvolvimento de tecnologia, o crédito do Goldman vai ajudar a colocar no ar um serviço de transferência de recursos via Pix, voltado ao mercado brasileiro, nos próximos meses.
Por trás da Clara está o administrador mexicano Gerry Giacomán Colyer, alumni da Universidade Stanford, na Califórnia, e um executivo com experiência ampla na expansão acelerada de negócios de tecnologia — uma função conhecida pelo jargão 'growth'.
Na lista de negócios acelerados por Colyer estão a Grow, conhecida por colocar patinetes e scooters em metrópoles da América Latina, Siftery, software para otimizar o gasto das empresas com outros softwares, e HealthSherpa, um consultor online do custo-benefício de planos de saúde em operação nos Estados Unidos.
Colyer montou o negócio ao lado do conterrâneo Diego García. Ambos trabalhavam na Grow.
Para ser um dos principais executivos da empresa no Brasil, hoje o maior laboratório de inovações da Clara, a empresa contratou recentemente o brasileiro André Henrique Santoro como chief risk officer.
Santoro tem mais de 15 anos de experiência em gestão de risco, incluindo passagens pelo CitiBank e RappiBank Brasil.
À frente da operação brasileira, onde trabalham mais de 40 pessoas, está Layon Costa, executivo com passagens por empresas como Google, Rappi e Quinto Andar.
O investimento na Clara vem num momento de demissões em massa em startups da América Latina, e de um choque de realidade entre investidores — as notícias de cheques polpudos para negócios recém-abertos rarearam nos últimos meses.
Para Colyer e Santoro, o interesse do Goldman Sachs veio justamente pela solidez das finanças da Clara. "A gente ainda não teve o break even, mas o unit economics da gente está positivo", diz Santoro.
Unit economics é um indicador utilizado em empresas de tecnologia como a Clara para definir a relação entre gastos para conquistar um cliente — e as receitas geradas por ele.
"Não estamos perdendo dinheiro para conseguir clientes", diz Santoro.
A Clara já é apoiada por investidores internacionais. Na lista estão:
Após uma rodada de investimentos da Série B de 70 milhões de dólares em dezembro de 2021, a empresa se tornou a empresa mais rápida da América Latina a alcançar o status de unicórnio, apenas oito meses após o início das operações.
Antes do financiamento do Goldman Sachs, os aportes séries A e B recebidos pela Clara, mais o investimento de anjos, somaram 110 milhões de dólares.
VEJA TAMBÉM:
Clara: fintech chega ao Brasil para aposentar o reembolso corporativo
Fintech Clara capta US$ 30 milhões mirando mercado corporativo do Brasil
Adeus, nota fiscal: Swap, a "fábrica de fintechs", entra para o setor de despesas corporativas