Mulher passa na frente de uma agência do Citibank, em Nova York (Emmanuel Dunand/AFP)
Da Redação
Publicado em 14 de julho de 2014 às 16h28.
Nova York - Após meses de árduas negociações, o banco norte-americano Citigroup anunciou nesta segunda-feira que tinha aceitado pagar 7 bilhões de dólares para saldar litígios no setor imobiliário.
Esse acordo, fechado dias depois da aplicação de uma multa de 8,9 bilhões de dólares ao banco francês BNP Paribas, abalou seriamente os resultados da empresa (-3,8 bilhões de dólares prévio a impostos), que teve uma que de 96% em seu lucro, para 181 milhões de dólares no segundo trimestre.
O lucro por ação do grupo, sem considerar elementos excepcionais, ficou em 1,24 dólar, 19 centavos a mais do que o previsto.
Segundo os termos do acordo, o banco pagará 4,5 bilhões de dólares em dinheiro ao Departamento de Justiça (DoJ), e 500 milhões de dólares irão para a agência americana que garante os depósitos bancários, a FDIC, e a vários estados (Califórnia e Massachusetts, Illinois, Delaware, entre outros) associados à demanda.
Os 2,5 bilhões restantes serão destinados a ressarcir os clientes americanos de diversas formas, entre as quais, reduções nos empréstimos hipotecários e outras ajudas para trabalhos relacionados ao setor imobiliário.
"As atividades de Citi contribuíram bastante para a crise financeira que devastou nossa economia em 2008", afirmou o secretário de Justiça Eric Holder, criticado por não ter sancionado até agora nenhum grande banqueiro de Wall Street.
O Citigroup é acusado de ter comercializado entre 2003 e 2008 papéis vinculados a empréstimos hipotecários duvidosos, que causaram bilhões de dólares em perdas para os investidores que os compraram.
"O acordo anunciado hoje com o Departamento de Justiça, os fiscais e a FDIC resolve todos os nossos litígios em curso sobre os documentos de garantia hipotecária de empréstimos imobiliários RMBS (Residential Mortgage-Backed Securities, ndlr) e os 'subprime', (títulos derivados vinculados aos créditos imobiliários)", comentou o diretor-geral Michael Corbat.
Em Wall Street, o título subiu 3,66%, a 48,74 dólares, refletindo o alívio dos investidores diante da constatação de que o banco não está no vermelho, apesar das sanções.
O volume de negócios também foi superior às previsões: 19,3 milhões de dólares (uma queda de 5,6% em um ano), contra 18,93 milhões esperados, apesar da redução das atividades de corretagem.
Este acordo põe fim a vários meses de negociações entre o banco e as autoridades norte-americanas, que há tempos ameaçavam levar o Citigroup a um tribunal penal.
Mais de US$ 80 bilhões em multas
O banco havia proposto no início das negociações pagar 363 milhões de dólares, enquanto o Departamento de Justiça exigia 12 bilhões.
O Citigroup também é alvo de uma investigação do organismo regulador da bolsa, a SEC e o DoJ, por dois casos de fraude descobertos na filial mexicana, Banamex.
Em ambos os casos, o Banamex emprestou a duas empresas locais dinheiro que deveria servir para financiar dívidas com a estatal petroleira Pemex. Empresas para as quais o governo mexicano não concedia novos contratos.
O custo dessa fraude, avaliada em 235 milhões de dólares, obrigou o Citigroup a revisar seu balanço anual de 2013 para baixo.
No fim de março, o Federal Reserve (Fed) prejudicou o banco, rejeitando projetos de utilização de liquidez e invocando uma solidez financeira insuficiente para distribuir dividendos a seus acionistas.
Outros bancos também negociaram ou ainda negociam acordos com as autoridades norte-americanas em relação a créditos concedidos a devedores insolventes (subprime) e que se desvalorizaram muito com a crise do setor imobiliário.
Em 2013, o JPMorgan Chase aceitou pagar 13 bilhões de dólares para evitar um processo. O Bank of America continua negociando com as autoridades americanas, que exigem 17 bilhões de dólares, de acordo com a imprensa dos Estados Unidos.
Mais de dez bancos no país pagaram desde 2012 quantias acima de 80 bilhões de dólares em multas.