Grãos de soja em fazenda em Cuiabá: a CHS adquiriu 100 por cento da Atman, empresa situada em Goiás especializada em trocas de insumos por grãos (Paulo Whitaker/Reuters)
Da Redação
Publicado em 14 de dezembro de 2012 às 15h05.
São Paulo - Após concluir três importantes aquisições no Brasil ao longo de 2012, a multinacional do agronegócio CHS avalia ter preparado terreno para seguir no caminho de um crescimento forte na América do Sul e tem meta de dobrar a negociação de grãos e oleaginosas da unidade sul-americana no período de cinco anos, disse o principal executivo da companhia na região.
Com apenas dez anos de atuação no Brasil, a CHS --maior cooperativa de agricultores dos Estados Unidos-- encerrará 2012 com negociação de 4 milhões de toneladas de grãos nos dois principais produtores agrícolas da América do Sul (Brasil e Argentina) e um faturamento de 1,5 bilhão de dólares, ainda um montante pequeno perto do recorde de 40,6 bilhões de dólares em vendas totais registradas pela companhia neste ano.
Mas os planos da empresa, que usou o Brasil como porta de entrada no Mercosul, são ambiciosos para a região sul-americana.
"A CHS cresceu na América do Sul a 40 por cento ao ano (na movimentação de mercadorias) nos últimos cinco anos, e o nosso plano é continuar crescendo a 20 por cento ao ano nos próximos cinco anos, a partir de uma base que ficou maior", disse à Reuters Stefano Rettore, o presidente-executivo no Brasil e responsável pelas operações sul-americanas da companhia.
Com isso, a chamada "originação" de grãos na região passaria para 8 milhões de toneladas em cinco anos, um volume equivalente a cerca de 10 por cento da safra brasileira de soja esperada para a temporada 2012/13. A movimentação de fertilizantes saltaria dos atuais 300 mil para 1 milhão de toneladas --a propósito, o Brasil representou cerca de 70 por cento dos ganhos da CHS na América do Sul, negócios esses baseados principalmente na oleaginosa.
Após vender em 2011 sua participação na trading brasileira Multigrain por 225 milhões de dólares para a japonesa Mitsui, a CHS desenhou um plano estratégico para a região, com foco importante no avanço das operações no Cerrado brasileiro, e saiu às compras de ativos que pudessem possibilitar seus objetivos.
A empresa comprou neste ano 25 por cento de participação em um terminal de grãos em construção no porto de Itaqui (MA), que a partir de 2014 será um importante canal de escoamento de produtos da região Centro-Oeste e da crescente fronteira agrícola dos Estados do Maranhão, Piauí, Tocantins (conhecida como Mapito).
A CHS adquiriu 100 por cento da Atman, empresa situada em Goiás especializada em trocas de insumos por grãos ("barter") e levou também 50 por cento da Andali, com atuação forte no porto de Paranaguá (PR), especializada em logística, armazenagem e industrialização de fertilizantes.
Rettore, que coordenou desde o início as operações da CHS na América do Sul, não quis falar sobre o montante investido e no que está previsto para o futuro, mas garantiu que o volume, no longo prazo, superará o patamar obtido com a venda da fatia da Multigrain.
Um importante investimento previsto para 2013, por exemplo, será a expansão da misturadora de fertilizantes no porto de Paranaguá. Segundo o executivo, a capacidade da unidade será mais que dobrada, dentro dos planos da norte-americana para o segmento.
Com os investimentos da CHS, o objetivo é que a Andali passe a ter uma atuação mais nacional, avançando com unidades industriais em Mato Grosso e na região do Mapito, disse Rettore, sem dar muitos detalhes.
A empresa prevê também, para um futuro próximo, a construção de unidades armazenadoras de grãos em Mato Grosso, na região do Mapito --sendo a primeira no Piauí--, além de outra na Argentina.
Promover demanda global
Para fortalecer mais as operações regionais da CHS, o executivo disse que a multinacional --com atuação também no leste europeu além dos EUA-- está abrindo escritórios no Paraguai e Uruguai, países que são menores que Brasil e Argentina na produção agrícola, mas que poderão complementar bem as atividades da empresa na América do Sul.
Rettore aposta que a região, puxada pelo Brasil, permitirá que a CHS atenda à crescente demanda dos consumidores ao redor do mundo, pois será a de maior crescimento na "originação" de produtos agrícolas no planeta, tendo em vista seu potencial de crescimento.
"Os nossos clientes podem ficar tranquilos, a agricultura brasileira tem condições de atender a demanda. A disponibilidade de terras é imensa. Realmente o Brasil pode crescer muito nos próximos anos", disse o executivo, italiano que está há 12 anos no país.
Ele ressaltou que esse crescimento, no caso da soja, está mais rápido do que o projetado pela empresa. A companhia esperava uma safra de 90 milhões de toneladas da oleaginosa para 2018 no país, e o Brasil já poderá colher um recorde de 80 milhões em 2013, podendo ocupar o posto de primeiro produtor global, superando os EUA.
Com as perspectivas de crescente movimentação de mercadorias na América do Sul, a região, que hoje responde por 15 por cento do que a CHS movimenta, poderia ocupar uma posição de maior destaque para a empresa.
Após os investimentos de 2012, o executivo avalia que o crescimento será basicamente orgânico, mas ele não descartou novas aquisições "se o mercado proporcionar oportunidades".
"Vamos continuar olhando via fusões e aquisições, vai ser um crescimento orgânico acompanhado de aquisições." Outra novidade da empresa para 2013 é a entrada da CHS em negociações de etanol de cana no Brasil, área em que a companhia buscará uma posição de relevância, assim como tem no etanol de milho nos EUA. "A nossa operação vai ser baseada em comercialização e logística, não temos plano de investir em produção. Queremos ajudar as empresa brasileiras a terem acesso aos mercados globais, assim como podemos importar etanol dos EUA, quando houver necessidade", explicou.
Desafio logístico a CHS
identificou durante seu plano de negócios para o Brasil que entre os grandes desafios da agricultura local estão os gargalos logísticos, e por isso aposta no terminal do porto de Itaqui como um importante canal de escoamento da produção agrícola, numa alternativa aos tradicionais corredores.
"Estamos convencidos de que o futuro da exportação do Brasil vai passar pelo Norte", disse ele, justificando a estratégia da CHS e observando que os investimentos públicos anunciados e em curso deverão maturar em cinco a dez anos, alterando a realidade agrícola da região Norte e Nordeste. "Vai aumentar o fluxo de mercadorias e aumentar a área plantada", disse.
Enquanto isso não acontece, o executivo avalia que 2013 será um ano de "grandes desafios" para o setor, diante da esperada safra recorde de grãos. "O país vai trabalhar acima da capacidade", disse ele, lembrando que os tradicionais canais de escoamento do Sul do Brasil estão "atuando acima do limite, tanto na exportação de grãos quanto na importação de fertilizantes", o que acaba gerando despesas adicionais ao setor.