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China, Turquia, Iraque: o xadrez global que pesa nos resultados da BRF

A mesma demanda aquecida de exportação para o outro lado do mundo, porém, afeta sua operação brasileira

BRF: A BRF, bem como suas concorrentes, tem sido impactada pelo surto de febre suína africana na China (Germano Luders/Exame)

BRF: A BRF, bem como suas concorrentes, tem sido impactada pelo surto de febre suína africana na China (Germano Luders/Exame)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 8 de novembro de 2019 às 15h30.

Última atualização em 8 de novembro de 2019 às 16h48.

Para entender os resultados da BRF, é preciso olhar para longe. Mais especificamente, para a China, a Turquia e o Oriente Médio.

Uma das maiores produtoras globais de proteína, a empresa vive um bom momento, principalmente por causa de uma peste africana que está dizimando o rebanho suíno da China, responsável por mais da metade do consumo de carne de porco no mundo. A mesma demanda aquecida de exportação para o outro lado do mundo, porém, afeta sua operação brasileira, com impactos nas margens da companhia.

A receita da BRF alcançou 8,46 bilhões de reais, alta de 8,4%, e a empresa reportou lucro de 445,6 milhões de reais, contra prejuízo de 812,4 milhões de reais. 

Um avanço importante foi na margem bruta da companhia, de 24,8%, ante 17% reportado no mesmo trimestre do ano anterior. O mercado, porém, esperava um número maior, mais semelhante à alta de alguns anos atrás. "Isso mantém nossa preocupação em relação à sustentabilidade das margens da BRF nos níveis atuais, quando o ciclo começar a normalizar", afirmou o banco BTG Pactual em relatório.

Como resposta, as ações da empresa estão em queda de 2,6%.

Brasil

Desde o início do ano, a BRF busca aumentar os preços dos produtos vendidos no Brasil, depois de normalizar e diminuir os níveis de estoque altos de 2018. 

Com isso, as receitas da divisão brasileira cresceram 6,3% no trimestre, apesar da queda de 1,7% no volume. A margem bruta no Brasil foi de 24,6%, ante 21,1% no mesmo trimestre do ano anterior. 

Por outro lado, os volumes vendidos no país caíram 1% e a empresa perdeu participação de mercado, de 44,8% há um ano para 43,6% este trimestre. 

China

A BRF, bem como suas concorrentes, tem sido impactada pelo surto de febre suína africana na China, que dizimou os rebanhos do país e impulsionou as exportações dos frigoríficos brasileiros.

Dados recentes citados pela BRF apontam para reduções superiores à 40% no estoque de suínos, de matrizes e oferta de leitões no país. Com o maior abate de matrizes reprodutoras, o país deve levar mais tempo para se recuperar da crise, o que estende o efeito positivo para os frigoríficos brasileiros.

A China também está envolvida em uma guerra comercial com os Estados Unidos, o que diminuiu as exportações de carne dos EUA para o país asiático. Nesse cenário, os preços da carne de porco na China quase triplicaram em 12 meses. Na BRF, a receita no segmento internacional foi de 3,8 bilhões de reais, alta de 10,6% no terceiro trimestre do ano.

Para atender a demanda mais forte, a BRF tem habilitado mais plantas brasileiras para a exportação ao mercado chinês. No último trimestre, duas novas unidades, uma de abate de aves e uma de suínos, foram habilitadas para vender ao país, completando nove plantas da BRF.

O aumento da exportação de suínos para o mercado asiático tem um impacto grande para o Brasil. O preço por quilo dos suínos aumentou, o que fez com que muitos consumidores migrassem para o consumo de aves. O volume de suínos in natura caiu 6,3% no Brasil.

Turquia

A operação internacional também foi impactada pelos embates entre a Turquia e o Iraque. A BRF tem uma planta na Turquia, responsável por 40% das produções no mercado halal. Como 30% da produção no país é exportada principalmente para o Iraque, o fechamento parcial da fronteira com o Iraque afetou as vendas do país.

Essa restrição gerou excesso de oferta em alguns mercados do Golfo, o que resultou em queda de preços da ordem de 3,1% no ano, diz a empresa.

Para atender melhor o mercado da região do Golfo, a companhia anunciou há alguns dias um memorando de entendimento com a Sagia,  Saudi Arabian Government Investment Authority.

O objetivo é investir cerca de 120 milhões de dólares em uma planta na região, que representa um quarto do volume no mercado halal, para a produção de empanados, marinados, hambúrgueres e outros e com capacidade de 50 mil toneladas por ano. 

Apesar dos impactos nos preços e margens do curto prazo, a empresa realizou mudanças nos custos e nas dívidas que devem ser mais sustentáveis no longo prazo. Exemplos são a redução no nível de endividamento para 2,9 vezes e geração de caixa de 1,9 bilhão. 

A Corretora Guide afirmou, em relatório, que espera "uma continuidade dos resultados positivos para os próximos trimestres, em função da possível habilitação de novos frigoríficos para exportação para a China, manutenção de preços no mercado global em patamares altos, redução do endividamento e crescimento na geração de caixa".

A China, bem como as operações no Oriente Médio, devem continuar impactando os resultados da companhia.

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