Nissan: o executivo brasileiro está preso no Japão por suspeitas de desvio e fraude fiscal (Toru Hanai/Reuters)
EFE
Publicado em 15 de janeiro de 2019 às 11h12.
Paris - O diretor-geral da Nissan, Hiroto Saikawa, negou a existência de um complô forjado no seio do grupo japonês contra seu antigo "número 1", o brasileiro Carlos Ghosn, que está preso há quase dois meses, e garantiu que a aliança com Renault é "crucial" e que não fará nada para enfraquecê-la.
Em entrevista ao jornal econômico francês "Les Echos" publicada nesta terça-feira, Saikawa - que assumiu o controle da Nissan desde a prisão de Ghosn no Japão por suspeitas de desvio e fraude fiscal - considerou "absurda" a existência de um complô contra o executivo brasileiro.
Saikawa ressaltou que ele foi "o primeiro a ser surpreendido" pelo que a investigação interna deixou em evidência, que "é grave e antiético", e disse não tinha conhecimento dos rumores de que Ghosn pretendia se livrar dele.
Além disso, o CEO da Nissan reconheceu a qualidade do trabalho realizado pelo dirigente brasileiro em 20 anos para a recuperação da companhia: "Poucas pessoas no mundo teriam sido capazes de fazer o que (Ghosn) fez", disse.
Saikawa explicou que, na raiz de tudo, está sua decisão de fortalecer em 2017 o sistema de alertas interno para falhas em inspeções de certos modelos da Nissan, para permitir que os próprios funcionários denunciem anonimamente os problemas que existem na empresa.
O CEO disse que respeita "perfeitamente" a presunção de inocência, mas justificou a destituição de Ghosn como presidente da Nissan, uma decisão unânime do Conselho de Administração da companhia, por uma questão de ética tendo em vista o que foi descoberto.
Saikawa afirmou que entende o fato de a Renault não ter tomado a mesma decisão com base na presunção de inocência, pois não teve acesso ao conteúdo completo do dossiê de investigação, e se mostrou convencido de que, quando o Conselho de Administração da companhia francesa o tiver em mãos, "tirará a mesma conclusão que nós".
Ao ser perguntado sobre como foi possível que esses supostos comportamentos irregulares passassem despercebidos por mais de 10 anos, o executivo japonês afirmou que Ghosn tinha "grande prestígio", era "muito respeitado" na Nissan e acumulou muito poder, em parte também porque representava a Renault, o principal acionista da companhia japonesa.
"É um fator cultural que não justifica a falha de vigilância, mas que pode explicar porque não houve um alerta antes", argumentou o CEO.
Saikawa insistiu que a aliança com Renault representa "uma vantagem competitiva crucial" para as duas empresas e que jamais faria "qualquer coisa que pudesse prejudicar ou enfraquecer esta estrutura, muito pelo contrário".
O executivo japonês afirmou que não representa "nenhum problema" o fato de o Estado francês estar presente no capital da Renault, que, por sua vez, controla 43% das ações da Nissan, e disse que modificar a estrutura acionária "não é a prioridade do momento, em absoluto".
"O importante agora é estabilizar as coisas e trabalhar com confiança, e não saber se a Nissan deve poder exercer direito de voto na Renault", na qual, por sua vez, tem 15% de participação nas ações.
Para Saikawa, o que conta é o aspecto operacional da aliança. Sobre as questões relativas ao capital, isto será abordado "com tranquilidade" e não descartou a chegada de um quarto sócio depois que a Mitsubishi foi incorporada à aliança.
A entrevista foi publicada no mesmo dia em que a justiça japonesa rejeitou o pedido de libertação feito pela defesa de Ghosn, que seguirá atrás das grades pelo menos até 10 de março, caso um possível recurso não seja bem-sucedido.