(Rickey Rogers/Reuters)
Victor Sena
Publicado em 25 de fevereiro de 2021 às 11h21.
Última atualização em 26 de fevereiro de 2021 às 12h28.
Em apresentação na manhã desta quinta-feira sobre os resultados da Petrobras em 2020, o ainda presidente da estatal Roberto Castello Branco defendeu a política de preços com paridade internacional da empresa.
O modelo, que levou a diversos aumentos nos preços dos combustíveis nas últimas semanas, fez com que a relação de Castello Branco e o presidente Jair Bolsonaro se desgastasse e Bolsonaro decidisse pela troca do comando da companhia. O indicado é o atual presidente da Itaipu Binacional Joaquim Silva e Luna.
Pelo menos em público, o governo não defende o fim da autonomia da Petrobras para precificar os combustíveis e decidiu agir via impostos. Tanto o diesel quanto o gás de cozinha terão impostos zerados de forma provisória, enquanto o governo procura uma alternativa definitiva.
A política de paridade internacional é defendida por analistas do mercado financeiro e pelo próprio conselho da companhia, que já afirmou estar comprometido em cobrar por essa política.
O Conselho de Administração da Petrobras já aprovou uma assembleia que votará pela entrada de Joaquim Silva e Luna, mas o mandato de Roberto Castello Branco vai até o fim de março.
Ainda sobre o preço dos combustíveis, o presidente da companhia disse que se surpreende pelo assunto ainda despertar tanta polêmica:
O prejuízo a que o presidente se refere aconteceu durante os anos do governo da petista Dilma Rousseff, que forçou a empresa a usar seu caixa para compensar as altas nos combustíveis.
Roberto Castello Branco também defendeu a política porque a dívida da Petrobras é em dólar. Apesar de ter caído em 2020, como mostrou o balanço, ela ainda é considerada alta. Em 2019, a dívida bruta da companhia era de 87,1 bilhões de dólares e passou para 75,5 bilhões em 2020.
"Como se concilia obrigações em dólar com receita em reais se não fizermos a paridade?", questionou Castello Branco.
Sobre as críticas de que a Petrobras não é transparente na composição dos preços, o executivo afirma que a empresa já divulga o máximo do que pode ser divulgado. Além disso, é interesse da concorrência observar essa composição.
"Eu espero que chegue um dia em que o preço dos combustíveis deixe de ser relevante, como todos os outros preços da economia já são, até mesmo a taxa de juros do Banco Central".
O presidente também afirmou que, na comparação com outros países, o Brasil não tem combustíveis caros.
Dados da Global Petrol Price desta quinta-feira colocam os preços da gasolina no Brasil apenas na 113º posição. Segundo o ranking, o local mais caro do mundo é Hong Kong. No caso do Diesel, dados desta quinta-feira, o país está em 130º lugar.
Segundo o presidente, o Brasil não fica na lista dos países mais caros mesmo se o poder de compra da população entra na conta.
Com o objetivo de reduzir seu endividamento e focada na exploração de petróleo em águas profundas, a empresa vem se desfazendo de diversas frentes de negócios nos últimos dois anos, desde que o atual presidente, Roberto Castello Branco, assumiu a estatal.
Em 2019, a empresa abriu mão do controle da BR Distribuidora, uma das principais bandeiras de postos de gasolina do país. Diversos outros negócios estão na lista.
A atual gestão entende que a vocação da Petrobras é retirar petróleo de águas profundas, tecnologia que ela domina frente a outros países.
No relatório de resultados divulgado nesta quinta-feira, o presidente Castello Branco afirma que desde janeiro de 2019 foram concluídas 21 transações de vendas de ativos e 13 assinadas, que já geraram um montante de US$ 17 bilhões de entrada de caixa.
No momento, existem 50 ativos à venda em diferentes estágios em seus processos de desinvestimento, como refinarias.
Questionado sobre os planos futuros, inclusive sobre se o mercado ainda continua com interesse em comprar as refinarias, Castello Branco disse que não pode opinar sobre o que acontecerá, mas disse que torce para que as pessoas que ocuparão seu lugar façam uma boa gestão.
"Como brasileiro, cabe a mim torcer para que eles continuem num caminho virtuoso".
A Petrobras registrou lucro de R$ 59,8 bilhões no quatro trimestre do ano passado e fechou o ano de 2020 no azul, com lucro líquido de R$ 7,1 bilhões. O resultado é contrário à expectativa de prejuízo esperado pelos especialistas.
No ano, a receita foi de 272 bilhões de reais, com o último trimestre fechando em 74,9 bilhões.
Já o EBITDA foi de 112,8 bilhões de reais em 2020 e teve um resultado no 4º trimestre de 47 bi de reais.
A dívida líquida sobre o EBITDA caiu de 2,4 para 2,2 vezes. O indicador é importante para prever a capacidade da companhia de cumprir com seus compromissos financeiros, levando em conta seu EBITDA atual. Por ainda estar altamente endividada, o indicador é acompanhado de perto pelo mercado