Mercado: saída de linha deverá acontecer até o fim deste ano (Honda/Divulgação)
Gabriel Aguiar
Publicado em 2 de agosto de 2021 às 13h22.
Última atualização em 2 de agosto de 2021 às 13h47.
Neste ano, o mercado brasileiro já disse adeus a alguns modelos — como Ford EcoSport e Ka; Chevrolet Montana; Citroën C3; Toyota Etios; e Volkswagen Up!. Só que essa lista ainda não acabou, e, de acordo com o Mobiauto, mais veículos deverão ser aposentados até o fim deste ano, seja pela preferência dos clientes, seja pelas novas regras de emissões de poluentes (Proconve L7) para 2022.
Durante a pandemia, a Anfavea, que representa fabricantes de veículos, luta pelo adiamento das novas normas ambientais. E nem seria o primeiro atraso motivado pela própria indústria: controle eletrônico de estabilidade; luzes diurnas de LED; aviso de cintos de segurança desafivelados; e testes de impactos laterais foram todos postergados pelo governo e começarão a valer em três anos.
“Quando surge o boato de que um veículo vai sair de linha e existe grandes chances de ser confirmado, existe uma reação do mercado. Nesse caso, todos costumam pagar menos, já que não existe proteção para isso. E quem sofre com isso é o cliente. Por isso, quando esse boato é sustentado, a desvalorização ocorre e não há o que fazer”, diz Cássio Pagliarini, especialista da Bright Consulting.
Esse nome remete ao modelo lançado por aqui em 1984 e que, desde então, só recebeu uma mudança profunda em 2010. Se chegou a ser o carro mais vendido do Brasil — inclusive, é o líder histórico dentro da própria marca e o vice de todos os tempos aqui —, agora, resta apenas uma versão no mercado. Mas, nos últimos anos, o Uno acabou focado em empresas, sinalizando um fim próximo.
É inegável a importância do Fit para a história do fabricante no país. Mas o segmento de monovolumes, no qual o modelo faz parte, tem perdido cada vez mais espaço para hatches e SUVs. Além disso, já está prevista a chegada de um substituto que será fabricado aqui — novo City hatch — que ocupará o mesmo espaço no mercado. Como resultado, o Honda de entrada já tem caído em vendas.
O primeiro híbrido da marca japonesa chegou ao mercado brasileiro em 2013. E, naquele momento, já tinha mais de uma década de história nos Estados Unidos. Desde então, perdeu espaço por aqui: a empresa lançou o Corolla eletrificado feito no Brasil — e com direito ao inédito motor flex, que pode ser abastecido com gasolina e etanol —, além do SUV Rav4. Com isso, o importado Prius perdeu espaço.
Esse modelo chegou às lojas como sucessor do Gol. Não deu certo. E assim o Fox precisou se reinventar: ganhou mais equipamentos de série, desenho alinhado aos veículos vendidos no mercado europeu e até motorização mais moderna. Se as vendas seguem com bom nível, a aposentadoria deverá ser decretada pelas mudanças nas normas de emissões e pela chegada de novas versões do Polo.
Outra opção que perdeu destaque dentro do próprio fabricante foi o sedã do Gol. Afinal, quase não teve mudanças significativas desde o lançamento, em 2008 — exceto por atualizações no desenho. E, além do motor desatualizado em relação à futura regra do Proconve L7, falta controle eletrônico de estabilidade, ambos já presentes no Virtus, que ocupa esse mesmo segmento (e é mais moderno).
“Desvalorização dos carros que saem de linha depende da vida do próprio modelo. Isso porque, veículos que tiveram vida sólida, com histórico de robustez e economia, perdem menos valor e desvalorizam até 5% mais que o mercado. E veículos com problemas mecânicos, por exemplo, têm depreciação maior, de até 25% quando comparado aos modelos que continuam à venda”, afirma Pagliarini.
De acordo com o especialista em mercado automotivo, essa questão é relativa. Para quem já pretendia substituir o carro — o que costuma acontecer em ciclos de quatro a cinco anos, quando é feita a troca de pneus e componentes caros, como freios e embreagem — o melhor é assumir a desvalorização. Mas, no caso de manter, o ideal é manter o carro, já que os impactos costumam ser imediatos.
Para Cássio Pagliarini, o risco de ficar sem peças é minimizado pelo fato de boa parte dos componentes ser produzida por fornecedores. Além disso, existe algo chamado all time run, que garante a vida de pelo menos dez anos caso haja necessidade de trocas. No caso de modelos que saíram de linha, o maior risco é para componentes específicos, como latarias e alguns itens de acabamento.
“Quando a Ford parou de produzir no país, disse que fabricaria componentes para estoque e reposição. É justamente isso. No caso do VW Fusca ou outros carros que tiveram vendas muito boas, por exemplo, ainda existem componentes disponíveis. Em compensação, alguns que tiveram histórico ruim, nenhum fornecedor se interessa em produzir, já que o volume foi baixo”, diz o especialista.
Procurada, a Fiat afirma que a produção do Uno continua normalmente em Betim (MG). No caso de Honda e Volkswagen, ambos os fabricantes dizem não comentar planos futuros em relação ao mercado. Por fim, a Toyota alega não trabalhar nas vendas do Prius desde a chegada do Corolla Hybrid, mas que o modelo segue oferecido sob encomenda e que, por ora, não há planos para sair de linha.