Caixa: “Nosso plano é que o nível fique entre 25 e 50 por cento, se possível 25 por cento”, disse Occhi (Nadia Sussman/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 15 de julho de 2016 às 10h26.
São Paulo - A Caixa Econômica Federal está negociando com o Tesouro Nacional reduzir o percentual dos lucros que repassa à União para o piso estatutário de 25 por cento, disse o presidente-executivo do banco estatal, Gilberto Occhi.
A medida visa fortalecer o capital do banco estatal, enfraquecido após anos de crescimento acelerado e de baixa rentabilidade, mas pode complicar ainda mais o esforço fiscal da União.
“Nosso plano é que o nível fique entre 25 e 50 por cento, se possível 25 por cento”, disse Occhi em entrevista à Reuters.
Apontado no final de maio para o comando do banco pelo governo interino de Michel Temer, Occhi disse estar ciente de que, após vários anos de crescimento acelerado do crédito, o banco estatal agora tem que cuidar de reforçar o capital e melhorar a geração de resultados.
“Todos os objetivos traçados lá atrás em termos de crescimento foram alcançados”, disse Occhi. “Agora temos cerca de 22 por cento do mercado de crédito e o compromisso da minha gestão é elevar a rentabilidade do banco.”
Nos últimos anos, a Caixa vinha repassando integralmente os lucros para a União, que por outro lado vinha fazendo sucessivos aportes de recursos no banco para sustentar o ritmo de crescimento dos empréstimos.
Com isso o banco, que há menos de uma década era o sétimo no ranking de instituições financeiras do país por ativos, chegou à vice-liderança no começo deste ano.
Como parte da ênfase agora para melhorar os resultados, a Caixa criou recentemente uma diretoria exclusiva para concentrar os esforços de cobrança e renegociação de dívidas, com objetivo de estabilizar já nos próximos trimestres os índices de inadimplência.
“Os resultados dessa iniciativa vão aparecer muito breve”, disse.
Embora níveis de inadimplência da Caixa sejam inferiores à média do mercado, dado que mais de 80 por cento da carteira está atrelada a operações de menor risco como habitação e consignado, o índice de atrasos acima de 90 dias atingiu no primeiro trimestre o pico em sete anos, movimento que disparou as provisões para calotes e fez o lucro cair 46 por cento sobre um ano antes.
O banco também majorou nos últimos meses suas taxas de juros e elevou as tarifas à média do mercado.
Um dos caminhos que o banco tem buscado para tentar reduzir a pressão sobre o capital, a venda de carteiras com maiores níveis de inadimplência, no entanto, foi suspenso em maio, devido a questionamentos do Tribunal de Contas da União (TCU). Occhi disse que somente depois de resolver as pendências com o TCU retomará a venda de carteiras.
No balanço do segundo trimestre, além de lidar com o peso da deterioração da qualidade dos empréstimos, a Caixa ainda terá dois eventos não recorrentes negativos.
Um deles é a marcação a mercado dos cerca de 1,9 bilhão de reais em debêntures da Oi, que pediu recuperação judicial. O outro é um aporte de valor não revelado para perdas sofridas pelo Funcef, fundo de previdência dos empregados da Caixa, em 2015.
“Mas não existe nenhuma hipótese de termos prejuízo no trimestre”, garantiu Occhi.
PARCERIAS Occhi disse que a Caixa também deve ver sua rentabilidade aumentar com a expansão de negócios nos quais pretende vender participações, como o de seguros, concentrado na Caixa Seguridade.
A Caixa tentou vender uma fatia do negócio por meio de uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) no ano passado, mas a operação foi suspensa devido às condições adversas do mercado, diante de um país mergulhado em uma profunda crise econômica e política.
“Pretendemos retomar o contato com bancos de investimentos nas próximas semanas para retomar a operação na próxima janela de mercado que, esperamos, aconteça no final deste ano ou no começo do próximo”, disse na mesma entrevista o presidente-executivo da Caixa Seguridade, Raphael Rezende.
O Banco do Brasil é um dos bancos com mandato para coordenar o negócio.
A Caixa também pretende começar nos próximos meses um road show à procura de um sócio majoritário para a Lotex, braço de negócios de gere o negócio de loterias instantâneas.
O passo seguinte será buscar sócio para a divisão de cartões, negócio que está numa fase mais incipiente de preparação, disse Occhi, afirmando que, por enquanto não há planos para venda de nenhum outro ativo.