No Cade, o relator original do processo, conselheiro Carlos Ragazzo, não compartilhou do entusiasmo e manteve sua posição contrária à fusão das empresas (Raul Júnior/Você S/A)
Da Redação
Publicado em 15 de julho de 2011 às 11h35.
Brasília - Apesar de ter sido o grande articulador do acordo promovido entre o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e a BR Foods (BRF), que garantiu a manutenção da fusão das empresas Sadia e Perdigão, o conselheiro Ricardo Ruiz reconhece que só saberá se a decisão tomada anteontem foi a correta dentro de alguns meses.
Pelo acordo, costurado ao longo dos últimos 30 dias, a BRF terá que vender um pacote de ativos que inclui 12 marcas menores, dez fábricas, oito centros de distribuição, quatro abatedouros, quatro fábricas de ração, 12 granjas de matrizes de frangos e dois incubatórios de aves. É o sucesso dessa venda que poderá dar a tranquilidade ao conselheiro negociador sobre o acerto de sua decisão.
Ruiz conseguiu convencer três colegas sobre os benefícios do caminho negociado com os executivos da BRF. Mas o relator original do processo, conselheiro Carlos Ragazzo, não compartilhou do entusiasmo e manteve sua posição contrária à fusão das empresas. Afinal de contas, a BRF manteve 87% de seu faturamento total e 78% das vendas no mercado interno.
"Ragazzo disse que não sabe se o acordo solucionará o problema, e é verdade. Do que dependerá isso? Dependerá da noiva", reconheceu Ruiz em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, referindo-se ao pacote de ativos que representam uma produção de alimentos processados da ordem de 730 mil de toneladas por ano.
Para Ruiz, a grande preocupação agora é saber se todos esses negócios serão transferidos para alguém com capacidade para se tornar um vice-líder de verdade nesse mercado. "Estamos atentos e nervosos em relação à noiva, pois ela tem que ser bonita", disse o conselheiro.
Até a venda, cabe à empresa preservar as marcas, a produção e as respectivas fatias de atuação no mercado. "O Cade está preocupado hoje em não deixar isso degradar: não ter capacidade produtiva ineficiente, não ter contratos rompidos, queda de produção das marcas, dos mercados. Estamos olhando isso com muita cautela", garantiu.
Se a BRF não atuar dessa forma, "vai dar problema", segundo Ruiz. Ele lembrou que, além de multas, o conselho poderá mudar de opinião e reverter a operação no caso de descumprimento do acordo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.