Um dos exemplos de que a entrada de uma nova empresa é inviável é o de produção de empanados de frango (Germano Lüders/EXAME)
Da Redação
Publicado em 8 de junho de 2011 às 15h32.
Brasília - O relator do processo BRF Brasil Foods no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Carlos Ragazzo, afirmou hoje que a entrada de novas empresas nesse mercado para concorrer com a companhia resultante da fusão de Sadia e Perdigão é incerta em alguns casos e inviável em outras. "As únicas empresas que tinham condições de rivalizar entre si eram justamente Sadia e Perdigão", disse o relator.
Segundo ele, a autarquia fez um estudo para mapear essa possibilidade, mas os números não foram divulgados. O levantamento leva em conta os custos de entrada e a quantidade de vendas estimadas, o que, muitas vezes, não são compatíveis, conforme Ragazzo.
Um dos exemplos de que a entrada de uma nova empresa é inviável é o de produção de empanados de frango e, no caso de incertezas, o segmento de lasanha. "Não é à toa que qualquer concorrente não logrou obter market share relevante", considerou. Até porque, disse o relator, as empresas que decidam fazer parte desse mercado precisarão "brigar" com empresas de grande participação no mercado e atuantes há muitos anos no setor.
Além disso, Ragazzo afirmou que houve superestimação do lucro das empresas entrantes pela Sadia e a Perdigão e que o custo de propaganda também foi subestimado por essas companhias que pleiteiam se unir. Para ele, não há dúvidas de que as tentativas de ingresso de novas empresas na área resultaram em insucesso. "Poucas são capazes de absorver mercado. Nos últimos anos, não foram suficientes."
Capacidade
O Cade avaliou a capacidade ociosa das concorrentes da BRF. Isso porque, segundo Ragazzo, se a fusão gerar um aumento de preços para o consumidor final, apenas haverá migração do consumidor para concorrentes se houver capacidade ociosa nessas empresas. "Se não tiverem como produzir mais, não haverá como ampliar a oferta de produtos", considerou.
A capacidade ociosa da análise não foi apresentada para os participantes da sessão porque os dados são confidenciais. Apenas os conselheiros tiveram acesso aos números. Após citar esse item, porém, o relator considerou que as alegações da BRF de que novas empresas possuem capacidade de entrar no mercado "não são factíveis e sólidos o suficiente".
Perus
Dando continuidade nas argumentações contrárias aos principais pontos apresentados pela Sadia e Perdigão na defesa da união de suas operações, o conselheiro relator do Cade afirmou que há concentração da companhia no mercado de carne in natura de perus. Segundo ele, ainda na leitura de seu voto, as empresas apresentaram que as duas companhias teriam cerca de 20% da fatia desse mercado e que a principal concorrente da companhia seria a Marfrig.
"Isso é discrepante, senão a Marfrig teria que ter quase a totalidade dos abates de perus", disse o relator, ressaltando que a Marfrig informou que não tem capacidade ociosa nessa operação, o que fica mais difícil de competir com as rivais. Na avaliação dele, a participação de mercado da companhia no mercado de perus, é de 70%.
Ragazzo também explicou que antes de 2009, atuavam no mercado Sadia, Perdigão e Doux Frangosul, essa última com participação pouco relevante. Após a compra das operações da Doux pela Marfrig, em junho de 2009, houve somente a substituição de controle, ficando a Marfrig com a participação pequena de mercado. "Sem fusão - e isso acontecia antes -, a Sadia contestava preços da Perdigão e vice-versa e agora, se houver a fusão, não haverá poder de rivalidade nesse mercado, já que se configurará um duopólio de mercado", declarou o relator.
Já no abate de aves e suínos, o Cade identificou uma participação de mercado da Sadia e da Perdigão acima de 20% e em bovinos, a fatia das companhias é pouco relevante, já que a empresa não realiza abates próprios. "Não há dúvidas de que se trata de um ato de concentração de magnitude incomum", declarou Ragazzo.
Voto
A leitura do voto do relator do caso BRF Brasil Foods no Cade, Carlos Ragazzo, deverá se estender até as 19 horas de hoje, segundo uma fonte da autarquia. "Após a leitura não é possível fazer estimativas, porque não sabemos o desfecho do caso", disse a fonte. Esse comentário leva em conta a possibilidade de algum conselheiro pedir vista do processo, o que automaticamente suspende a continuidade da sessão.