Os bancos brasileiros estão superando seus rivais estrangeiros no financiamento de transações (Julio Bittencourt)
Da Redação
Publicado em 3 de janeiro de 2012 às 16h46.
São Paulo - O BTG Pactual foi quem mais prestou consultoria para fusões e aquisições envolvendo empresas brasileiras em 2011, no segundo ano consecutivo na liderança, com bancos de investimento locais superando rivais estampeiros ao abocanhar os acordos mais lucrativos na região.
O banco controlado por André Esteves assessorou 52 negociações, totalizando 24,05 bilhões de dólares, segundo dados preliminares da Thomson Reuters. O Itaú BBA ficou em segundo lugar, com 38 acordos, no valor de 23,02 bilhões de dólares.
Diferentemente de seus pares em outras nações emergentes, os bancos brasileiros estão superando seus rivais estrangeiros no financiamento de transações, consolidando relações mais fortes com seus clientes e estabelecendo redes de distribuição similares às de bancos globais.
Sua liderança também mostra como a confiança de investidores no Brasil têm aumentado, mesmo com um agravamento da aversão ao risco frente à crise da dívida na Europa. Apesar de uma queda na atividade deste ano, que provocou um declínio de 35 por cento no valor das negociações, as companhias veem cada vez mais o Brasil como uma fonte de crescimento.
"Investidores permanecem muito interessados no Brasil", disse Marco Gonçalves, diretor da divisão de fusões e aquisições do BTG Pactual. "As condições do mercado não nos impediram de fechar nenhum acordo".
Cerca de 78,64 bilhões de dólares em negociações foram anunciados no Brasil neste ano até 30 de dezembro, o que representa uma queda em relação aos 120,61 bilhões de dólares do ano passado. O número de operações, no entanto, atingiu 745, contra 698 transações em 2010.
Profissionais do setor financeiro esperam uma recuperação na atividade de fusões e aquisições em 2012, conforme empresas de varejo, bens de consumo e infraestrutura ganham escala e musculatura financeira ao fechar parcerias com rivais, afirmou Gonçalves.
Empresas de private equity, que levantaram mais de 5 bilhões de dólares para investimentos no Brasil neste ano, também podem ajudar a impulsionar uma recuperação, disse Jean-Marc Etlin, diretor de investment banking no Itaú BBA.
"Essas empresas estão procurando ativos estratégicos, o que pode se traduzir em mais negociações", disse Etlin à Reuters recentemente
. Três em cada quatro acordos de fusões e aquisições liderados por empresas de private equity na América Latina ocorreram no Brasil neste ano, afirmou o grupo industrial LAVCA em agosto.
Contudo, a desaceleração da economia brasileira e mudanças recentes na legislação antitruste também podem abrandar a atividade de fusões e aquisições no ano que vem, apontou Gonçalves, do BTG Pactual.
De acordo com mudanças aprovadas este ano, os órgãos reguladores antitruste devem aprovar os acordos antes de sua divulgação.
Apesar da desaceleração e de uma possível queda no valor obtido pelos bancos com a atividade reduzida, as instituições locais e estrangeiras continuaram apostando em bancos de investimento como uma fonte estável de lucros. Tal quantia superou o marco de 1,1 bilhão de dólares no Brasil em 2010.
Brasil: um caso raro? O sucesso dos bancos domésticos no Brasil contrasta com as dificuldades de instituições locais na China e em outros grandes mercados emergentes.
BTG Pactual, Itaú BBA e Bradesco BBI, que ficou na sétima posição do ranking deste ano, participaram de 112 de 235 negociações lideradas por consultores financeiros.
Na China, onde houve 504 acordos, o CITIC e o China International Capital -únicos bancos locais entre os dez maiores assessores- ficaram com apenas 42 acordos.
"Temos plataformas de distribuição e produção tão boas quanto as vistas internacionalmente", disse Sérgio Clemente, vice-presidente sênior que dirige o Bradesco BBI. "Nesse sentido, o Brasil não é um caso de estudo típico de bancos de investimentos".
O Itaú e o BTG Pactual querem replicar seu sucesso doméstico ao expandir-se pela América Latina. O BTG está concluindo a aquisição do chileno Celfin Capital, enquanto o Itaú BBA está aguardando aprovação regulatória na Colômbia para estabelecer uma unidade no país.
Credit Suisse e Goldman Sachs - O Credit Suisse ficou em terceiro no ranking, após participar de 32 acordos no valor de 18,04 bilhões de dólares. O Goldman Sachs, maior assessor mundial em 2011 segundo a Thomson Reuters, ocupou a quarta posição no Brasil, após assessorar 19 acordos totalizando 17,07 bilhões de dólares.
O Bank of America Merril Lynch ficou no quinto lugar, após assessorar nove transações, somando uma quantia de 15,92 bilhões de dólares.
Executivos do Credit Suisse, que conquistou participação na maioria das vendas de ativos e acordos de fusões e aquisições no Brasil na última década, associam a recuperação no setor a uma solução para a crise europeia.
"Há muito capital estacionado, esperando ser alocado, pendente em relação aos desdobramentos da situação na Europa", disse José Olympio Pereira, co-diretor de investment banking do Credit Suisse no Brasil.