Leader: mesmo que loja seja vendida por R$ 300 milhões (valor considerado alto por especialistas), BTG ainda teria prejuízo na transação (Fabio Motta)
Da Redação
Publicado em 1 de março de 2016 às 18h41.
São Paulo - O BTG mudou a administração de um de seus investimentos em private equity (compra de participações e em empresas) mais problemáticos.
O jornal "O Estado de S. Paulo" apurou que a partir de quarta-feira, 2, a consultoria Alvarez & Marsal, especialista em gestão de empresas com graves problemas financeiros, está assumindo o comando da empresa.
Três executivos escolhidos pela Alvarez & Marsal para reorganizar a operação vão começar a renegociar contratos com fornecedores já na Gift Fair, feira do setor de utilidades domésticas e presentes que começa nesta semana.
A situação da empresa é bastante delicada, de acordo com fontes de mercado. O endividamento total, de cerca de R$ 1 bilhão, é alto demais em comparação à receita. A empresa precisaria de um empréstimo vultoso - de aproximadamente R$ 200 milhões - para continuar a operar.
O dinheiro, informou a fonte, viria do próprio BTG e se somaria aos débitos da companhia. O executivo Leonardo Coelho, da Alvarez & Marsal, assumirá a presidência da companhia.
No passado, a consultoria já assumiu a gestão de empresas como OGX (de Eike Batista) e da Alumini Engenharia (envolvida nas investigações da Operação Lava Jato).
Em paralelo à mudança de comando, o BTG negocia a venda da Leader ao advogado especialista em recuperações Fábio Carvalho.
Carvalho é conhecido por comprar empresas com forte endividamento: ele assumiu, por exemplo, as operações da Casa & Vídeo, varejista do Rio de Janeiro, e da Bravante (ex-Brasbunker), de construção e reparo de embarcações para o setor de óleo e gás.
Carvalho assumiu a Bravante em meados de 2015, após o BTG decidir se desfazer do negócio. Um acordo com Carvalho ou com outro comprador seria uma condição para que o BTG libere o empréstimo de urgência que a Leader precisa, apurou o jornal.
Qualquer que seja o valor de venda da Leader - o mercado fala em cerca de R$ 300 milhões, mas fontes dizem que o montante é alto demais, considerada a situação atual do negócio -, o BTG deverá ter um forte prejuízo com a varejista.
O investimento do banco em uma fatia de 70% da rede superou a marca de R$ 1 bilhão, em 2012.
O grande desafio da Leader é recuperar-se em um momento difícil para o varejo. Empresas de eletrodomésticos têm registrado quedas superiores a 10% nas vendas em relação aos 12 meses anteriores, enquanto empresas de cama, mesa, banho e moda também têm visto suas vendas no vermelho.
A Leader, que se tornou uma "mistura" dos dois segmentos desde que foi vendida ao BTG, deve voltar às origens e focar em confecções, artigos para a casa e eletroportáteis.
A Seller, bandeira paulista que também faz parte do grupo Leader, voltaria a focar sua atuação em cama, mesa e banho.
Como geralmente ocorre em empresas em dificuldades, a recuperação ainda enfrenta desafios para sair do papel.
A família proprietária da bandeira Seller - que chegou a pedir a falência da Leader no fim de 2015, alegando que o BTG deveria R$ 150 milhões de uma parcela da compra do negócio, fechada em 2012 - não estaria disposta a esperar para receber o valor.
O objetivo da recuperação seria colocar a Seller na lista de credores da Leader. A família já teve uma decisão desfavorável na Justiça em relação ao pedido de falência, pois o contrato de venda assinado com a Leader previa que, antes de recorrer ao judiciário, a questão de atrasos de pagamentos deveria ser mediada em arbitragem.
Segundo apurou o jornal, o BTG entende que não é afetado pelo contrato com a Leader. Apesar de ser o controlador do negócio, o banco não poderia ser acionado como garantidor do valor a ser repassado à Seller.
Pelo menos por enquanto, a Alvarez & Marsal deverá evitar o caminho da recuperação judicial da Leader - já que, com o BTG como principal acionista da empresa, a negociação seria difícil com os credores, que dificilmente serão convencidos que o banco, apesar das dificuldades que enfrentou desde a prisão de André Esteves, seu ex-controlador, não possa arcar com os débitos.
Procurados, Alvarez & Marsal e BTG não comentaram o assunto.