Atacarejo do Assaí: no início de julho, o GPA publicou forte crescimento de receita, apesar da greve dos caminhoneiros ter atingido 0,7% do total das vendas do grupo (Paulo Whitaker/Reuters)
Reuters
Publicado em 23 de julho de 2018 às 10h08.
Última atualização em 23 de julho de 2018 às 10h11.
São Paulo - Os resultados trimestrais de empresas de setores que vão de proteína animal a shoppings centers, como BRF e JBS, serão permeados pelos efeitos da greve dos caminhoneiros que deixou o país paralisado durante 11 dias no final de maio.
Como resultado da greve, cerca de 167 fábricas do setor de carnes pararam as operações, causando 3 bilhões de reais em prejuízos para empresas processadoras de carne suína e de frango, segundo estimativas da associação que representa o setor, ABPA.
Isso veio em cima da decisão do governo brasileiro de suspender a exportação de algumas unidades da BRF e da proibição da União Europeia de importação de alguns produtos de carnes brasileiros que assustaram os investidores.
"Para o segundo trimestre, esperamos que a maior parte destas companhias, especialmente a BRF, mas também a JBS , mostrem pressões sobre as margens na comparação anual", disse Benjamin Theurer, analista do Barclays, na Cidade do México.
Apesar da greve ter durado menos de duas semanas, os efeitos colaterais duraram muito mais tempo, acrescentou Theurer, com as filas de navios esperando para entrar nos portos recuando lentamente.
Mais abaixo na cadeia de suprimentos, varejistas de alimentos como o GPA e o Carrefour Brasil, que pertencem respectivamente aos franceses Casino Guichard Perrachon SA e ao Carrefour SA, também sentirão o impacto.
Já analistas do BTG Pactual estimam que o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) da BRF caia cerca de 32 por cento na comparação anual.
"Produtos de alta rotatividade, commodities, produtos que vencem praticamente diariamente, foram atingidos pela greve de duas semanas", disse Rogerio Soares, sócio na Eneas Pestana & Associados, uma das principais consultorias em varejo do Brasil.
Uma série de outros setores expostos ao varejo, como operadores de shopping centers, que incluem BR Malls Participações e Iguatemi, também deve mostrar efeitos da paralisação dos caminhoneiros nos resultados.
Nem tudo foi ruim
O cenário macroeconômico, no entanto, não foi totalmente negativo no segundo trimestre.
Em antecipação ao início da Copa do Mundo da Rússia, as vendas de uma série de setores, incluindo cervejarias como a Ambev e a rede de móveis e eletrodomésticos Magazine Luiza, subiram.
Além disso, algumas companhias viram efeitos positivos da greve dos caminhoneiros.
A proibição de exportações de carne de aves para a UE levou a políticas de preços extremamente agressivas no mercado doméstico. Mas a greve dos caminhoneiros reduziu a oferta das granjas que se viram forçadas a abater milhões de animais, reduzindo a pressão de sobreoferta no mercado interno, disse Theurer, do Barclays.
No início de julho, o GPA publicou forte crescimento de receita, apesar da greve dos caminhoneiros ter atingido 0,7 por cento do total das vendas do grupo. O desempenho foi apoiado pela bandeira de atacarejo Assaí.
Conforme muitas companhias de alimentos e bebidas não conseguiram entregar seus produtos diretamente aos clientes como resultado da greve, estes clientes recorreram às lojas de atacarejo.
"As lojas de atacarejo ajudaram a preencher este vácuo", disse Soares.