Braskem: a queda seria ainda maior não fosse a intensificação no México (Germano Lüders/EXAME)
Da Redação
Publicado em 7 de maio de 2015 às 14h05.
São Paulo - A petroquímica Braskem vai reduzir o ritmo dos investimentos em 2015. A companhia estima desembolsar R$ 2,135 bilhões neste ano, montante 15% inferior ao realizado no ano passado.
A queda seria ainda maior não fosse a intensificação dos investimentos no México, onde serão desembolsados R$ 819 milhões.
No ano passado, o projeto mexicano Etileno XXI recebeu R$ 620 milhões. Excluindo o efeito México, portanto, o investimento em 2015 soma R$ 1,316 bilhão, 31% menor do que aquele realizado no ano passado.
A maior parte dos recursos excluindo o México, ou 85% do total, será direcionada a investimentos relacionados a manutenção, produtividade, SSMA (saúde, segurança e meio ambiente) e eficiência operacional.
OS 15% restantes serão destinados a outros projetos estratégicos, "como o investimento para produção de UTEC nos EUA e os estudos relacionados a demais projetos estratégicos de expansão", informou a empresa.
A Braskem investiu R$ 528 milhões no primeiro trimestre de 2015, dos quais R$ 282 milhões (53% do total) no México.
De acordo com a Braskem, a redução no ritmo dos investimentos em 2015 reflete a inexistência de atividades de manutenção programadas para o ano, salientou o presidente Carlos Fadigas.
"No ano passado tivemos duas paradas, e neste ano não teremos nenhuma. Este deve ser, inclusive, o último ano em que não teremos paradas. Queremos sincronizar as paradas das duas linhas da Bahia, as duas linhas do Rio Grande do Sul e as linhas de São Paulo e Rio de Janeiro", afirmou Fadigas durante coletiva de imprensa.
Em relação ao projeto fluminense, único abastecido com gás natural, Fadigas revelou que o abastecimento do insumo, feito pela Petrobras, voltou a enfrentar problemas no primeiro trimestre.
Projeto mexicano
A Braskem informou ainda que o custo de construção do complexo Etileno XXI, no México, teve um acréscimo de aproximadamente US$ 600 milhões, a serem suportados pelos sócios.
Com isso, o valor do projeto salta dos anteriores US$ 4,5 bilhões para aproximadamente US$ 5,2 bilhões. O montante inclui capex, inflação, contingências, juros, necessidade de capital de giro e constituição de reservas.
Segundo Fadigas, esse aumento é explicado pela decisão de instalação de uma turbina a gás, que tornaria o projeto praticamente autossuficiente em energia.
A usina teria capacidade de 150 MW, sendo que entre 10% e 20% da energia gerada poderia ser injetada na rede local.
Como a Braskem detém 75% do consórcio formado com a mexicana Idesa, a petroquímica brasileira terá que desembolsar mais US$ 450 milhões no projeto.
Os investimentos da Braskem no México somarão US$ 300 milhões neste ano. Os US$ 150 milhões restantes, informou a companhia, serão aportados no início de 2016.
O complexo atingiu 92% do progresso físico e as atividades de pré-comissionamento do complexo já foram iniciadas. Elas "avançam dentro do cronograma esperado", segundo a Braskem.
O polo petroquímico terá capacidade para produzir 1,05 milhão de toneladas de polietilenos por ano.
Resinas
Fadigas afirmou também que o aumento de 6% da demanda doméstica por resinas (polipropileno, polietileno e PVC) no primeiro trimestre deste ano não altera a previsão da companhia, de que o resultado do mercado local acompanhará a trajetória do Produto Interno Bruto (PIB).
Isso significa que a alta no acumulado anual deve ficar próxima a zero, com potencial para cair para a casa de 1% se o desempenho da economia for mais fraco do que o previsto inicialmente.
O forte resultado do primeiro trimestre, segundo Fadigas, é explicado por uma concentração atípica de compras no período. "O número trouxe as vendas postergadas do quarto trimestre de 2014, quando os preços do petróleo estavam em queda e os clientes seguraram as compras, e vendas antecipadas do segundo trimestre deste ano", afirmou Fadigas durante coletiva de imprensa que acontece neste momento.
A antecipação de compras no primeiro trimestre é explicada pela trajetória de aceleração do dólar, o que levou os clientes a intensificarem as compras de forma a evitar custos mais altos refletindo os valores mais elevados, em dólar, das resinas vendidas no Brasil.
"A expectativa (de demanda) para o ano não mudou, ainda esperamos um crescimento nulo, talvez até com queda de 1%", pontuou Fadigas.
No primeiro trimestre, a Braskem identificou um momento mais adverso principalmente entre os fabricantes de bens duráveis.
Nafta
Fadigas afirmou que a diretoria da petroquímica participa de reuniões constantes com a Petrobras e com a Chesf para resolver as situações de fornecimento de nafta e de energia.
O contrato de nafta com a Petrobras tem sido renovado a cada seis meses desde o início do ano passado e, no caso da Chesf, o atual contrato de fornecimento de energia se encerra em menos de dois meses.
"Temos um grupo de trabalho formado, se reunindo semanalmente, para definir a situação da nafta. Participam deste grupo a Petrobras, a Braskem, os ministérios do Desenvolvimento, de Minas e Energia e da Fazenda, além do BNDES e dos governos da Bahia, do Rio Grande do Sul e de São Paulo, onde temos centrais abastecidas com nafta", disse Fadigas.
No caso das negociações com a Chesf, Fadigas afirmou que há uma "proposta na mesa" que prevê a criação de um fundo que financiaria novos projetos de geração a partir de fontes renováveis no Nordeste.
A proposta não prevê mudanças nos valores pagos hoje por um grupo de grandes indústrias instaladas na região.
"Pagamos hoje aproximadamente R$ 100/MWh, um valor mais elevado do que a energia do mercado spot durante boa parte do período (do contrato de 30 anos). Também aprendi com o governo que o custo de se gerar energia depois de a usina estar depreciada é de R$ 40/MWh, portanto não há subsídio", disse Fadigas.
"Se a Chesf não renovar o contrato por R$ 110/MWh, ela será obrigada a entregar a energia para distribuidoras por volta de R$ 40/MWh", afirmou. A perda potencial da Braskem seria de cerca de R$ 400 milhões.