Visão aérea das obras no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) (Frederico Bailoni/Petrobras)
Da Redação
Publicado em 12 de fevereiro de 2015 às 20h33.
SÃO PAULO - A petroquímica Braskem concluiu estudos sobre a adição de capacidade produtiva no Rio de Janeiro e decidiu pela expansão de sua produção no município de Duque de Caxias, desistindo por ora do projeto no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
O projeto da Braskem no Comperj previa a construção de uma unidade petroquímica na cidade de Itaboraí, mesmo local onde a Petrobras constrói uma refinaria de petróleo.
Porém, uma decisão vinha sendo adiada pela Braskem, cuja ideia era utilizar o gás do pré-sal como matéria-prima para alimentar o complexo petroquímico.
Segundo o presidente da Braskem, Carlos Fadigas, a companhia identificou que haveria maior taxa de retorno ampliando a produção do parque atual em Duque de Caxias do que se a companhia iniciasse uma nova unidade do zero.
"Havendo matéria-prima, o melhor uso é primeiro aproveitando o parque industrial existente em Duque de Caxias, antigamente chamado Rio Pol, e somente depois disso faria sentido avançar em um projeto 'greenfield' em Itaboraí", afirmou.
A Petrobras anunciou no final de janeiro que passou a revisar o cronograma de construção do Comperj e da Refinaria do Nordeste (Rnest), em Pernambuco, como um dos efeitos da Operação Lava Jato, da Polícia Federal.
Segundo a Braskem, o avanço dos planos da companhia para ampliar as instalações em Duque de Caxias dependerá da viabilização de um contrato de longo prazo para o fornecimento de matéria-prima pela petroleira.
"Não é que ele (projeto do Comperj) não existe mais. Em algum lugar os estudos estão arquivados. Talvez num futuro faça sentido econômico, mas nosso empenho é mais para crescimento de capacidade em Duque de Caxias." A Braskem possui na cidade uma unidade de petroquímicos básicos e outra de produção de resinas termoplásticas.
A companhia não chegou a fazer investimentos relevantes no Comperj. Até o momento, havia apenas estudos de engenharia e diálogos com Petrobras e governos. Procurada, a Petrobras ainda não se pronunciou sobre o assunto.
CONTRATO DE NAFTA
A Braskem também informou nesta quinta-feira, após divulgar seu resultado do quarto trimestre, que está em conversas com a nova administração da Petrobras para um terceiro aditivo ao contrato de fornecimento de nafta para a petroquímica.
"Parece mais factível a gente trabalhar uma solução (para o contrato de nafta) que dê tempo a essa equipe para se familiarizar com o assunto. Já fizemos dois aditivos de seis meses e essa seria uma meta realista e possível", disse Fadigas a jornalistas, acrescentando que considera como baixa a probabilidade da empresa alcançar uma solução de longo prazo para o impasse com a estatal.
Fadigas acrescentou que a Braskem tem demandas para melhorar o aditivo do contrato, mas que o "tempo não está a nosso favor", indicando que o preço do nafta deve ser mantido em aberto. "Está longe de ser o ideal (...), mas entendemos que dos males o menor", acrescentou o executivo.
O contrato atual de fornecimento de nafta vence no final deste mês.
A Petrobras tem usado o nafta de suas refinarias na produção de gasolina, motivo pelo qual passou a importar o insumo para atender a Braskem, tentando repassar o custo à petroquímica.
A Braskem tem contestado a postura da estatal e Fadigas afirmou manter a posição, já que considera que os custos de importação "não são pertinentes à indústria química", que não teria condição de absorvê-los.
Atualmente, a Braskem importa 30 por cento das necessidades de nafta e, segundo Fadigas, não seria economicamente viável nem razoável para a indústria elevar esse patamar. "O setor não foi construído para operar com matéria-prima importada", disse.
CENÁRIO PARA 2015
Para 2015, a Braskem espera uma demanda por resinas neutra no mercado interno, em linha com as atuais projeções para o Produto Interno Brasileiro (PIB) e após ter previsto demanda estável em 2014 e observado um recuo de 1 por cento no mercado ante o ano anterior.
Em termos de petroquímicos, a Braskem disse ver o mercado equilibrado pelo menos até 2017, com bons spreads internacionais e boa demanda.
Sobre a crise hídrica, Fadigas afirmou que a Braskem está acompanhando o quadro de restrição de água, mas que não espera um impacto relevante na empresa por conta de investimentos feitos em reaproveitamento.
No caso de um racionamento de energia, a empresa comentou a possibilidade de aproveitar a flexibilidade de geração interna de eletricidade e de alterar o portfólio de produtos para lidar com o novo cenário, dependendo do modelo de redução no consumo a ser adotado pelo governo federal.
Para 2015, a Braskem não tem previsão de paradas programadas de manutenção em centrais petroquímicas, o que dará maior flexibilidade à empresa.
A Braskem encerrou o quarto trimestre com alta anual de 17 por cento no lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), a 1,359 bilhão de reais.