Carrefour ocupa a vice-liderança no varejo brasileiro, com 13 por cento do mercado, atrás do Grupo Pão de Açúcar, controlado pelo arquirrival Casino (Daniela Toviansky/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 22 de novembro de 2012 às 10h03.
Paris - O Carrefour tem passado por uma série de mudanças desde que seu ex-presidente viu a tentativa de se unir ao maior grupo varejista do Brasil fracassar no ano passado, e a maior economia da América do Sul pode acelerar essas transformações.
Seis meses após se tornar presidente-executivo do maior varejista da Europa e segunda maior do mundo, Georges Plassat foi responsável pela desativação de negócios em países não estratégicos para recuperar a deficitária operação de hipermercados e levantar caixa.
O Carrefour ainda tem cartas na manga, como a venda de parte das operações no Brasil para financiar a expansão neste que é um dos mercados de consumo que mais crescem no mundo. O Brasil é o segundo maior mercado do grupo após a França, com 13,5 por cento das vendas em 2011.
A companhia, que já levantou 2,8 bilhões de euros (3,6 bilhões de dólares) com a venda de unidades na Indonésia, Colômbia e Malásia, pode garantir de 1,5 bilhão a 2 bilhões de euros com desinvestimentos na Turquia, Polônia, Romênia e Taiwan, além de 1 bilhão a 2 bilhões de euros com a listagem de uma fatia minoritária no Brasil, segundo analistas.
"Acreditamos que os planos de alienação não acabaram, embora não esperemos mais desinvestimentos em escala tão grande até o fim do ano", disse o analista Pierre-Edouard Boudot, da Natixis, acrescentando que uma alienação minoritária no Brasil "pode fazer sentido".
O Carrefour ocupa a vice-liderança no varejo brasileiro, com 13 por cento do mercado, atrás do Grupo Pão de Açúcar, controlado pelo arquirrival Casino, e à frente do gigante norte-americano Wal-Mart.
O presidente do Conselho do Pão de Açúcar, Abilio Diniz, tentou unir as operações do grupo às do Carrefour no Brasil no ano passado, contrariando um longo relacionamento com o Casino. O Casino frustrou os planos e garantiu o controle da varejista, como esperado.
Um alto funcionário do setor financeiro em Paris afirmou que uma oferta de venda no Brasil seria uma "possibilidade única" de "levantar capital".
O Carrefour não quis comentar o assunto.
Foco no Brasil
O Carrefour deve destinar às operações europeias grande parte recursos que obteve com as vendas de operações, já que investiu na Europa de 1,6 bilhão a 1,7 bilhão de euros em 2012, ante 2,3 bilhões.
Segundo analistas, este atual nível --cerca de 2 por cento das vendas-- mal cobre o custo de manter as lojas.
O grupo também precisa de caixa para reduzir dívida --cerca de 7 bilhões de euros no fim de 2011-- e manter os preços baixos na França para elevar o movimento nos hipermercados.
Mais recursos podem ser necessários para acelerar a expansão na China e no Brasil, embora Plassat ainda tenha de mapear os planos nesses países.
As vendas na China têm sido prejudicadas pela desaceleração econômica, mas o Brasil tem ocupado os holofotes, com crescimento de vendas de 9,7 por cento no terceiro trimestre.
Caso o Carrefour decida acelerar a expansão no Brasil, listar uma parte do negócio pode ser uma opção para obter recursos.
"Um potencial IPO (oferta pública inicial) no Brasil pode ser viável e teria um impacto bastante significativo", afirmaram analistas do Barclays, em nota.
Segundo o banco, a venda de 25 por cento das operações no Brasil, avaliadas em 4,7 bilhões de euros, poderia resultar em 1,2 bilhão de euros.
Informações não confirmadas na mídia apontam que o Carrefour pode tentar listar uma parte minoritária da sua joia da coroa no Brasil, o Atacadão.
O analista Gildas Aitamer, da PlanetRetail, disse que o Atacadão precisa acelerar a expansão de lojas para alcançar a crescente concorrência do Assaí, do Pão de Açúcar, e do Maxxi, do Wal-Mart.
A Natixis estima que um IPO do Atacadão pode resultar em 1 bilhão a 2 bilhões de euros. Já a Exane BNP, que avalia o Atacadão em 5 bilhões de euros, prevê que a listagem de 20 a 25 por cento resultaria em 1 bilhão de euros.