Vitor Leme, da CantuStore: Havendo boas oportunidades para aquisições, o dinheiro pode ser direcionado para isso (CantuStore/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 9 de outubro de 2023 às 08h00.
A CantuStore, marketplace para a venda de pneus, atraiu a atenção do IFC, braço de investimento do Banco Mundial. A instituição entrará como coinvestidora na empresa com um cheque de US$ 15 milhões de dólares - cerca de R$ 77 milhões - no investimento de R$ 600 milhões anunciado pelo fundo americano de L Catterton, em novembro do ano passado.
Criado em 1956 dentro do organismo do Banco Mundial, o IFC, sigla para Corporação Financeira Internacional, investe em empresas privadas em mais de 100 países em desenvolvimento. A proposta da organização é, além do recurso financeiro, entrar em empresas que tem uma boa estrutura de governança e que podem ir além em termos de geração de receita e aprimoramento de critérios de ESG.
A negociação não altera os valores acordados entre a CantuStore e L Catterton. Dos R$ 600 milhões anunciados em novembro passado em troca de uma participação minoritária na empresa brasileira, a primeira parcela entrou em fevereiro deste ano, um cheque de R$ 350 milhões. A segunda parte, R$ 250 milhões, está prevista para chegar agora em novembro.
“No modelo da L Catterton, se tem algum investidor que gostou de uma empresa investida pelo fundo e acredita no potencial do negócio, ele pode aportar recursos. Com isso, eles fazem um redirecionamento e incluem a posição daquele investidor”, afirma Vitor Leme, CFO da CantuStore. A empresa não revela o percentual de participação.
A entrada do novo parceiro deve reforçar as ações sustentáveis da companhia. De acordo com o executivo, o IFC fez uma nova due diligence e revisitou as iniciativas em andamento da empresa, atuante em um setor econômico cuja percepção ESG não é o forte. “Combinamos as práticas que vamos implantar no futuro”, diz.
Entre elas, estão previstas:
Fundada em 2006, em Itajaí, Santa Catarina, a CantuStore foi pioneira no país na venda de pneus de caminhões de marcas desconhecidas e a preços muito competitivos.
O empreendedor Beto Cantu foi procurar fabricantes de pneus em países asiáticos como China e Vietnã — muitos deles até então parceiros exclusivos de marcas já conhecidas no Brasil — e fechou contratos de importação diretamente com eles, sem o uso de intermediários e quebrando a cadeia estabelecida.
Hoje, a empresa movimenta cifras bilionárias e conta com mais de 50 fornecedoras. Vende desde opções de fabricantes conhecidas como Pirelli, Continental e Michellin àquelas sem tanto glamour no mercado nacional, como a coreana Kumho, a chinesa Aeolus e a indiana CEAT.
Nos últimos anos, investiu ainda em marcas próprias, com produtos fabricados por fornecedores brasileiros. A SpeedMax, voltada para empresas, e Itaro, vendida no e-commerce, já respondem por 30% do resultado.
Em 2022, a operação registrou um faturamento líquido de R$ 1,87 bilhões, alta de 46,7% em relação ao período anterior. Nos seis primeiros meses de 2023, a receita líquida ficou em 1.172 bilhão, 38% em comparação com o primeiro semestre do ano passado.
Desde o acordo com L Catterton, a CantuStore tem se movimentado a passos rápidos com uma estratégia de crescimento inorgânico e soma três aquisições. A primeira a ser incorporada foi a Verum, empresa de software e gerenciamento de backoffice que prestava serviço para a própria CantuStore.
As outras compras estão diretamente no mercado de pneus, a americana Digitire, sediada em Connecticut e com filiais em New Hampshire e New Jersey, com a comercialização de pneus para caminhões, e, em junho passado, a brasileira Gripmaster, especializada em pneus Off The Road (OTR).
A segunda parcela - tranche, no jargão financeiro - chega para reforçar a atenção da empresa às novas oportunidades de mercado. “Havendo boas oportunidades pode ser direcionado para isso”, afirma. Outra destinação dos recursos é o financiamento da própria operação, como capital de giro.
No modelo de negócio da CantuStore, boa parte dos recursos são usados para financiar as compras dos clientes, concedendo mais prazo, a compra de estoque e até o fornecedor. Com o cenário econômico mais difícil no ano, taxas de juros elevadas e ajustes nos preços dos produtos lá fora, a empresa teve que se readaptar.
Em abril deste ano, a empresa obteve R$ 375 milhões com a emissão de debêntures, em oferta coordenada pelos bancos Itaú BBA, Banco Santander, Citi e Votorantim. O dinheiro seria usado como capital de giro, mas acabou por atender também outras demandas.
“Nós financiamos a operação com o recurso da debênture e aproveitamos para substituir algumas dívidas que estavam mais caras. Antecipamos algumas operações de dívidas, substituindo o impacto da Selic na nossa despesa financeira”, afirma.
O crescimento da empresa no ano está sendo compensado pela venda de maiores volumes de pneus. Em relação aos números do primeiro semestre de 2022, a quantidade de produtos vendidos cresceu 64,7% em 2023.