As versões plant-based já são inúmeras, desde hambúrgueres a filé de “frango”, tudo 100% de origem vegetal (Istetiana/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 24 de fevereiro de 2022 às 18h09.
Última atualização em 25 de fevereiro de 2022 às 12h12.
O setor em si não é exatamente novo. Substitutos vegetais para produtos de origem animal como leite, manteiga e outros laticínios já são vistos nas prateleiras dos supermercados há algum tempo, voltados principalmente para o público vegano ou com alguma intolerância.
Mas nos últimos anos, com a criação de alternativas vegetais também para a carne – e a promessa de oferecer gosto, aparência e textura bem semelhantes à versão original –, esse mercado deu um boom.
Hoje, a categoria plant-based (à base de plantas, em português) já não é mais um nicho. Ao contrário, é um negócio promissor, em plena expansão global, graças ao aumento significativo de um novo e influente perfil de consumidor.
Os chamados flexitarianos não são veganos, nem carnívoros: consomem carne, porém com menos frequência, substituindo a proteína animal pelas opções vegetais em parte das refeições. Um modelo de alimentação com cada vez mais adeptos, inclusive no Brasil.
Entre as razões para o crescimento desse público, está o aumento da demanda por produtos mais sustentáveis, a preocupação com o bem-estar animal e a busca por uma dieta mais saudável, tendência que tem crescido no mundo todo, principalmente após o início da pandemia.
Até o fim desta década, o mercado global de alimentos à base de plantas pode crescer cinco vezes, segundo relatório recente da Bloomberg Intelligence.
Em 2020, o comércio de produtos lácteos vegetais e alternativas à proteína animal chegou a US$ 29,4 bilhões. A projeção é que alcance 162 bilhões de dólares até 2030, correspondendo a 7,7% do mercado global de proteínas.
As alternativas à carne terão participação considerável nessas oportunidades. Caso o segmento cresça em um padrão semelhante ao do leite vegetal, o BI estima que esse setor salte de US$ 4,2 bilhões para 74 bilhões de dólares nos próximos dez anos.
Em 2035, a consultoria A.T. Kearney enxerga um crescimento ainda mais agressivo, com o mercado mundial de substitutos vegetais chegando à cifra de 370 bilhões de dólares, o que representaria 23% de todo o segmento de carnes no planeta.
E para um pouco mais à frente, no ano de 2050, o Credit Suisse prevê um crescimento avassalador, que pode atingir 1,4 trilhão de dólares.
Tanta expectativa não é por acaso: o segmento vem crescendo em ritmo acelerado. O negócio de plant-based cresce mais de 7% ao ano, de acordo com o The Good Food Instituto Brasil (GFI), e terá uma expansão anual média de quase 12% até 2027, conforme cálculo do Meticulous Market Research, enquanto o setor de carne deve crescer 4,5% ao ano.
Números e estimativas tão expressivos têm chamado a atenção de investidores, que já enxergaram o grande potencial desse mercado. Dados do GFI mostram que, só em 2020, 3,1 bilhões de reais foram investidos no segmento.
“Os hábitos de consumo relacionados a alimentos geralmente vêm e vão como uma moda passageira, mas as alternativas baseadas em vegetais vieram para ficar. O crescente conjunto de opções de produtos à base de plantas está contribuindo para que essas alternativas se tornem uma opção de longo prazo para consumidores em todo o mundo”, disse Jennifer Bartashus, analista sênior de produtos básicos do consumidor da Bloomberg Intelligence.
O comércio mais avançado de produtos dessa categoria é, de longe, o dos Estados Unidos: cresceu 27% de 2019 para 2020, bem acima do varejo do setor de alimentos em geral (15%).
Segundo a Plant Based Food Association, nos últimos dois anos, as vendas de substitutos vegetais no país cresceram nove vezes mais rápido do que as vendas totais de alimentos. Em 2020, por exemplo, mais da metade de todas as famílias americanas compraram produtos do tipo. No futuro, no entanto, a região da Ásia-Pacífico é que provavelmente dominará o mercado de proteínas plant-based – principalmente frente ao aumento da população local, que deve bater os 4,6 bilhões em 2030. Segundo o BI, a maior parcela será ocupada por produtos lácteos alternativos (57%).
Os brasileiros também estão alternando o consumo de proteína animal e de versões vegetais com mais frequência. Por aqui, os flexitarianos passaram de 29% em 2018 para 50% em 2020, conforme pesquisa realizada pelo IBOPE, coordenada pelo GFI e apoiada por 11 empresas do setor de alimentos. Nesse público, 39% já buscam fazer a troca pelo menos três vezes por semana.
O crescimento acelerado desse mercado no país fez com que o investimento em proteínas alternativas ganhasse força no último ano. Além da expansão das foodtechs que já atuavam no segmento, grandes empresas do ramo alimentício entenderam o enorme potencial dos produtos plant-based e não estão ficando para trás – inclusive a indústria de carne.
Em 2021, a gigante brasileira JBS, por exemplo, comprou a Vivera, terceira maior produtora de alimentos plant-based da Europa, atuando em mais de 25 países.
Foi mais um passo da empresa no mercado de proteína a base de plantas. No Brasil, a JBS já tinha a linha Incrível, da Seara, que oferece hambúrguer, filé de frango, bife bovino, carne moída, pernil desfiado, isca de peixe e até bacalhau – todos 100% vegetal. E, nos Estados Unidos, a companhia ainda tem a marca OZO, da Planterra.