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Bons investidores não fazem seleção de gênero na hora de fazer um aporte, diz Camila Farani

Em entrevista à EXAME, investidora anjo falou sobre sua trajetória profissional e participação das mulheres no mercado de inovação

Camila Farani: “As empreendedoras estão chamando a responsabilidade para si, não diminuindo seu tamanho para caber em qualquer regra” (Camila Farani/Divulgação)

Camila Farani: “As empreendedoras estão chamando a responsabilidade para si, não diminuindo seu tamanho para caber em qualquer regra” (Camila Farani/Divulgação)

Isabela Rovaroto
Isabela Rovaroto

Repórter de Negócios

Publicado em 17 de março de 2024 às 09h09.

Última atualização em 18 de março de 2024 às 10h07.

Camila Farani é uma das poucas mulheres a liderar uma boutique de investimentos em tecnologia no Brasil. Ela começou sua carreira no mercado de alimentação e era diretora executiva e sócia do Mundo Verde quando resolveu se tornar investidora de empresas de tecnologia. "Eu tinha uma carreira consolidada, mas não estava mais feliz", diz.

Ela já aportou mais de 52 milhões de reais com a G2 Capital e com co-investidores em 52 empresas, um ecossistema que faturou 6,4 bilhões de reais em 2023. 

O primeiro contato da executiva com o mundo da inovação foi através do pitch de uma empresa de cosméticos. "Eram 18 homens e eu. Naquele momento, eu descobri que existia vida fora do mercado de alimentação. A ideia de investir em empresas nascentes em diversos mercados me agradou muito", conta. 

Assim como muitas mulheres, Farani revela que não recebeu muito apoio quando decidiu abandonar sua carreira para recomeçar como investidora. "Nessa época eu prendi que, quando você tem missão muito forte, deve seguir mesmo que precise romper com o status quo". 

Ela começou se associando a Gávea Angels, com cheques de até 25.000 reais em empresas de tecnologia ou em empresas da economia real que precisavam ir pro digital. Hoje, as holdings das quais ela faz parte investem até 5 milhões de dólares.

À EXAME, ela fala sobre a participação das mulheres no mercado de inovação. Confira a entrevista: 

Por que é tão difícil as mulheres crescerem como investidoras ou empreendedoras de inovação? 

O Brasil é um país avesso ao risco. É uma herança histórica que carregamos dado o perfil da nossa estrutura de capital até hoje. Ao fazer um recorte de gênero em cima de toda desigualdade que a gente vive, é fácil entender porque as mulheres estão menos presentes nesse mercado. Muitas pessoas acham que para ser investidora você precisa ser especialista em números. Eu não sou especialista em números, eu  sou especialista em negócio de tecnologia, em fazer negócio. 

Qual é o principal diferencial das startups lideradas por mulheres? 

As empresas lideradas por mulheres normalmente já tem uma missão mais bem fundamentada, já nascem com um propósito definido. Há também um olhar mais criterioso para pessoas, programas de benefícios e, no fim, mais diversidade. 

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Por que elas têm mais dificuldade para conseguir  aportes? 

As mulheres de fato recebem menos aportes. Se você fizer um recorte racial, as mulheres negras de base tecnológica representam menos de 1%. Mas uma coisa que eu posso dizer é que tem menos mulheres criando empresas de tecnologia, o que naturalmente já diminui a quantidade de aportes. Os bons investidores não fazem seleção de gênero na hora de fazer um aporte. 

Existem iniciativas para mudar esse cenário? 

Nunca se falou tanto em mudar esse cenário. Iniciativas para reunir e capacitar mulheres têm aumentado muito nos últimos anos. O Mulheres Investidoras Anjo, criado em 2014, já impactou mais de 22.000 mulheres, entre investidoras e empreendedoras. O Ela Vence foi criado em 2022 e já oferece rede de apoio, capacitação e marketplace para 15.000 mulheres. Por outro lado, temos cada vez mais referências de mulheres bem-sucedidas e as empreendedoras estão chamando a responsabilidade para si, não diminuindo seu tamanho para caber em qualquer regra.

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