Recentemente o Mercado Envios inaugurou o seu novo centro de distribuição na Bahia, seu terceiro no país, e irá abrir um outro na região Sul em breve (Mercado Livre/Divulgação)
Karin Salomão
Publicado em 17 de outubro de 2020 às 11h00.
Depois de mais do que dobrar as vendas em um de seus trimestres mais intensos, o Mercado Livre planeja investimentos bilionários para o ano que vem. Para este ano, o investimento previsto da empresa no Brasil é de 4 bilhões de reais, um valor já recorde em relação aos anos anteriores. Já para 2021, o valor deve ser ainda maior e a empresa irá reforçar sua logística para dar conta do aumento da demanda.
“Começamos agora o planejamento do ano que vem e queremos investimentos maiores do que neste ano”, disse Fernando Yunes, country manager do Mercado Livre para o Brasil, em entrevista para a Bloomberg. “Houve mudança estrutural de hábito e o mercado mudou de patamar. O comportamento dos consumidores não deve voltar ao que era antes da pandemia.”
Em maio, ao reforçar o investimento bilionário previsto para esse ano, o Mercado Livre afirmou que poderia mudar o destino de parte desses investimentos para concentrar mais esforços na logística. “Pode ser que tenhamos que redirecionar alguns investimentos para logística, devido ao aumento da demanda do e-commerce, mas no momento a ideia é manter o volume total”, disse em maio o vice-presidente da empresa para América Latina, Stelleo Tolda.
Com investimento de 4 bilhões de reais no Brasil este ano, o Mercado Livre prevê superar o recorde no ano que vem; logística deve continuar sendo um dos focos importantes de investimento. Empresa mais valiosa da América Latina, o Mercado Livre chegou a 63,2 bilhões de dólares em valor de mercado este ano, com alta de mais de 100% no ano.
Antes da pandemia, o comércio eletrônico tinha crescimento projetado de 18% em 2020. Esse número deve ser muito maior. Em só um semestre, o e-commerce brasileiro cresceu em níveis não vistos nos últimos 20 anos. Segundo pesquisa da Ebit/Nielsen, feita em parceria com a Elo, o faturamento com as vendas online subiu 47% no primeiro semestre, totalizando 38,8 bilhões de reais. Ao todo, foram feitos 90,8 milhões de pedidos entre janeiro e junho de 2020.
O pico do e-commerce aconteceu entre 5 de abril e 28 de junho, quando a maior parte das cidades brasileiras estava com medidas para conter a circulação de pessoas. Nesse intervalo, o número de pedidos cresceu 70% na comparação com 2019.
O crescimento nas vendas, porém, coincidiu com uma greve dos Correios, um dos principais serviços de logística do país. Oito a cada dez varejistas online de pequeno e médio porte dependem dos Correios como fonte principal dos fretes aos clientes. No Mercado Livre, o serviço estatal era responsável por mais de 50% das entregas. Com investimentos bilionários, a empresa espera reduzir essa dependência.
Criado em 2013, há alguns anos o Mercado Envios gerenciava apenas a tecnologia para o pagamentos de envios para a logística. Avançou para ter uma malha logística nas estradas, entrega de última milha, diversos centros de distribuição e de cross docking e centenas de pontos físicos para depósito de produtos. Mais de 50% dos produtos já saem do armazém de um centro do Mercado Livre. A última etapa é fazer todo o serviço logístico para o vendedor, da gestão de estoque, preparo dos pedidos, envio e entrega, já usado em 20% das vendas.
Recentemente o Mercado Envios inaugurou o seu novo centro de distribuição na Bahia, seu terceiro no país, e irá abrir um outro na região Sul em breve. Para o ano que vem, prevê abrir mais centros, tanto para fulfillment dos vendedores quanto para o crossdocking. No Brasil, a companhia abriu 18 centros de sortimento apenas no segundo trimestre, com mais de 35 aberturas no ano.
O próximo grande desafio da empresa de marketplace será a Black Friday, um dos principais eventos de compras para o comércio eletrônico no Brasil e que será comemorado no dia 27 de novembro este ano. Em 2020, em alguns dias as visitas diárias ao Mercado Livre já superaram as visitas na Black Friday do ano passado: o pico do ano foi de 41 milhões de visitas diárias, ante 32,8 milhões durante a Black Friday de 2019.
Para dar conta da data este ano, a empresa irá investir três vezes mais este ano. “Gostaríamos de passar dos três dígitos de crescimento na Black Friday deste ano, dado que aprovamos investimento três vezes maior do que o do ano passado”, disse o executivo para a Bloomberg. O objetivo é entregar cerca de 75% de todos os itens armazenados e entregues pela rede própria da empresa dentro de 48 horas após o pedido, ante aproximadamente 55% na Black Friday de 2019.