Bitcoin: se forem bem-sucedidas, as novas ferramentas podem reduzir as tarifas pagas por compradores e vendedores no mercado global de comércio eletrônico (Tomohiro Ohsumi / Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 28 de março de 2014 às 14h56.
Portland - O Bitcoin já não serve apenas para a compra e a venda de cupcakes e câmeras.
Uma safra de empreendedores, financiados por investidores como Andreessen Horowitz e BitAngels, estão apostando que a tecnologia por trás da moeda virtual pode ser usada para um leque de tarefas financeiras atualmente realizadas por bancos, casas de câmbio, operadores de comércio eletrônico e outros intermediários.
A Invictus Innovations Inc., a Ripple Labs Inc. e outras startups estão aproveitando o código de base do Bitcoin para tarefas como a autenticação, que assegura que um comprador não esteja se passando por outro, e a verificação de pagamentos, para ter certeza que uma transação é válida.
Se forem bem-sucedidas, as novas ferramentas podem reduzir as tarifas pagas por compradores e vendedores no mercado global de comércio eletrônico, de US$ 1,22 trilhão, além daquelas relativas a serviços financeiros, computação em nuvem e outras áreas.
“As pessoas estão só começando a perceber que o Bitcoin não é uma moeda e um sistema de pagamentos, é a Internet do dinheiro”, disse David Johnston, um dos fundadores do BitAngels, um grupo de investidores em startups relacionadas ao Bitcoin, em entrevista. “É um momento realmente emocionante”.
O BitAngels está estudando atualmente mais de 30 projetos na categoria ‘Internet do dinheiro’, disse Johnston.
Há um reconhecimento crescente, mesmo entre as empresas financeiras, de que o design básico do Bitcoin pode ser usado para qualquer transação que exija algum grau de verificação. Em um relatório deste mês, a Goldman Sachs Group Inc. disse que, embora os Bitcoins provavelmente não sejam viáveis como moeda, a base da sua tecnologia “pode ser promissora”.
O futuro do Bitcoin como a ‘Internet do dinheiro’ foi um dos tópicos mais importantes da conferência CoinSummit, em São Francisco, nesta semana.
O software por trás do Bitcoin guarda um registro público de todas as transações já realizadas. Quando alguém gasta todo o seu patrimônio ou parte dele em Bitcoin, a mudança de propriedade é registrada por uma rede global de computadores e marcada em um registro público, assegurando que a mesma unidade de dinheiro não possa ser usada duas vezes.
Os donos dos computadores que solucionam e verificam essas transações são premiados com novos Bitcoins por seu trabalho.
Compradores e vendedores
O BitShares X, que é um banco e uma casa de câmbio descentralizados, está entre os primeiros serviços da ‘Internet do dinheiro’. Desenvolvido pela Invictus, com sede em Blacksburg, Virgínia, o BitShares X será lançado no segundo trimestre e oferecerá aos usuários a possibilidade de salvar, negociar, tomar emprestado e emprestar títulos financeiros, de dólares a derivativos, sem a necessidade de um intermediário, como um banco ou uma corretora.
As transações são gerenciadas por computadores de usuários e verificadas publicamente, o que impossibilita os roubos e as fraudes.
“Com uma moeda tradicional, você envia seus dólares e eles cobram muitos dólares para registrar um IOU”, disse Dan Larimer, CEO da Invictus, referindo-se aos documentos informais que registram uma dívida. “A casa de câmbio pode não te pagar os IOUs: a Mt. Gox é um exemplo. No nosso caso, ninguém pode tirar nada da sua conta”.
Mercados abertos
Em outro cenário, o Bitcoin Tangible Trust permite que as pessoas comprem e negociem ouro usando tecnologia Bitcoin para validar transações e provar propriedade.
A RippleSingapore, da Ripple Gateway Pte, oferece um serviço semelhante para negociação de ouro, prata, platina e moedas. Cerca de 200 pessoas estão usando o sistema, que é apoiado por reservas de ouro e depósitos de moedas da Oversea-Chinese Banking Corp., da Cingapura.
Usando tecnologia do Bitcoin e carros conectados a redes sem fio, serviços de entrega de pacotes podem evoluir para uma indústria auto-organizada. Qualquer um que seja parte do serviço com um carro pode se tornar um correio, pegando e entregando pacotes em seu percurso diário ou em trajetos curtos. Embora esta ainda seja uma ideia conceitual, o sistema coletaria taxas de quem envia e pagaria aos entregadores.
Já a MaidSafe desenvolveu um serviço que permite que os clientes compartilhem espaço de armazenamento informatizado ou capacidade de processamento, uma alternativa aos fornecedores de computação na nuvem, como a Amazon Web Services. David Irvine, fundador da MaidSafe, disse que está trabalhando com outras 20 empesas que estão criando aplicativos web.
“Neste momento, o Bitcoin está na liderança”, disse Brock Pierce, investidor no Mastercoin, um dos projetos mais conhecidos. “E, geralmente, a tecnologia que alcança o maior número de adeptos vence”.