Sicupira, ao centro, com a equipe da Endeavor: otimismo com a rede Burger King (.)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h41.
São Paulo - A aquisição do Burger King por Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles não surpreendeu apenas o mercado. A repercussão do acordo deixou admirado o próprio trio. "Percebemos que a marca Burger King é muito forte", afirmou Sicupira no evento CEO Summit 2010, organizado pela Endeavor.
No início de setembro, o fundo 3G, de Lemann, Sicupira e Telles, fechou a compra da segunda maior rede de fast food dos Estados Unidos por 3,26 bilhões de dólares. Com a assunção de dívidas, o valor do negócio sobe para 4 bilhões. Para Sicupira, a prioridade, agora, é reduzir a distância entre o valor percebido da marca e a rentabilidade da rede. "Hoje, a marca é mais preciosa que o negócio, e precisamos encurtar esse gap", disse.
Nos últimos tempos, o Burger King vem perdendo mercado para as rivais. Entre outros motivos, os analistas afirmam que os frequentadores da rede foram mais prejudicados pela crise americana que os dos concorrentes. Os primeiros relatórios de corretoras mostram ceticismo quanto à capacidade de recuperação da empresa.
Lidando com surpresas
Sicupira mostrou-se otimista com a capacidade de o Burger King ganhar fôlego. Durante a apresentação, o empresário lembrou casos em que ele e seus sócios também assumiram outras companhias em dificuldades - e deram a volta por cima.
Ele contou, por exemplo, que o trio acertou a compra da cervejaria Brahma, em 1989, sem realizar uma auditoria nas suas contas a famosa due dilligence. Na época, eles pagaram 100 milhões de dólares pela empresa. Pouco depois, ao assumi-la, descobriram que o fundo de pensão dos funcionários apresentava um rombo também de 100 milhões de dólares.
Segundo Sicupira, se, na ocasião, eles tivessem feito a auditoria e descoberto o rombo antes da assinatura do acordo, talvez abandonassem a ideia. Só que isso não os levaria a dar o primeiro passo do que hoje é a AB InBev, a maior cervejaria do mundo. A lição, segundo ele, é que é preciso "fazer a lição de casa, sem se descuidar do instinto empresarial."
Esqueletos e lucros
A indústria cervejeira é, ainda hoje, o ramo de negócios mais importante para Sicupira e seus sócios. A sequência de aquisições que culminou na criação da AB InBev contou também com outros sustos. "De cada armário que abríamos nas novas empresas, caía um esqueleto", disse. "Mas também caía uma montanha de dinheiro."
Por isso, Sicupira está confiante na capacidade de recuperação do Burger King. Para ele, no mundo dos negócios, é preciso saber lidar "tanto com as surpresas positivas, quanto com as negativas."
Para isso, o trio aposta na capacidade de difundir uma cultura empresarial focada no resultado e em desafios. Ele lembra que, quando comprou a Lojas Americanas junto com Lemann e Telles, em 1981, procurou implantar o modelo de meritocracia que já funcionava no Banco Garantia, do qual também eram sócios. O trabalho funcionou, e a Americanas tornou-se, por muito tempo, um exemplo no varejo brasileiro.
Cultura
"Perpetuar uma cultura é difícil, mas hoje temos pessoas que fazem as coisas melhor do que eu", disse. "É isso que me permite trabalhar menos agora." Afinal, Sicupira conta com o executivo carioca Bernardo Hesse para reestruturar mundialmente o Bruger King.
Hess deixou o comando da América Latina Logística (ALL) para assumir a rede. O contato do executivo com Sicupira e seus sócios vem da época em que o trio ainda dava as cartas no GP Investimento, o maior fundo de private equity do Brasil - e do qual eles se desligaram em 2004. Por isso, já está familiarizado com o estilo de gestão do trio.
Resta, agora, difundir a mesma cultura entre os funcionários da rede de fast food. Animado, Sicupira só não garante que vai voltar a comer hambúrgueres, já que procura seguir uma dieta mais balanceada.
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