A brasileira JBS desenvolveu um piso verde feito de plástico de difícil reciclagem que lhe rendeu um prêmio regional de sustentabilidade (JBS/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 8 de dezembro de 2022 às 09h30.
Última atualização em 8 de dezembro de 2022 às 10h30.
Nas taxas de consumo atuais, a humanidade está usando o equivalente a 1,75 vezes os recursos naturais da Terra a cada ano – um consumo insustentável, portanto. A solução para isso, uma economia circular, vem sendo posta em prática, e está remodelando o modo de atuar das indústrias.
No ambiente industrial, a circularidade significa conservar materiais, prolongar a vida útil de um produto por meio de reparo e reutilização e, por fim, a reciclagem. Também inclui melhorar os processos por meio de novos modelos de negócios, como aqueles que oferecem produtos em plataformas de economia compartilhada.
Uma pesquisa recente da consultoria global Bain & Company, realizada em parceria com o Fórum Econômico Mundial, mostrou que os líderes empresariais sentem cada vez mais uma sensação de urgência em adotar a circularidade. Segundo a consultoria, a disrupção circular está em andamento em muitos setores, muitas vezes liderada por novos entrantes com modelos de negócios inovadores.
No levantamento, executivos seniores se mostraram mais conscientes de que suas empresas ficam mais vulneráveis a perder relevância nesse novo cenário quanto mais tempo gastam se preparando para a disrupção.
Nesse sentido, os executivos da cadeia de suprimentos entrevistados disseram planejar dobrar a participação de produtos e serviços circulares na receita de suas organizações até 2030.
Embora a ameaça de disrupção seja um forte incentivo à ação – pois nenhuma empresa quer ficar para trás -, os líderes também reconhecem que produtos circulares com modelos de negócios bem projetados podem impulsionar o crescimento das empresas, cortar custos e criar resiliência, ao mesmo tempo em que preparam a companhia para um futuro de baixo carbono.
Todos ganham com essa mentalidade em prol da economia circular: empresas e sociedade.
A pesquisa Circularity Gap Report, produzida pelo instituto Circle Economy, coletou dados nos últimos cinco anos ao redor do mundo para apresentar 21 iniciativas que podem ajudar a reduzir as emissões globais de dióxido de carbono em 39% e aumentar o PIB da Europa em 0,5% até 2030.
Os benefícios da economia circular estão claros, o desafio ainda é o modelo de negócios circular, “um território desconhecido para a maioria das empresas”, diz o relatório da Bain & Company.
A consultoria listou alguns modelos de negócios da economia circular já em atuação pelo mundo:
Segundo os especialistas da Bain & Company, as empresas que causam disrupção no contexto da economia circular têm duas coisas em comum: elas abordam os desafios ambientais reduzindo o consumo de materiais e reduzindo as emissões de gases de efeito estufa, e estabelecem uma base comercial sólida que é escalável.
A consultoria pontua, ainda, que é mais fácil e rápido para uma startup disromper a cadeia de valor de um setor do que para uma grande empresa, uma líder de mercado já estabelecida. “As empresas mais jovens não têm lucros de longa data para defender ou ativos de capital intensivo para os quais devem maximizar os retornos”, explicam os consultores.
Por isso, eles afirmam, muitas grandes empresas têm metas de sustentabilidade, mas poucas definem objetivos específicos para a economia circular.
A principal barreira para empresas que buscam a circularidade, aponta o estudo, é a falta de um ecossistema coerente formado por empresas pares, fornecedores, consórcios industriais, parceiros de tecnologia e dados, ONGs e reguladores. “Esse tipo de ecossistema, alinhado em torno de uma ambição compartilhada, é uma base vital para a mudança para uma estratégia circular”, afirmam os pesquisadores.
Apesar dos desafios, algumas grandes empresas estão avançando na questão da circularidade.
A gigante de bens de consumo Unilever, por exemplo, tem como meta embalagens 100% reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis até 2025. A Michelin prometeu que, até 2048, seus pneus serão fabricados com 80% de materiais sustentáveis e todos os pneus serão reciclados.
A indústria de bebidas Ambev, por sua vez, tem uma atuação em embalagem circular. A meta da companhia é que 100% de seus produtos estejam em embalagens retornáveis ou feitas majoritariamente de conteúdo reciclado até 2025, além de neutralizar emissões de carbono nas unidades de produção.
Também brasileira, a JBS, do setor de alimentos, além de ter firmado o compromisso de se tornar net zero até 2040, tem trabalhado pela implementação da economia circular. A empresa desenvolveu o que chama de “piso verde”. Ele é feito a partir de um processo inovador que permite reciclar o plástico PVDC e transformá-lo em material de construção civil.
Próprio para aplicação em ambientes externos, como pavimentação de pátios, o piso verde é utilizado em unidades da JBS em todo o país. O produto oferece a mesma resistência que um material feito 100% de concreto, diz a companhia. Em 2021, o piso verde rendeu até um reconhecimento para a companhia, na premiação Plástico Sul de Inovação e Sustentabilidade, que valoriza iniciativas e ações inovadoras e sustentáveis de empresas fabricantes de plásticos da região Sul, na categoria Gestão Sustentável – Reciclador.
“Esse reconhecimento representa uma grande conquista para a JBS Ambiental, que conseguiu elevar o conceito de economia circular com o piso verde, por ser um produto produzido a partir dos materiais de difícil reciclagem”, comentou, na época da premiação, a executiva da JBS Susana Carvalho.