Sede do Banco do Brasil em Brasília: para 2014, o BB previu alta de 14 a 18 por cento, número próximo dos estimados pelos rivais privados (Adriano Machado/Bloomberg News)
Da Redação
Publicado em 13 de fevereiro de 2014 às 15h59.
São Paulo - O Banco do Brasil frustrou o mercado ao publicar lucro abaixo das expectativas no quarto trimestre e projetar expansão do crédito e rentabilidade menores em 2014, expondo o desafio de crescer forte e com qualidade num cenário econômico adverso.
As previsões complementaram os resultados trimestrais do banco, que revelaram lucro recorrente de 2,424 bilhões de reais de outubro a dezembro, queda de 23,8 por cento na comparação anual, e abaixo dos 2,61 bilhões da previsão de oito analistas ouvidos pela Reuters. O lucro líquido, com itens extraordinários, somou 3,025 bilhões de reais, recuo de 23,7 por cento no ano a ano.
A carteira de financiamentos atingiu 636,1 bilhões de reais, com expansão de 19,9 por cento. O salto de 78 por cento no crédito imobiliário foi contrabalançado pela desaceleração dos empréstimos para pessoas físicas, para 10,6 por cento.
Para 2014, o BB previu alta de 14 a 18 por cento, número próximo dos estimados pelos rivais privados, mostrando o fim do ciclo de crescimento bem acima da média. Até setembro, a carteira do BB crescera 22,5 por cento, mais que o dobro da média dos principais concorrentes.
"Essas provisões são conservadoras... podemos surpreender o mercado no final do ano", disse o presidente-executivo do BB, Aldemir Bendine, a jornalistas nesta quinta-feira.
Para analistas, no entanto, os dados mostraram que o banco estatal pode estar acusando os efeitos adversos de maiores custos de captação --a taxa básica de juros subiu 3,75 pontos percentuais em 2013-- e a dificuldade de repassá-los totalmente aos tomadores, diante da maior competição com bancos privados.
No quarto trimestre, a margem financeira líquida do banco, de 7,77 bilhões de reais, caiu 7,4 por cento ante mesma etapa do ano anterior e 0,7 por cento na base sequencial.
"Achamos que o banco vai sofrer no curto prazo, com a Selic aumentando os custos de captação", escreveu em relatório a analista Regina Sanches, do Itaú BBA.
Outro ponto levantado por analistas foi o salto de 14 por cento das despesas administrativas do trimestre na comparação sequencial, a 8,4 bilhões de reais, acima do esperado. No ano, a avanço foi de 7 por cento e o BB previu alta de 5 a 8 por cento nessa linha para 2014.
Inadimplência
Mesmo a manutenção da qualidade da carteira de crédito, com o saldo de operações vencidas acima de 90 dias em 1,98 por cento, abaixo dos 2,05 por cento de um ano antes, ajudou pouco o resultado do banco.
Isso porque o BB, devido à reclassificação de riscos de carteiras, elevou em 15,8 por cento sua provisão para perdas com calotes no comparativo anual, a 4,19 bilhões de reais.
E nem o esforço do banco para diversificar o faturamento, como a linha de serviços que inclui cartões de crédito e seguros e que renderam receitas 12,6 por cento maiores no ano, impediram uma queda abrupta da rentabilidade do BB.
O retorno sobre patrimônio líquido, que mede quão bem um banco remunera o capital de seus acionistas, desabou 7 pontos no trimestre, também no ano a ano, para 14,2 por cento. Para efeito de comparação, o índice do Itaú Unibanco foi de 23,9 por cento no trimestre, enquanto o do Bradesco foi de 18 por cento.
Adicionalmente, o BB previu que esse índice ficará na faixa de 12 a 15 por cento em 2014, o que também decepcionou analistas.
"O banco divulgou números muito fracos (...) e a expectativa de retorno sobre patrimônio líquido ajustado é uma surpresa negativa para nós", disseram analistas do Bradesco BBI liderados por Carlos Firetti, no relatório em que reduziram a recomendação para as ações do banco, de outperform (expectativa de desempenho acima da média do mercado), para "market perform" (em linha).
Às 16h33, a ação do BB na Bovespa caía 4,98 por cento, a 20,84 reais. No mesmo instante, o Ibovespa cedia 1,12 por cento.