ESG

Bayer vai pagar produtor agrícola que não desmatar

Em parceria com a Embrapa, empresa lança iniciativa para desenvolver o mercado de carbono no Brasil e beneficiar pequenos agricultores

Cerca de 500 produtores brasileiros de soja e milho poderão vender créditos de carbono para a Bayer, que pagará preço de mercado (Cristiano Mariz/Exame)

Cerca de 500 produtores brasileiros de soja e milho poderão vender créditos de carbono para a Bayer, que pagará preço de mercado (Cristiano Mariz/Exame)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 21 de julho de 2020 às 15h47.

Última atualização em 21 de julho de 2020 às 16h02.

O mercado de créditos de carbono parece distante do agricultor brasileiro. Uma iniciativa da alemã Bayer, fabricante de defensivos agrícolas, em parceria com a Embrapa, porém, promete aproximar o pequeno produtor dessa tendência global. 

Por meio da iniciativa Carbono Bayer, a empresa passará a recompensar agricultores no Brasil e nos Estados Unidos pelos carbono gerado por meio de práticas agrícolas sustentáveis. Inicialmente, a iniciativa contará com 1.200 produtores nos dois países. Os planos são de expandir o número de beneficiados gradualmente. 

No Brasil, foram selecionados 500 produtores, a maioria de soja e milho, em 14 estados. Parte desses produtores poderá vender os créditos de carbono para a Bayer, que pagará preço de mercado.

“Vamos desenvolver um modelo de negócios de carbono no país junto com os produtores”, afirma Rodrigo Santos, presidente da divisão agrícola da Bayer para a América Latina. “Trata-se de um mercado com muito potencial, mas ainda intangível para os agricultores brasileiros.”

Os créditos de carbono são direitos de emissão — do próprio carbono. Esses créditos são oferecidos por empresas com práticas mais sustentáveis, que conseguiram reduzir a quantidade de poluentes que jogam na atmosfera. Quem compra: companhias que poluem além da conta.

Entre as práticas que podem gerar créditos de carbono estão a preservação de áreas florestais, plantio direto sem aragem, economia de água na irrigação e até a redução do uso de defensivos, evitando pulverizações desnecessárias. A expectativa da Bayer é que, além de ser remunerados pelo carbono gerado, os produtores tenham ganhos de produtividade. 

“As práticas sustentáveis na agricultura trazem mais eficiência, pois geram benefícios ambientais, econômicos e sociais”, afirma Carlos Moretti, presidente da Embrapa, parceira da Bayer na iniciativa. Os produtores que participarem da iniciativa contarão com a mensuração do carbono em suas terras, o que garante a experiência necessária para o acesso ao mercado de carbono, quando ele estiver estabelecido no país. 

Bolsa de carbono em alta 

A cotação do crédito de carbono no mercado regulado da Europa, principal bolsa da commodity no mundo, já retornou ao patamar pré-pandemia, após levar um tombo no início da quarentena. Na semana passada, o carbono era negociado a 28,58 euros por tonelada equivalente na EU ETS (European Union Emissions Trading System), plataforma de compra e venda de créditos criada pela Comissão Europeia. 

Esse patamar de preço não era registrado desde agosto do ano passado. A última vez que os créditos de carbono ultrapassaram os 29 euros foi em junho de 2008. A compra de carbono em mercados regulados não costuma atrair investidores. Ela se dá pela necessidade das companhias de atingir suas metas de redução de emissões definidas por órgão reguladores. Na Europa, o nível de maturidade desse mercado é maior, justamente, pelas regras ambientais mais rígidas. 

Os mercados regulados, entretanto, balizam as cotações nos mercados não regulados, estes sim acessados por investidores, inclusive pessoas físicas. A cotação nessas bolsas “paralelas” também está em alta, de acordo com Adaime. “Nossa expectativa é que o preço da tonelada chegue a 60 euros em alguns anos”, afirma Luís Adaime, fundador da Moss, primeira bolsa de carbono brasileira aberta a pessoas físicas.  

Recentemente, uma série de companhias com atuação global, como Amazon, Apple, Microsoft e Google, anunciou compromissos de se tornar neutras em carbono até 2040. Somente essas companhias devem gerar uma demanda anual de 60 milhões de toneladas nos mercados não regulados. 

Para o Brasil, isso representa uma oportunidade. “O Brasil tem grande capacidade para atender a essa demanda, com créditos de qualidade”, afirma Karen Tanaka, coordenadora da Câmara de Clima do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds). 

Nos mercados não regulados, o preço do carbono é determinado por duas variáveis, a lei da oferta e da procura e a qualidade dos projetos aos quais os créditos estão atrelados. Iniciativas de proteção a florestas e energia limpa, por exemplo, têm mais valor do que um projeto de redução do uso de combustíveis fósseis. Segundo Tanaka, o Cebds tem feito reuniões com o Ministério da Economia para tratar do assunto.

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