Yunus: segundo assessores legais do Grameen Bank, banqueiro permanece (Vittorio Zunino Celotto/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 9 de março de 2011 às 13h24.
Nova Délhi - O "banqueiro dos pobres" bengalês e prêmio Nobel da Paz de 2006, Muhammad Yunus, desafiou nesta quarta-feira o Governo de seu país ao recusar acatar uma ordem de destituição à frente do banco concessionário de microcréditos fundado por ele, o Grameen Bank.
A ordem de destituição foi dada pelo Banco de Bangladesh, segundo diferentes fontes da entidade citadas pela imprensa bengalesa.
O banco central se apoiou na Ordenança do Grameen Bank de 1983 para questionar que Yunus pudesse continuar como diretor-executivo da entidade que, junto ao próprio economista, foi homenageado com o Nobel por seu apoio aos pobres de Bangladesh.
Diferentes versões aludiam a que Yunus tinha superado a idade de aposentadoria, de acordo com essa lei, mas a razão de peso foi que, ao ser nomeado, não cumpriu com o artigo que prevê a "aprovação prévia do Banco de Bangladesh".
A reação do Grameen Bank foi imediata.
Yunus "não está despedido. É preciso ver a validade legal da medida do Banco de Bangladesh", disse à Agência Efe por telefone a diretora do Yunus Center, Lamiya Morshed, que acrescentou que os advogados estavam examinando a comunicação da entidade central.
Pouco depois, em comunicado divulgado através de seu site, o Grameen Bank asseverou que "veio cumprindo rigorosamente todas as leis pertinentes" e também com a qual corresponde à nomeação de seu diretor-executivo.
"De acordo com os assessores legais do Banco, o fundador do Grameen Bank e prêmio Nobel, o professor Muhammad Yunus, continua em seu posto", disse a entidade de microcréditos.
O banqueiro bengalês, contemplado com o Prêmio Príncipe de Astúrias em 1998, foi submetido nos últimos três meses a uma campanha de desprestígio liderada pela primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, que o descreveu como "sanguessuga".
A campanha começou após a emissão em novembro de 2010 de um documentário na televisão norueguesa, "Apanhados pelo microcrédito", que denunciava uma transposição de fundos doados entre duas entidades do Grupo Grameen, ocorrido em 1996.
O Grameen Bank transferiu naquele ano o equivalente a US$ 96 milhões de fundos noruegueses a uma entidade irmã criada pelo ex-professor, Grameen Kalyan, que o reintegraria ao banco em forma de crédito com juros.
Yunus defendeu sempre que a operação foi uma "inovação financeira" que buscava beneficiar-se de uma isenção fiscal em vigor.
Mas dias depois da emissão do documentário, e apesar do Governo ter saído em um primeiro momento em defesa de Yunus, Hasina voltou contra o prestigioso economista, acusando-o de pretender "sonegar" impostos e anunciou uma investigação do ocorrido.
"O 'sanguessuga' dos pobres não pode fazer sua própria vontade todo o tempo", advertiu então a primeira-ministra.
A cena política bengalesa está dominada há duas décadas por Hasina e a agora opositora Khaleda Zia, duas herdeiras de dinastias políticas que viram com maus olhos a tentativa de Yunus abrir uma terceira via com a formação de um partido antes das eleições de 2008.
Yunus desistiu em breve de sua imersão em política e voltou a concentrar-se na direção de seu grupo.
O Grameen Bank, do grupo formado por 30 companhias, tem, além de Yunus como diretor-executivo, um presidente nomeado pelo Governo, como também são três dos 12 membros com direito a voto de sua junta direção.
Este aspecto foi destacado pelo Nobel da Paz em defesa de sua atuação em 1996, que foi feita com conhecimento da junta e, portanto, do Governo.
O Executivo mudou recentemente o presidente do banco e vinha aconselhando a Yunus que se retirasse do cargo de diretor enquanto se revisavam as atividades do Grameen Bank.