São Paulo - Aldemir Bendine nunca trabalhou na indústria de óleo e gás, mas já sabia muito sobre a Petrobras antes de se tornar seu presidente no mês passado.
O motivo é que ele ocupou o mesmo cargo durante anos no Banco do Brasil SA.
O BB é um dos bancos públicos que a Moody’s Investors Service estima terem emprestado um total combinado de US$ 30 bilhões à Petrobras, que está no centro daquela que pode ser a maior investigação de corrupção do Brasil.
Os bancos estão sendo colocados sob análise em um momento em que a Petrobras avalia a extensão das baixas contábeis após as denúncias de que seus executivos aceitaram propinas de construtoras em troca de contratos.
Os bancos também estão sob risco de provisões maiores para perdas com empréstimos porque provavelmente terão que fornecer financiamento à petroleira em um momento em que as opções de financiamento estão escassas, disse a Moody’s
“Isso está colocando os bancos – especialmente os estatais – sob enorme pressão”, disse Nicholas Spiro, diretor-gerente da Spiro Sovereign Strategy, firma de consultoria de investimentos com sede em Londres.
Os US$ 1,5 bilhão em bonds do Banco do Brasil com vencimento em 2022 perderam 7,7 por cento desde novembro, quando a Petrobras atrasou pela primeira vez seu balanço em meio à expansão da Operação Lava Jato.
O total de US$ 500 milhões em notas da Caixa Econômica Federal com vencimento similar deu um salto de 7 por cento, enquanto os US$ 1,75 bilhão em bonds do BNDES para 2023 caíram 6,4 por cento.
As empresas financeiras dos mercados emergentes perderam 0,3 por cento no mesmo período, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Reforçando o compliance
O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal preferiram não comentar o impacto da investigação de corrupção na Petrobras sobre os resultados dos bancos.
A assessoria de imprensa da Petrobras preferiu não fazer comentários sobre o risco dos empréstimos bancários e a exposição dos bancos públicos em meio à investigação de corrupção.
A assessoria de imprensa do BNDES disse que as garantias dos empréstimos protegem o banco. O BNDES também está reforçando os mecanismos de compliance para evitar qualquer problema.
O temor também ressalta o papel cada vez maior dos bancos, que aumentaram os empréstimos a pedido da presidente Dilma Rousseff para impulsionar a expansão da economia.
“Os riscos são maiores para os bancos públicos, que são garantidos pelo governo federal e podem ser compelidos a apoiar a Petrobras e sua base de fornecedores para evitar uma crise de crédito no setor”, disse a Moody’s, em um relatório na segunda-feira.
Exposição ao petróleo
A Moody’s cortou o rating da Petrobras em dois níveis, para junk, no dia 24 de fevereiro, no segundo rebaixamento em menos de um mês, devido à preocupação de que a investigação reduzirá sua capacidade de obter financiamento.
A incapacidade da empresa de determinar a escala das baixas contábeis impediu a divulgação de resultados financeiros auditados, colocando-a em risco de violar cláusulas dos bonds, o que poderia levar os credores a acelerar a dívida.
O BNDES, com sede no Rio de Janeiro, tem a maior exposição a empresas de petróleo e gás, petroquímicas e de construção, com os empréstimos respondendo por 81,3 por cento do capital principal do banco, segundo estimativas do JPMorgan Chase Co.
A fatia contrasta com a de 68,5 por cento do Banco do Brasil e de 56,9 por cento da Caixa.
O setor do petróleo respondia por cerca de 15 por cento das carteiras corporativas dos bancos brasileiros no fim de 2014, enquanto as empresas construtoras respondiam por cerca de 10 por cento, disse a Fitch Ratings, em um relatório na terça-feira.
“Cerca de um terço da nossa provisão de prejuízos com empréstimos de 2015 para os bancos brasileiros vem de empresas relacionadas à Petrobras e à sua cadeia de fornecedores de produtos e serviços”, disse a Fitch.
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1. Tempos difíceis
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1/9 (Divulgação/EXAME)
São Paulo – De suspeitas de corrupção a multas bilionárias, a
Petrobras tem sido protagonista de algumas das principais - más - notícias do Brasil nos últimos tempos. Alvo de uma das maiores investigações de corrupção corporativa do país, a petroleira hoje sofre uma crise de credibilidade que a faz perder valor de mercado a cada novo fato divulgado. E tem sido um exemplo de que realmente tudo pode dar errado ao mesmo tempo agora. Listamos oito fatos recentes sobre a Petrobras que comprovam que o ruim pode sempre piorar.Veja nas fotos.
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2. Operação Lava Jato
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2/9 (Arquivo/Agência Brasil)
Deflagrada em março de 2014, a
Operação Lava Jato investiga um esquema de corrupção dentro da Petrobras em que um possível esquema de lavagem de dinheiro e contratos irregulares por meio de licitações beneficiaria partidos políticos. Desde então, pessoas, grandes transações e contratos fechados com irregularidade são alvo de investigação da Polícia Federal. A operação em curso ainda tem muito que apurar – e a lista de possíveis envolvidos no escândalo só aumenta. Inclui grandes empreiteiras, fornecedores e políticos.
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3. Fornecedores na mira
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3/9 (Germano Lüders/Exame)
Até agora, 23 empreiteiras foram indiciadas por envolvimento na operação. Em uma segunda etapa, mais recente, outras 82 empresas de setores diversos foram indiciadas. Além de executivos presos, algumas das companhias citadas passam por dificuldades de acesso a crédito, falta de pagamentos de aditivos de contratos com a Petrobras e contam com muitas obras paradas e prejuízo. Algumas dessas empresas já
decretaram falência. Outras, como a Camargo Correa, fizeram
demissão em massa. O estrago até o fim da operação pode ser ainda maior. A estimativa é que a Petrobras tenha hoje cerca de 6.000 fornecedoras no país.
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4. Balanço incompleto
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4/9 (REUTERS/Paulo Whitaker)
O atraso na divulgação de resultados da companhia, previsto inicialmente para outubro do ano passado, acabou criando uma expectativa negativa no mercado sobre o que estaria por vir. Mas o estrago foi ainda maior que o previsto quando a empresa fez a efetiva publicação do balanço, no final de janeiro. No relatório, a estatal divulgou uma diferença de quase R$ 62 bilhões entre o valor real dos ativos e o contabilizado no balanço anterior, do segundo trimestre. A diferença não foi identificada como perdas com corrupção e a auditoria de todos os ativos não foi feita de maneira independente. A revelação do número assustou e gerou ainda mais incertezas nos investidores. Acabou criando uma situação insustentável para a Petrobras, que viu suas ações desabarem.
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5. Mudança de comando
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5/9 (Ueslei Marcelino/Reuters)
Dias depois da divulgação dos resultados,
Graça Foster e outros cinco diretores da companhia
renunciaram ao comando da Petrobras. Por dois dias, ficou no ar a dúvida sobre quem assumiria a responsabilidade de liderar a maior empresa do país em meio a um turbilhão de incertezas e denúncias. A expectativa era a de que o governo escolhesse alguém do mercado, que tivesse independência para decidir os rumos da empresa de agora em diante. Dilma Rousseff anunciou o nome de
Aldemir Bendine para o cargo. Tido como
um perito em crises e aliado do governo, Bendine deixou o comando do Banco do Brasil para assumir como presidente da Petrobras. A notícia azedou ainda mais o humor dos investidores.
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6. Acidente fatal
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6/9 (REUTERS/Gabriel Lordello)
Uma semana depois da troca de comando, um novo desastre atingiu a empresa – esse vindo dos mares e com consequências fatais. A explosão a bordo do navio-plataforma FPSO Cidade de São Mateus, no Espírito Santo, causou a
morte de cinco pessoas e deixou outras dez feridas – duas delas em estado grave. A norueguesa BW Offshore era a proprietária da embarcação e trabalhava para a petroleira brasileira. Ainda não se sabe o que causou a explosão.
A única certeza é a de que o acidente foi o terceiro maior desse tipo na história da empresa e que ela terá de arcar com uma multa, caso fique comprovado erro de operação.
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7. Revolta dos acionistas
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7/9 (Scott Eells/Bloomberg)
Além dos problemas internos, a Petrobras e seus acionistas no Brasil podem enfrentar uma possível revolta dos investidores estrangeiros. A estatal tem ações na Bolsa de Nova York e, se as denúncias de corrupção forem comprovadas, uma multa bem pesada pode chegar. Nos Estados Unidos,
uma ação simultânea da Securities and Exchange Comission (SEC), do Departamento de Justiça (DoJ) e dos tribunais americanos já fez com que técnicos fossem enviados ao Brasil para analisar o caso da Petrobras. A punição para a Petrobras, caso se comprove fraudes contra os acionistas, pode superar os valores de casos emblemáticos, como o da elétrica Enron, fechado em US$ 7,2 bilhões em 2006.
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8. Dívidas em dólar
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8/9 (Scott Eells/Bloomberg)
O momento ruim da Petrobras ainda conseguiu piorar com ajuda da alta do dólar. A valorização da cotação, a mais alta desde 2004, fez com que a dívida da companhia explodisse ao patamar da maior de toda a sua história. Calcula-se que 70% do endividamento da Petrobras estejam atrelados à moeda estrangeira, por isso um baque tão grande. Além do aumento do endividamento, fica mais caro para a Petrobras importar insumos, o que, por consequência, reduz seu caixa.
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9. Agora, veja 14 fatos incríveis sobre a Apple
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9/9 (Divulgação)