Banco Central vê tendência de estabilidade nas taxas de retorno sobre o patrimônio líquido (Gil Ferreira/ Agência CNJ/Divulgação)
Reuters
Publicado em 11 de abril de 2019 às 14h55.
Última atualização em 11 de abril de 2019 às 15h16.
A rentabilidade dos bancos em 2018 foi a mais alta em sete anos, voltando a níveis pré-crise, destacou o Banco Central nesta quinta-feira, mas a expectativa adiante é de estabilização do indicador, após os bancos terem cortado gordura em custos e diminuído despesas de provisão.
Em dezembro, o Retorno sobre o Patrimônio Líquido do sistema bancário alcançou 14,8% , sobre 13,6% um ano antes, no melhor fechamento anual desde 2011 (16,5%), divulgou o BC em seu Relatório de Estabilidade Financeira, com dados do segundo semestre do ano passado.
Segundo o diretor de Fiscalização do Banco Central, Paulo Souza, as instituições brasileiras ficam, com isso, na média da rentabilidade mundial.
Em coletiva de imprensa, ele ressaltou que a melhoria foi beneficiada pelo forte recuo nas despesas de provisão. Em 2016, essa linha somou 120 bilhões de reais, montante que caiu para 85 bilhões de reais em 2017 e, finalmente, para cerca de 65 bilhões de reais em 2018.
Para Souza, o nível de despesa de provisão deve agora se manter nessa faixa, a não ser que medidas estruturais, de melhoria no ambiente de garantias, levem a uma redução na inadimplência.
"Para que o sistema financeiro continue a apresentar uma rentabilidade na faixa de 15 por cento, isso só será possível caso ele consiga ter demanda de crédito que permita ele migrar aplicações em títulos para operações de crédito ou que ele aumente, dentro de cada uma de suas carteiras, ele migre de operações com spread um pouquinho maior", avaliou o diretor.
"Fora isso, a rentabilidade chegou num patamar que a gente considera que não tem mais grandes margens, oportunidades de ampliação", acrescentou.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, já chegou a afirmar publicamente que, embora o lucro dos bancos seja crescente, a rentabilidade no Brasil já foi bem maior, na casa de 19 a 20 por cento ao ano, quando a Selic também era mais alta. Hoje, a taxa básica de juros está na sua mínima histórica de 6,5 por cento.
No relatório, o BC destacou que com a perspectiva de estabilização das despesas de provisão e do custo de captação, a trajetória de aumento da rentabilidade tende a perder força.
"Nesse contexto, o crescimento da carteira e a alteração do mix da carteira, com proporção maior de portfólios mais rentáveis - crédito a pessoas físicas e a PME (pequenas e médias empresas) -, podem contribuir marginalmente para novos incrementos", trouxe o documento.
No relatório, o BC também destacou que os resultados dos testes de estresse de capital seguem confirmando a resiliência do sistema bancário, que se mostra capaz de absorver as perdas estimadas em todos os cenários simulados. O risco de liquidez, por sua vez, continua a representar pouca preocupação.
Num reflexo do que o BC apontou como "níveis confortáveis da solvência do sistema", a distribuição de frequência para o Índice de Capital Principal (ICP) considerando a plena adoção de Basileia III demonstra que 129 instituições, representando 99,9 por cento dos ativos do sistema, possuem indicador projetado acima do requerimento mínimo de 7,0 por cento, a vigorar a partir de 2019.
Além disso, a necessidade projetada de capital é de apenas 600 milhões de reais, prosseguiu o BC, montante que equivale a 0,11 por cento do patrimônio de referência atual do sistema.
Em pesquisa feita pelo BC e publicada no relatório, o mercado financeiro mostrou elevada preocupação com os riscos relacionados à aprovação das medidas necessárias ao equilíbrio fiscal e à retomada do crescimento econômico.
"As instituições financeiras avaliam que a situação fiscal do país é preocupante e que, se reformas estruturais não forem realizadas, o ambiente econômico permanecerá desfavorável aos negócios", afirmou o BC.
"Quando se considera apenas o risco classificado como o mais importante entre os três livremente relatados pelos respondentes, observa-se que os riscos fiscais-políticos destacam-se como o fator mais preocupante, sendo citados por 65 por cento das instituições em fevereiro de 2019, ante 53 por cento em agosto de 2018, com probabilidade médio-alta e alto impacto no sistema financeiro", completou.
A avaliação vem em meio à batalha travada pelo governo para fazer avançar no Congresso a reforma da Previdência, considerada sua principal medida para o reequilíbrio das contas públicas, tarefa que vem sendo dificultada pela ausência de base aliada constituída.
A chamada Pesquisa de Estabilidade Financeira foi realizada com 55 instituições financeiras, que respondem por 94,4 por cento dos ativos do sistema financeiro, informou o BC.