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Banco Cruzeiro do Sul e a enxurrada de equívocos em suas operações

Instituição financeira, agora acusada pelo Banco Central de rombo contábil de pelo menos R$ 1,3 bilhão, já foi questionada anteriormente por outras operações duvidosas

Nos três primeiros meses do ano, o banco somou prejuízo de 57,9 milhões de reais (Divulgação)

Nos três primeiros meses do ano, o banco somou prejuízo de 57,9 milhões de reais (Divulgação)

Daniela Barbosa

Daniela Barbosa

Publicado em 4 de junho de 2012 às 18h24.

São Paulo – O Banco Central (BC) colocou, nesta segunda-feira, o Banco Cruzeiro do Sul em Regime de Administração Especial Temporária (Raet) – ou seja – afastou os controladores da gestão da instituição, representados pela família Índio da Costa, e nomeou o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) como administrador do banco pelos próximos seis meses.

A decisão do BC está atrelada a um suposto rombo de 1,3 bilhão de reais descoberto pela própria instituição, que detectou um registro de créditos fictícios no balanço do Cruzeiro do Sul. O Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que assumiu a gestão do banco, afirma apenas que o rombo está ligado a "inconsistências" no registro de um fundo de crédito do banco - sem detalhar que irregularidades foram encontradas.

O FGC insiste, porém, que o episódio não é igual ao do Banco PanAmericano, em que um esquema fraudulento foi revelado no final de 2010 e levou à venda do banco, então do empresário e apresentador Silvio Santos, ao BTG Pactual, de André Esteves.

O tropeço, no entanto, não é o primeiro na história do Cruzeiro do Sul. Há quase 20 anos, o banco é controlado pela família Índio da Costa e, desde a abertura de seu capital na bolsa, em 2007, uma enxurrada de deslizes em seu balanço financeiro vem sendo questionada por órgãos que fiscalizam o setor no país.

Dúvidas

Para se ter uma ideia, em 2010, o Cruzeiro do Sul foi questionado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e precisou refazer seus resultados financeiros referentes aos anos de 2008 e 2009. Na ocasião, o órgão alegou que o banco não estava consolidando em seu balanço os fundos de direitos creditórios que detinha.

No mesmo ano, o BC começou a duvidar das operações de venda de carteira de créditos para fundos creditórios feitas pelo Cruzeiro do Sul. Segundo o BC, essas transações poderiam ser irregulares, uma vez que o próprio banco comprava as cotas do fundo.

Pequena operação

Com participação de apenas 0,22% no sistema financeiro brasileiro e 0,35% nos depósitos de todo o setor, o Cruzeiro do Sul é considerado um banco de pequeno porte pelo BC e possui cerca de dez agências em diferentes estados brasileiros, mas suas operações estão principalmente concentradas em São Paulo e no Rio de Janeiro.


Embora esteja autorizado a atuar com operações de carteiras comerciais, de investimentos e de câmbio, boa parte dos negócios do Cruzeiro do Sul está concentrada no segmento de crédito consignado para servidores públicos e aposentados. Atualmente, o banco possui cerca de 340 convênios de crédito consignado a esse perfil de cliente.

No primeiro trimestre do ano, a carteira de crédito da instituição somou 7,5 bilhões de reais, sendo mais de 97% desse montante destinado a empréstimos pessoais consignados e o restante para financiamentos para pequenas e médias empresas.

No balanço do Cruzeiro do Sul do ano passado, a receita vinda de intermediações financeiras totalizou 2,3 bilhões de reais. Mais de 55% desse total provinha de operações de créditos feitas pelo banco. No mesmo período, o banco acumulou lucro de 137,2 milhões de reais.

Patrimônio em risco

O patrimônio líquido do Cruzeiro do Sul foi estimado em 1,1 bilhão de reais, em março deste ano. O valor é 0,5% menor na comparação com o mesmo período do ano passado. No entanto, com as irregularidades investigadas pelo Banco Central agora, o patrimônio do Cruzeiro do Sul estaria negativo em cerca de 160 milhões de reais.

Nos três primeiros meses do ano, o banco somou prejuízo de 57,9 milhões de reais, ante 41 milhões de reais de lucro somados no mesmo período do ano anterior e 31,7 milhões de reais acumulados no trimestre anterior.

Segundo o Cruzeiro do Sul, as perdas estão relacionadas a uma mudança contábil ditada pelo BC, com o objetivo de convergir para regra brasileira o padrão internacional estabelecido pelo International Accounting Standards Board (IASB).

Ainda não é possível prever o futuro do Cruzeiro do Sul. Na última semana, o banco confirmou que estava negociando a venda de suas operações. O BTG Pactual foi apontado pelo jornal Valor Econômico como um dos possíveis interessados no negócio. Resta saber se o banco de André Esteves – assim como fez com o PanAmericano – vai poder salvar a instituição financeira de uma presumível derrocada.

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