Azul: os dois novos aviões de carga e o acordo com os Correios colocarão a empresa em posição privilegiada (Azul/Divulgação)
Karin Salomão
Publicado em 20 de junho de 2018 às 10h37.
Última atualização em 20 de junho de 2018 às 11h35.
A Azul SA, a mais nova entre as empresas aéreas brasileiras, acredita ser capaz de resolver um dos problemas mais antigos do País.
A empresa fundada pelo empreendedor David Neeleman quer ajudar a resolver os gargalos logísticos do Brasil, que representam um grande peso para a maior economia da América Latina. Estradas esburacadas, roubos de carga e uma malha ferroviária pequena e fragmentada em um país de proporções continentais são apenas algumas das razões pelas quais a infraestrutura do Brasil é sempre tão mal classificada pelo Banco Mundial.
Atualmente, apenas 3 a 4% da receita anual da Azul vem do setor de cargas, mas as vendas estão crescendo rapidamente. A empresa teve um aumento de 61% nas receitas geradas com remessas transportadas nos compartimentos de carga de aviões de passageiros no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado. E o resultado saiu antes da greve dos caminhoneiros, que parou o Brasil por 10 dias no mês passado.
A Azul planeja começar a operar seus dois primeiros aviões de carga Boeing 737-400 até o fim do ano, segundo o CEO John Rodgerson. A empresa planeja também expandir uma rede de 200 lojas de remessa de cargas e aguarda aprovação regulatória para um acordo para fazer remessas aéreas para os Correios, o primeiro do tipo, disse ele.
“O Brasil tem um enorme problema de logística”, disse Rodgerson, em entrevista, na sede da empresa, na grande São Paulo. “Muita gente pensa: ‘OK, vou transportar mercadorias de caminhão porque sai mais barato’. Será? Você precisa de seguro e não tem a certeza de que o produto realmente chegará. Os aeroportos são os lugares mais seguros do mundo.”
Quanto a seu principal negócio, de passageiros, a Azul estima que seus assentos disponíveis por quilômetro, um indicador de capacidade do setor, crescerão 17% neste ano, quando a empresa transportará 25 milhões de pessoas e contratará 1.000 funcionários, um aumento de quase 10% da sua força de trabalho, disse Rodgerson.
As ações da empresa aérea têm enfrentado problemas nos últimos meses e perderam mais de 40% desde a alta recorde de abril. No fechamento do pregão de sexta-feira, a R$ 22,83, as ações eram negociadas perto do preço da oferta pública inicial de abril de 2017. O aumento dos preços do petróleo e o dólar mais forte são os grandes culpados e levaram a Azul a acelerar um plano de renovação de aeronaves para ampliar a eficiência de combustível de sua frota.
Ao mesmo tempo, os dois novos aviões de carga da Azul – e, em especial, o acordo com os Correios -- colocarão a empresa em posição privilegiada para aproveitar o momento em que a maior varejista on-line do mundo se expande no Brasil. Após anos vendendo apenas livros no País, a Amazon.com lançou um marketplace de eletrônicos e eletrodomésticos no ano passado.
Cada vez mais empresas estão decidindo transportar produtos de maior valor por avião em vez de se arriscarem e enviarem itens por caminhão por centenas ou até milhares de quilômetros de rodovias esburacadas e propensas a roubos, disse o CEO. A greve dos caminhoneiros contra o aumento dos preços do diesel, no mês passado, ilustrou a necessidade de métodos alternativos de transporte.
“A situação atual é mais desafiadora”, disse Rodgerson, “mas isso não muda o que queremos fazer”.