Leonora Guedes, do Sertões: "Tem um potencial enorme para as mulheres virem para nossas competições" (Sertões/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 17 de março de 2024 às 08h03.
Última atualização em 18 de março de 2024 às 20h18.
O primeiro contato de Leonora Guedes com o Rally dos Sertões foi como estagiária da secretaria de turismo do estado de Goiás. 20 anos depois, ela ocupa a cadeira principal desde janeiro e é a primeira mulher na posição de CEO da Dunas Race, a empresa por trás da competição.
Não foi somente ela quem mudou ao longo desses anos. O negócio, reposicionado como Sertões, também avançou e tem criado frentes para ir além do rally.Na competição de origem, com a qual iniciou em 1993, motos, quadriciclos e carros cortam cidades e diferentes paisagens e geografias do interior do país em oito dias de evento.
Sob nova gestão desde 2019, quando Julio Capua, sócio-fundador da XP, adquiriu o negócio das mãos de Marcos Ermínio de de Moraes, a empresa abraçou as modalidades Kitesurf, em 2021, e mountain bike, em 2022.
A primeira começou com edições apenas pelo Nordeste e este ano será concentrada no Ceará, o estado que virou a “Meca” do kite. A competição das bicicletas teve início por Minas Gerais, mas começa a rodar por outras paragens, como São José dos Campos, em São Paulo, a partir deste ano no modelo de campeonato, o “Sertões MTB Cup”.
A movimentação tem contribuído para elevar a receita do negócio. Em 2023, fechou com 25 milhões e a expectativa é de uma nova alta, indo a 30 milhões, 20% de crescimento de um ano para o outro. Em relação a 2019, se confirmada a estimativa, representará uma expansão de 100% em cinco anos.
Os recursos são gerados a partir das inscrições para as competições e patrocínios, origem de 70% do negócio. Os 30% restantes estão distribuídos entre expedição de turismo, licenciamento de produtos, loja nos acampamentos e serviços, como a venda de fotos e tratamentos rápidos para recuperação dos atletas - o recovery.
No total, o rally movimenta cerca de 2.000 pessoas a cada edição, uma caravana itinerante que reúne pilotos, equipes, voluntários e “curiosos”, turistas que participam de expedições para acompanhar de perto o dia a dia do evento. As novas vertentes, que acontecem em momentos diferentes do ano, somam mais 800 pessoas.
Além da competição, o Sertões é conhecido pelo braço social e de impacto. Nas caravanas, médicos participam como voluntários e prestam atendimento nas cidades, muitas delas carentes de especialistas.
“Essas iniciativas fazem com que os Sertões permaneçam não só 24 horas nessas cidades, mas que comece três ou quatro meses antes e, dependendo da ação, continue ali por mais cinco meses”, afirma Guedes.
Segundo ela, esse modelo tem aproximado novas marcas, como o Sebrae, que entrou como patrocinador em 2022 levando capacitação a empreendedores nessas regiões, e a Conasa, que distribui filtros de baixo custo.
Em cada cidade em que fica por 24 horas, o Sertões calcula um impacto econômico em torno de 1 milhão de reais por dia, em compras de supermercados, postos de gasolina e hospedagem.
O próximo passo para o crescimento do negócio não virá a partir de novos esportes. “Nós queremos consolidar essas duas novas divisões”, afirma a CEO. Mas sim do melhor uso dos ativos que já estão dentro de casa.
Além de fortalecer o kite e o MTB, a empresa pretende desenvolver um ecossistema de conteúdo, levando as imagens produzidas ao longo das competições para um público maior.
“Nós temos o desafio por as nossas provas não serem em circuito fechado, mas queremos que chegue a outras pessoas que não só aquelas que estão in loco. As competições são repletas de emoção e desafio e tem a história da prova, dos pilotos e da Dona Irar, que tem uma pousada em São Félix do Tocantins e que se prepara ali o ano inteiro para o evento’, afirma.
Outro desafio é atrair mais mulheres para as competições. No rally, elas representam apenas 5%, percentual que fica em 25% nas provas de MTB e kite. “Tem um potencial enorme para as mulheres virem para nossas competições. Todas têm total condição para estar aqui e eu espero que nessa gestão tenhamos um crescimento significativo de mulheres da competições”, afirma.
De acordo com Guedes, o Sertões está estruturando ações, principalmente estimulando que as participantes convidem outras mulheres para as competições. Além disso, há um movimento independente, o MUSA (Mulheres Unidas Sertões Adentro), criado pelas próprias atletas para fomentar esse crescimento.
A goianiense Guedes entrou para a Duna em 2018, um ano antes da troca de comando. Antes, a mestre em turismo atuou em secretarias de turismo e criou a própria consultoria, desenvolvendo projetos de promoção de destinos turísticos.
Um dos clientes foi o Sertões, para o qual estudava e negociava potenciais cidades por onde o evento poderia passar. Com conhecimento operacional e bom trânsito nas secretarias, foi convidada para assumir o cargo de relações institucionais na empresa.
Três anos depois, assumiu a área de operações como COO, cargo que deixou pela cadeira de CEO. Na posição, lidera um time de 25 pessoas, número que chega a mais 300 no período das provas.
Questionada sobre a experiência competindo, essa é uma área que ela prefere olhar à distância. "Eu já naveguei, já pedalei em conferência com o pessoal do mountain bike, só não velejei, que está na minha lista ainda. Mas eu vou falar que eu sou um pouquinho avessa à velocidade", diz. "Todos os meus sócios praticam, mas eu prefiro correr nos bastidores. A minha vida não deixa uma corrida contra o tempo, na gestão, mas é apaixonante".