AmBev: “Nossa dúvida é começar coisas novas hoje para estarem prontas para o começo do ano que vem”, disse Nelson Jamel, vice-presidente financeiro e de relações com investidores da AmBev (Heudes Regis/EXAME)
Da Redação
Publicado em 4 de maio de 2011 às 19h51.
São Paulo - O plano de investimentos da AmBev para o Brasil em 2011 – que prevê o montante de 2,5 bilhões de reais - está mantido “por ora”, segundo Nelson Jamel, vice-presidente financeiro e de relações com investidores da AmBev. A execução vai depender do desempenho da indústria nos próximos meses, após o aumento de preços em decorrência do aumento de impostos federais.
O aumento do PIS/Cofins e do IPI resultou em uma elevação média de 15% para o setor de bebidas. No caso da AmBev, o aumento, aproximado, foi de 11% em cerveja e 17% em refrigerantes e não-alcoólicos e não-carbonatados. Por isso, a AmBev reajustou o preço de suas bebidas entre 1,5% e 2,5%, em abril.
“Em sequência ao aumento de impostos no Brasil, a empresa aumentou os preços em abril, o que pode pressionar o volume”, afirma um relatório do Itaú BBA. A empresa também acredita que esse repasse pode diminuir os volumes de venda e, consequentemente, comprometer o plano de investimentos de 2,5 bilhões de reais em 2011, afirmou Jamel em teleconferência com jornalistas. “O capex pode ser revisto caso o volume não seja suficiente por conta da mudança na carga tributária”, afirmou o executivo
Por outro lado, a empresa acredita que o investimento de 2,5 bilhões de reais é necessário, tendo em vista as perspectivas para o mercado brasileiro em 2011. “Esse ano o salário mínimo não ajudou como no passado”, afirmou Jamel. Mas a AmBev acredita que, no próximo ano, o reajuste do salário mínimo deve ficar entre 13% e 14% e, consequentemente, haverá uma retomada no consumo. O investimento seria focado em construção de novas fábricas e centros de distribuição, ampliação de unidades já existentes e melhorias operacionais.
No primeiro trimestre desse ano a empresa investiu 573 milhões de reais – a maior parte disso no Brasil. “Nossa dúvida é começar coisas novas hoje para estarem prontas para o começo do ano que vem”, disse Jamel. Uma das possibilidade avaliadas é postergar o que seria feito para o próximo verão (2011/2012) para a temporada seguinte (2012/2013). “Esse monitoramento da indústria nos próximos dois meses será muito importante para nós”, disse o executivo.
Em 2009, o setor também foi impactado por um aumento de 15%, mas não repassou para os preços. Em 2010, após um acordo com o governo, não houve elevação desses impostos.
Reajuste de fim de ano
No final de 2010 a AmBev fez seu reajuste de preços anual, que ficou entre 7% e 8%. O preço foi ajustado para compensar parcialmente o repasse do aumento das commodities, segundo Jamel. Esse reajuste foi um dos fatores que elevou a receita líquida do primeiro trimestre - e que derrubou em um ponto percentual a participação de mercado da companhia no período.
No período, a Ambev perdeu um ponto percentual em sua participação de mercado, que fechou o trimestre em 68,3%. Pelas contas da empresa, a Schincariol também perdeu participação (cerca de 1,6 pontos percentuais), enquanto Petrópolis e Femsa/Heineken ganharam.
A receita líquida de cerveja por hectolitro no Brasil no trimestre aumentou 11,7%, em decorrência do aumento de preços e da distribuição direta. A receita aumentou, mas o custo aumentou mais, segundo Jamel, especialmente por conta do aumento das commodities (como açúcar, cevada e alumínio). O crescimento do custo por hectolitro de cerveja ficou em 12,4%.
O preço das commodities continua subindo. “Daqui a seis ou oito meses vamos reavaliar. Se as tendências de hoje se confirmarem, para recompor as margens, teremos que rever os preços”, disse Jamel.
O reajuste de preços também impactou o volume de bebidas vendido no primeiro trimestre de 2011. O volume de cerveja cresceu 0,2% no Brasil no primeiro trimestre devido à desaceleração no crescimento da indústria, às chuvas em janeiro e ao aumento de preços. A operação de refrigenanc (refrigerantes e bebidas não-alcoólicas e não-carbonatadas) registrou uma queda no volume de 5,0% no trimestre como resultado da contração da indústria e da participação de mercado estável.
“Desde os últimos meses do ano passado, registrávamos desaceleração nesse volume de vendas, já esperávamos para esse trimestre um ritmo de crescimento menor, que se confirmou, por causa do clima e da desaceleração da econômica como um todo”, disse Jamel.
O resultado da AmBev no trimestre veio em linha com o que era esperado pelos analistas do Itaú BBA e da Fator Corretora. “O resultado está em linha com as expectativas quanto a crescimento de receitas e com o ganho em margens”, afirmaram Renato Prado e Ronaldo Kasinsky, da Fator Corretora, em relatório.
No lado positivo, preços, hedges favoráveis, custos mais baixos das commodities, menos latas importadas e redução de custos extras de logística podem permitir significativas economias e expansão da margem no próximo trimestre, segundo relatoria do Itaú BBA assinado pelos analistas Juliana Rozenbaum, Francine Martins e Enrico Grimaldi.