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Empresa da Odebrecht, com dívida de R$12 bi, entra em recuperação judicial

Em janeiro, a Odebrecht propôs a credores no Brasil a entrega do controle da Atvos em troca por uma redução na dívida de 12 bilhões de reais da companhia

A Atvos tem 9 usinas e capacidade de moagem de 36 milhões de toneladas de cana-de-açúcar (Paulo Whitaker/Reuters)

A Atvos tem 9 usinas e capacidade de moagem de 36 milhões de toneladas de cana-de-açúcar (Paulo Whitaker/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 29 de maio de 2019 às 18h48.

Última atualização em 30 de maio de 2019 às 09h28.

São Paulo - Com uma dívida de quase R$ 12 bilhões, a Atvos - empresa de açúcar e álcool da Odebrecht - entrou ontem em recuperação judicial. Trata-se da primeira companhia do grupo, que vive grave crise financeira desde que virou pivô da Operação Lava Jato, a recorrer à proteção da Justiça para renegociar seus débitos. A expectativa é que outras empresas do conglomerado sigam o mesmo caminho nas próximas semanas, como é o caso da OR (braço imobiliário do grupo). Até a holding corre esse risco, dizem fontes próximas às negociações.

No caso da Atvos, antiga Odebrecht Agroindustrial, as conversas para uma reestruturação da dívida se arrastam há meses sem um acordo definitivo. Em nota, a empresa afirmou que a recuperação judicial é "resultado da investida hostil de um fundo internacional, que por meio de processo judicial colocou em risco as operações da empresa". Segunda maior produtora de etanol do País, a companhia se refere ao fundo Lone Star, que tem cerca de R$ 1 bilhão em créditos a receber.

Em dezembro, a empresa atrasou o pagamento para o fundo americano, que entrou na Justiça e conseguiu a penhora de parte importante da produção de cana da Atvos. Na semana passada, a Justiça determinou que o montante fosse depositado para o credor, o que corresponde a 65% de toda receita com a venda dos produtos. Por isso, a companhia pediu uma liminar ao juiz para evitar essa execução, sob risco de tornar inviável a recuperação judicial. O prazo para o depósito termina amanhã.

Nos bastidores, fontes próximas à renegociação afirmam que não foi só a investida da Lone Star que levou a empresa a recorrer à Justiça. O tiro de misericórdia, disse um credor, foi a falta de consenso do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Banco do Brasil para o fechamento de um acordo. Juntas, as duas instituições têm quase R$ 8 bilhões para receber da empresa - ou seja, 66% do total da dívida.

BB e BNDES não aceitaram uma proposta de transformar parte da dívida em capital. Nas últimas semanas, afirma uma fonte a par da renegociação, o BB se movimentou mais em busca de uma solução, mas o banco de desenvolvimento não aceitou um acordo. Agora, a Atvos terá 60 dias para apresentar um plano de recuperação que seja aprovado pelos credores.

A recuperação judicial da Atvos ocorre quase três anos depois de a empresa reestruturar R$ 7 bilhões em dívidas com Banco do Brasil, BNDES, Bradesco, Itaú e Santander. Na época, para fechar o acordo, os bancos exigiram que metade do valor da dívida fosse garantida por 100% das ações que a Odebrecht tem na Braskem, empresa do setor petroquímico. Com a renegociação, a empresa ganhou prazo de 13 anos para quitar o saldo devedor, com a primeira parcela vencendo apenas em 2021.

Crise de liquidez. No pedido de recuperação, a empresa explica que sua crise de liquidez começou em 2016 com a política de represamento de preços da gasolina, o que impactou diretamente no preço do etanol. Depois da reestruturação da dívida com os bancos, a Atvos viveu um período de estabilidade até o início do ano passado, quando o setor voltou a ser afetado por uma série de fatores que prejudicou o faturamento das empresas. Para completar o cenário, afirma a companhia, a greve dos caminhoneiros reduziu a receita do segmento em cerca de R$ 1,2 bilhão.

Segundo fontes, a recuperação da empresa poderá trazer reflexos diretos para a Odebrecht, que recentemente sofreu um revés em relação à Braskem. Por causa de problemas na extração de sal-gema em Alagoas, a petroquímica está impedida de pagar os dividendos aos acionistas. A Odebrecht teria direito a receber mais de R$ 1 bilhão, que iria reforçar o caixa do grupo.

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