Deutsche Bank: juros baixos e até negativos, o peso dos ativos ruins, as altas contas jurídicas e os novos concorrentes digitais estão debilitando as ações e os executivos (Thomas Lohnes/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 8 de julho de 2016 às 16h30.
Oito anos depois da crise financeira, o resgate de bancos voltou a ser assunto de discussão na Europa.
Os juros baixos e até negativos, o peso dos ativos ruins, as altas contas jurídicas e os novos concorrentes digitais estão debilitando as ações e os executivos.
A decisão do Reino Unido de sair da União Europeia afetou ainda mais a confiança no setor bancário.
Nesta semana, um índice das ações dos bancos europeus caiu para o valor mais baixo desde 2011. Diante da iminência da possibilidade de outra crise e da incerteza política na Europa, grandes transações transfronteiriças talvez nunca tenham sido tão improváveis. Mas isso não significa que elas não possam ajudar.
Em quase todos os outros setores, a soma de crescimento estagnado, avaliações problemáticas e necessidade de consolidação geraria uma série de fusões e aquisições. No setor financeiro, combinações desastrosas entre bancos e resgates de empresas consideradas grandes demais para quebrar ainda estão presentes na cabeça dos reguladores.
O volume de transações que envolveram bancos da América do Norte e da Europa Ocidental nos últimos seis anos foi menor que a metade do total nos seis anos anteriores. No entanto, estão começando a surgir vislumbres de consolidação no setor financeiro de lugares como Abu Dhabi, China e América do Norte.
A partir de conversas com mais de doze assessores de fusões, além de analistas e investidores, foram elaborados alguns dos grandes acordos que poderiam fazer sentido -- se fossem autorizados.
Barclays compra Deutsche Bank
O maior banco da Alemanha, que está sendo negociado a um quarto de seu valor contábil, foi o candidato mais popular, porque foram sugeridos acordos com diversos outros bancos.
Um caminho que o CEO do Deutsche Bank, John Cryan, pode tomar é buscar uma aquisição que duplique suas atividades de investment banking e trading.
O CEO do Barclays, Jes Staley, proclamou a necessidade de um peso-pesado na Europa para afastar o domínio americano, e esta operação faria isto: a empresa fusionada superaria o JPMorgan Chase & Co. como a principal empresa de negociação do mundo. Essa transação também daria ao Barclays, que tem sede em Londres, uma presença mais firme na Europa continental caso o Brexit realmente se materialize.
Santander compra Deutsche Bank
Cryan também poderia tentar um acordo que afaste o banco do abatido setor de trading.
O Banco Santander tem a presença forte no varejo que o Deutsche Bank buscou, e o acordo daria ao banco espanhol uma oportunidade de baixo custo de entrar em novos segmentos do mercado.
A Alemanha é um dos 10 principais mercados do Santander, onde o banco já tem uma grande presença no setor de crédito ao consumidor.
JPMorgan compra Standard Chartered
Este acordo vem circulando desde que Jamie Dimon assumiu o comando do JPMorgan em 2005. Havia um rumor de que o banco americano tinha dado um lance por uma participação que acabou sendo comprada pela Temasek Holdings em 2006, e analistas projetaram a possibilidade de fusão quando ambos os bancos saíram da crise financeira em melhor forma que os rivais.
Com uma capitalização de mercado de menos de US$ 25 bilhões, o Standard Chartered poderia ser facilmente absorvido pelo JPMorgan, que tem um valor quase nove vezes maior.
Executivos do setor disseram que o JPMorgan poderia tentar adquirir uma empresa com exposição à Ásia, ao Oriente Médio e à África.
Dimon disse no ano passado que o banco quer estar presente em mais países africanos para estimular o crescimento, embora as autoridades reguladoras de Gana e do Quênia tenham impedido a entrada do banco.
ICBC compra Standard Chartered
A empresa de Bill Winters foi um alvo popular, considerando sua avaliação baixa e sua presença em muitos mercados onde outros bancos pretendem crescer.
Os executivos do setor projetaram a possibilidade de que bancos chineses façam uma oferta na tentativa de se diversificarem fora de seu país natal, em busca de objetivos mais globais.
O maior banco da China, o Industrial and Commercial Bank of China (ICBC), talvez seja o principal candidato porque mostrou um apetite maior por transações, como a compra de uma participação majoritária na unidade de mercados globais do Standard Bank no ano passado.
Société Générale compra UniCredit
O UniCredit, o banco europeu com a avaliação mais baixa, acabou de nomear o banqueiro de investimento Jean Pierre Mustier para liderar uma reestruturação em um momento em que a Itália estuda a possibilidade de ajuda estatal para evitar uma crise no setor bancário.
Em breve Mustier terá que pensar em vender ativos ou recorrer aos investidores para obter capital, depois que os esforços de seu antecessor foram considerados insuficientes.
O Société Générale, onde Mustier trabalhava, teve lucros constantes nos últimos anos, o que possibilitaria que o banco fusionado aumentasse a proporção de capital sem diluir as ações em vendas.
A receita do SocGen ficou estagnada devido à desaceleração da economia europeia; o banco poderia tentar crescer apostando na recuperação da Itália e na presença do UniCredit nos mercados do Leste Europeu.
Além disso, este acordo combinaria a presença maior do UniCredit em finanças corporativas na Alemanha e na Itália com as sólidas atividades de negociação do SocGen.
Wells Fargo compra Credit Suisse
Wells Fargo & Co., um dos bancos internacionais mais saudáveis, demonstrou vontade de fazer uma incursão na área de investment banking. Ele também tem um excedente de capital e está estudando como utilizá-lo.
O rival Jamie Dimon disse que o Wells Fargo provavelmente terá que realizar uma aquisição para poder concorrer no atendimento às grandes corporações.
Executivos do setor dizem que, arrebatando o Credit Suisse Group, o Wells Fargo poderia ter acesso aos negócios de gestão de patrimônio do banco suíço e a uma unidade gerenciável de investment banking.
Destruidores de sonhos
Alguns executivos do setor disseram que os grandes bancos têm tanto para resolver internamente que deveriam se concentrar dentro de suas próprias paredes; um disse que sentia calafrios só de pensar nos maiores bancos fazendo acordos transformadores novamente.
Porta-vozes dos bancos preferiram não fazer comentários sobre as fusões hipotéticas.
“Mostre-me uma fusão bem-sucedida entre bancos e eu lhe mostrarei 20 que deram errado”, disse Mark Williams, professor da Universidade de Boston e ex-analista de bancos do Federal Reserve.