São Paulo – Quem não gostaria de beber café o dia todo por (e não apenas no) trabalho? E sentir perfumes ou experimentar chocolates para pagar suas contas? Buscar tecidos pelo mundo seria uma opção melhor? Pois estes são alguns dos trabalhos desempenhados em empresas como Natura, Ford, Nespresso e Mars, empresas que tem concentradas nessas funções uma boa parte de suas estratégias para conquistar e reter clientes.

Natura: criador de fragrâncias e avaliador de bem estar

Entre os vários cosméticos e itens de higiene fabricados pela Natura, um dos atributos mais importantes – e algumas vezes decisivos para a compra – é o perfume. Não à toa, a categoria cheiro se tornou fator estratégico para a companhia há 15 anos, quando a Natura decidiu criar uma função específica para avaliar, criar e descobrir tendências no quesito.
A gerente do grupo de Avaliação Olfativa da empresa, Mônica Roza Pinotti, define como a área funciona a partir da sua habilidade e das outras três pessoas que trabalham com ela na área. “Experimentar, diferenciar e guardar cada cheiro na memória é nosso principal desafio. Claro que ser criativo e gostar de sentir perfume são outras características necessárias”, diz ela.

Formada em química e pós-graduada em marketing, Mônica é uma das raras pessoas com as características para a profissão, exercida por apenas 700 pessoas no mundo. A função deles começa quando um novo produto será desenvolvido. Depois de receber o briefing, o perfumista cria opções olfativas em fitas apropriadas e as aplica sobre a pele, em mechas de cabelo ou mesmo em cabines olfativas para testes. Até 300 ensaios olfativos são feitos para se chegar a uma conclusão.

Escolhidos alguns protótipos, é hora de avaliar o desempenho da fragrância, quanto e como a cada uma perfuma realmente. “Geralmente, iniciamos o dia cheirando produtos de menor performance, deixando para o fim do dia os produtos mais perfumados para não cansar o olfato logo pela manhã”, diz a gerente.

Medir o quanto e como seus produtos poderiam causar ou causavam sensação de bem estar na vida dos consumidores também passou a ser uma estratégia da companhia em 2006, quando a companhia criou a área de Medições Cientificas de Bem Estar. Desde então, mais de dez pesquisas cientificas foram realizadas para medir a sensação de bem estar oferecidas pelas maquiagens, cremes de rosto, óleos para gestantes e demais produtos da marca.

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“Costumo dizer que sou designer de Ideias, pois desenho soluções criativas para projetos, produtos e serviços que aliem a ciência do bem estar aliada aos produtos e, dessa forma, proporcionem a experiência Natura de bem estar bem ao consumidor”, diz a fonoaudióloga e doutora em educação, Claudia Pelegrino, uma das quatro pessoas responsáveis pelo trabalho da área.

Mars: provadores de chocolates e outras guloseimas

As manhãs de segunda e sexta-feira são algumas das mais produtivas e literalmente gostosas para Markus Paulo Lopes Rabello, administrador da rede da Mars, fabricante de marcas como M&M´s e Twix. Uma hora por semana, ele tem a função de provar os chocolates e demais produtos da empresa junto de outros 51 funcionários de áreas diversas, voluntários na árdua função de provar os itens fabricados pela companhia.

“Ser um provador me dá a possibilidade de aguçar meu paladar, conhecer a produção da empresa onde trabalho e, principalmente, fazer com que eu me sinta parte importante dela, já que entendo hoje o quanto minha função em TI faz parte da empresa como um todo e afeta o desempenho de todos, assim como o trabalho das pessoas nas fábricas”, diz Rabello.

O programa de Provador Oficial começou a ser operado na Mars Brasil em 2010 e a aceitação tem sido crescente por parte dos funcionários. O grupo que começou com 19 pessoas, hoje já conta com 51. Pessoas que trabalham em áreas tão distintas quanto vendas, finanças, segurança e engenharia.

“Ser uma provadora voluntária é tão importante para mim e para a empresa quanto minhas atribuições como analistas de custos do departamento financeiro”, diz Ana Flávia Costa Ribeiro, há dois anos no grupo dos Provadores Oficiais. “Somos uma importante etapa de qualidade e padronização de sabor antes de os produtos chegarem aos consumidores.”

Para ser um provador não basta apenas boa vontade e paixão por doces. Os voluntários passam por um treinamento rigoroso de oito horas, onde aprendem sobre a importância da correta aplicação da metodologia sensorial e desenvolvem suas habilidades de degustação.

Depois disso, eles estão aptos a avaliar todas as etapas de criação dos produtos, como as matérias-primas, os produtos semielaborados e, finalmente, o produto acabado. Caso haja alguma inconformidade que destoe da amostra padrão de cada etapa, o processo é interrompido para que o problema seja solucionado antes da conclusão.

Ford: design de cores e acabamentos

“Todos os dias alguém da engenharia vem aqui nos pedir uma vaga”, diz a designer Adília Afonso, supervisora de design da Ford. Bem humorada, ela explica que a sua área é a mais colorida e repleta de itens decorativos da empresa. “É um ambiente feito para criar.”

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Também pudera. Adília e sua equipe são responsáveis pela escolha e criação de todas as cores e tendências dos carros e caminhões da Ford. Ela desenvolve projetos para o mercado brasileiro e outros emergentes, como Índia e China. “Fazemos pesquisas estratégicas sobre as cores usadas, as texturas das peças plásticas, tecidos dos bancos, todos os detalhes que irão compor o modelo, a partir da pesquisa sobre o perfil do consumidor a que o produto se destina”, diz ela.

Dentro da Ford, a área conduzida por Adília é tão importante quanto as demais áreas que concebem um novo veículo. Viagens para descobrir tendências (tanto para exposições de carros quanto aos desfiles de moda), e pesquisas, muitas pesquisas sobre materiais estão entre as funções.

“Nossa missão é descobrir como, do que e por que o consumidor gosta de tal material, usar os materiais da maneira correta e buscar fornecedores que ajudem a nos colocar a ideia em prática da melhor maneira possível em qualidade e preço”.

Desde que a Ford Brasil passou também a desenvolver projetos para outras regiões, o desafio da área cresceu ainda mais. “Havia muita peculiaridade entre as regiões, no começo, hoje há bem menos o que nos possibilita trabalhar em um catálogo global de fornecedores”, diz ela.

Nespresso: sommelier de café

Não é difícil imaginar o quanto as pessoas que trabalham na Nespresso gostam e bebem café expresso. Afinal de contas, a bebida é seu principal negócio. Difícil é imaginar a rotina de trabalho de uma pessoa cujo café é sua paixão e por isso seu trabalho. Tanto que o sommelier de café Vitor Gabira toma até 20 cafés por dia. “Aprendi a degustar o suficiente para não perder o sono”, diz ele.

Vitor é capaz de identificar, de olhos fechados, de que região, tipo e mistura provém cada gole de café tomado por ele durante o dia. Ele também é mestre em criar boas combinações de cada café com delícias, como tortas de limão ou salgados.

Especializado no assunto, ele fez formou como tecnólogo em nutrição, se formou em gastronomia e fez diversos antes de trabalhar como barista em restaurantes e chegar a ocupar o cargo na Nespresso Brasil, em novembro de 2010. “De barista, minha função evoluiu para sommelier, já que a importância da função também se tornou estratégica para a Nespresso no mundo”, afirma Gabira.

Uma das responsabilidades de Vitor é também disseminar boa parte do que sabe para todos os colaboradores da empresa. Nas manhãs, ele recebe cerca de dez pessoas de diversos cargos em sua sala – um ambiente despojado que simula uma cafeteria dentro da sede da empresa, na capital paulista e reúne todos os itens da marca, incluindo máquinas de café e cápsulas.

“Eles experimentam, também com olhos vendados, cápsulas de Nespresso aleatórias com a finalidade de adivinharem o que estão bebendo e, assim, conhecer melhor os produtos da empresa e seus sabores”, afirma o sommelier. As harmonizações criadas por Vitor também são passadas nos cafés boutiques da marca no Brasil.

No mundo, a Nespresso estimula o conhecimento dos produtos por meio de um concurso mundial entre funcionários, o Cápsula de Ouro. “É um concurso opcional, com prêmio simbólico, mas o aumento da adesão e o fato das pessoas superarem a cada ano mostra que os sommelier têm um papel importante na companhia”, afirma Vitor.