Queiroz Galvão: obras da construtora de infraestrutura na Líbia (Divulgação)
Daniela Barbosa
Publicado em 24 de agosto de 2011 às 08h58.
São Paulo – Sinal dos tempos, não são apenas as gigantes do capitalismo mundial que torcem para que a crise na Líbia não atrapalhe seus negócios. Empresas bem conhecidas dos brasileiros também aguardam que a provável queda de Muammar Kadafi não arraste seus contratos bilionários.
As construtoras, cujos contratos somam mais de 6 bilhões de dólares, estão entre as multinacionais brasileiras mais prejudicadas pelos conflitos na Líbia. As empresas estão, há pelo menos seis meses, com seus projetos empacados e sem a garantia de que serão retomados.
Somente a Odebrecht possui contratos avaliados em 5 bilhões de dólares. A companhia é responsável pela construção do aeroporto internacional e de um anel viário na capital do país, Trípoli.
Segundo a empresa, apenas 30% dos projetos foram concluídos antes do início da crise. “Nossas operações estão agora sob responsabilidade de trabalhadores líbios da companhia”, disse a empresa em nota.
Já a Queiroz Galvão possui mais de 1 bilhão de dólares em projetos no país. A companhia está envolvida em obras de infraestrutura em seis cidades do interior da Líbia. A empresa também afirmou, em nota, que aguarda o desfecho dos conflitos.
Presença estatal
A Petrobras é outra gigante brasileira com negócios no país – e, obviamente, em um setor bastante delicado. A companhia possui quatro blocos exploratórios no país, mas está com suas operações suspensa.
Em meio à troca de tiros e declarações de rebeldes e representante de Kadafi, um líder da revolução chegou a declarar, a agências internacionais, que não via problemas em renovar os contratos de petrolíferas europeias e americanas, mas talvez houvesse alguma discordância com chineses, russos e brasileiros.
É claro que a afirmação soa a pressão diplomática para que o governo brasileiro acelere o reconhecimento da legitimidade do governo rebelde. Mas, enquanto a presidente Dilma Rousseff não se pronuncia, a Petrobras vive horas de suspense.
Em nota, a estatal afirmou que vem acompanhando toda a situação na Líbia; mas disse que ainda é cedo para falar do futuro.
Expectativa
Apesar das incertezas que pairam sob a Líbia, especialistas em relações internacionais consultados por EXAME.com, acreditam que os conflitos devem terminar em breve – e que, depois, as empresas brasileiras serão favorecidas pelo novo governo.
“O país será reconstruído e novas oportunidades vão surgir. Trata-se de um novo governo, mais liberal e aberto a negociações”, disse Luís Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet).
O mesmo pensamento é compartilhado por Rogério Bonatto, diretor de exportação da goiana JBS, maior processadora de carne do mundo. Segundo ele, a companhia optou por suspender temporariamente as exportações para a Líbia, a fim de evitar prejuízos. “Mas assim que a situação for normalizada, independente de quem ficar no comando, vamos voltar a vender para o país”, afirmou o executivo.
Amigo em desgraça
Segundo Paulo Vicente, professor da Fundação Dom Cabral, o Brasil mantém uma boa relação com a Líbia e isso deve pesar a nosso favor. “Com a queda de Kadafi, novas empresas brasileiras vão se beneficiar e não apenas as que já possuem alguma relação por lá. O Brasil tem uma relação histórica de confiança com a Líbia”, disse.
Segundo o governo brasileiro, a Líbia já teria sinalizado que pretende manter os contratos de companhias brasileiras no país. De acordo com informações da Reuters, o chanceler Antônio Patriota, afirmou que, apesar de o Brasil não ter apoiado a rebelião, todos os acordos serão respeitados, mesmo que haja mudanças.
Não se espera que Patriota jogue mais lenha na fogueira com declarações polêmicas ou alarmistas. O futuro dos contratos bilionários de empresas brasileiras com a Líbia só será conhecido, de fato, quando o conflito acabar. É bom lembrar que eles foram assinados com Kadafi, que está sendo caçado pelos rebeldes. E não se sabe até que ponto eles irão para acabar com as marcas do ditador no país.