Coca-Cola: contaminação no refrigerante e discriminação entre empregados (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 3 de maio de 2012 às 09h19.
São Paulo - "A Coca-Cola continua a matar a sede do mundo". Os dizeres são da própria empresa, que reportou aumento de vendas nos mais de 200 países onde atua. No primeiro trimestre de 2011, a The Coca-Cola Company – que também vende outras bebidas além do seu carro-chefe – embolsou 11,1 bilhões de dólares, um crescimento de 6% em relação ao mesmo período do ano passado. O lucro líquido, por sua vez, chegou a 2,06 bilhões, 8% maior que o registrado nos três primeiros meses de 2012.
Quando inventou o refrigerante há 126 anos, é provável que o farmacêutico John S. Pemberton não imaginasse que ele chegaria tão longe: em média, 1,7 bilhão de doses de Coca, em seus diferentes tipos de envase, são consumidas todos os dias. Mas a trajetória da Coca-Cola também guarda seus percalços nos quatro cantos do mundo. Veja, a seguir, quatro denúncias que colocaram a empresa em maus lençóis nos últimos tempos:
Cloro na China
Nesta segunda, uma fábrica engarrafadora de Coca-Cola fechou as portas na China depois de detectada a presença de cloro no refrigerante. A suspensão das atividades, que é temporária, foi determinada por autoridades reguladoras de segurança de alimentos em Shanxi.
A substância foi encontrada em lotes produzidos entre 4 e 8 de fevereiro. Segundo a Coca, os níveis de cloro seriam inferiores aos limites fixados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para a água potável. Hoje, a Coca possui mais de 40 fábricas engarrafadoras no país.
Pesticida na Índia
Em 2003, o Centre for Science and Environment (CSE), uma organização não governamental indiana, publicou um estudo mostrando a presença de pesticidas em refrigerantes vendidos no país. O nível de defensivos encontrados na Coca foi mais de 20 vezes superior ao limite estabelecido pela EEC (European Economic Comission). Três anos depois, o teste foi refeito. E a Coca mais uma vez terminou reprovada: a quantidade de pesticida inclusive subira nesse meio tempo.
Ao menos seis estados indianos impuseram suspensão total ou parcial à venda da bebida. Apoiando-se em avaliação encomendada a um laboratório independente, a empresa afirmou que o refrigerante seria seguro e próprio para o consumo.
Depois de sofrer com a dimensão do escândalo, a Coca só tem motivos para comemorar sua presença no país. Com um crescimento de 20% nas vendas no primeiro trimestre de 2012, as operações indianas foram, de longe, as que mais se expandiram no mundo.
Fungicida e gás de má qualidade na Europa
De maio a junho de 1999, mais de 250 pessoas na França e Bélgica ficaram doentes depois de beberem o refrigerante. Segundo a Coca-Cola, dois problemas estavam por trás dos casos de náuseas, dores abdominais, vômitos e diarreia. Na planta belga, a bebida teria recebido dióxido de carbono de má qualidade, comprometendo o gás responsável pelas familiares bolhinhas do refrigerante. Na França, um fungicida teria contaminado os galões.
Como resultado, as autoridades suspenderam as vendas da bebida nos dois países. Holanda e Luxemburgo seguiram o exemplo. No fim das contas, o incidente foi responsável pelo maior recall já registrado de Coca, impondo uma perda de 200 milhões de dólares à companhia. Para resgatar a credibilidade junto ao público europeu, a Coca-Cola patrocinou festas na praia e festivais de rock no mesmo ano.
Discriminação racial nos EUA
A americana Linda Ingram dá nome a um processo que jogou luz sobre as relações de trabalho da empresa nos Estados Unidos. Analista de sistemas de informação da Coca, ela ganhava menos que funcionários brancos do mesmo cargo. Enquanto permanecia estacionada na mesma posição, também via seus colegas sendo promovidos com frequência. Como ela, Kimberley Orton via a diferença de tratamento refletida no contracheque: era pior remunerada, inclusive, que seus subordinados diretos. Depois de investigar casos como esses por nove meses, a firma de advocacia Mehri & Skalet moveu uma ação coletiva contra a Coca-Cola em nome de 2.200 empregados negros, em 1999.
Dois anos depois da investida, a Coca foi condenada a pagar 192,5 milhões de dólares pela discriminação racial praticada em promoções, avaliações de desempenho e pagamentos. Em um julgamento considerado histórico, cada um dos empregados envolvidos recebeu uma média de 40.000 dólares. O restante do dinheiro foi empregado em mudanças operacionais na empresa. Na época, a Coca afirmou que a sentença ajudaria a companhia a "construir uma força de trabalho mais forte, com total transparência para os contratados".