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As cervejas artesanais bateram no teto (ao menos nos EUA)

Depois de crescer 17% ao ano, mercado americano estagnou. Relatório do banco UBS aponta crescimento dos destilados (e até da maconha) como prováveis causas

Cervejas: no Brasil, o número de cervejarias artesanais passou de 290, em 2012, para 679 em 2017 (Peter Nicholls/Reuters)

Cervejas: no Brasil, o número de cervejarias artesanais passou de 290, em 2012, para 679 em 2017 (Peter Nicholls/Reuters)

LA

Lucas Amorim

Publicado em 25 de julho de 2018 às 15h24.

Última atualização em 25 de julho de 2018 às 16h24.

O mercado de cervejas artesanais cresceu alucinadamente nos últimos anos. Nos Estados Unidos, as cervejarias pequenas e independentes já dominam 13% do mercado local. Em 1980 havia apenas 92 cervejarias artesanais no país; o número chegou a 2.420 em 2012 e a incríveis 6.266 em 2017.

No Brasil, o número de cervejarias artesanais passou de 290, em 2012, para 679 em 2017, segundo dados do Ministério da Agricultura. Parecia um mercado sem limites. Mas o limite pode ter chegado, ao menos nos Estados Unidos, segundo relatório recente do Banco UBS.

Depois de crescer 17% ao ano entre 2011 e 2015, o volume de cervejas artesanais nos Estados Unidos estancou nos últimos dois anos: caiu 1,6% em 2016 e cresceu apenas 3,2% em 2017. Parte da explicação pode estar no fato de que cervejarias independentes importantes foram vendidas para as grandes fabricantes, o que poderia tirar o peso das pequenas. Mas uma pesquisa da empresa de consumo Nielsen mostra que as marcas artesanais (qualquer que seja seu controlador) avançaram de 10% a 15% entre 2013 e 2016, apenas 1,1% em 2017 e 1,3% em 2016.

Segundo o UBS, três motivos comportamentais podem explicar a desaceleração no crescimento. Um laboratório do banco ouviu 1.200 consumidores americanos e concluiu que 64% ainda estão dispostos a experimentar novos tipos de cerveja, enquanto 57% consideram “cool” as cervejas artesanais. E 60% acreditam que o maior preço das artesanais tem relação com mais qualidade. O problema é que esses percentuais pararam de crescer nos últimos anos.

Além disso, cada vez mais pessoas provam novos tipos de destilados artesanais, como uísque e gim, gerando uma disputa com as cervejas artesanais. Entre 2015 e 2017 o número de pessoas dispostas a experimentar destilados artesanais cresceu 11%, e o número de pessoas que acreditam que os destilados artesanais são melhores que os tradicionais avançou 12% apenas em 2017.

O último motivo é mais específico dos Estados Unidos: as cervejas artesanais têm perdido espaço principalmente nos estados em que a maconha foi legalizada. Até agora, 31 dos 50 estados americanos legalizaram a maconha de alguma forma. Nesses estados, a venda de artesanais vem caindo desde fevereiro de 2017, num desempenho pior até do que das grandes cervejarias.

O impacto para as grandes

O fato de o pico de crescimento ter vindo justamente no momento de investimentos recordes das grandes cervejarias no segmento artesanal parece uma má notícia. Mas não é bem assim, segundo o UBS. Por um lado, varejistas e atacadistas têm dado preferência para as marcas artesanais mais escaláveis. Por outro, os consumidores americanos em geral dizem não se importar se uma cerveja artesanal foi adquirida por uma grande.

Desde 2011, a Anheuser-Busch InBev (ABI), maior cervejaria do país, comprou 11 artesanais, como a Goose Island. Sua maior concorrente, a MillerCoors, comprou 4 artesanais. A Heineken comprou uma das marcas mais conhecidas do país, a Lagunitas. Nos últimos 12 meses as artesanais da ABI avançaram 6,8%, segundo a Nielsen, ante 3% do mercado de artesanais.

E o futuro?

A grande questão, para especialistas no setor, é se dois anos de baixo crescimento é tempo suficiente para se traçar uma tendência de longo prazo. Cervejeiros brasileiros dizem que, apesar de os dados serem mais restritos no Brasil, o número de cervejarias artesanais e os volumes de cervejas vendidos também podem passar por um período de queda.

Juliano Mendes, fundador da cervejaria Eisenbahn, relembra que, em 2002, quando começou a estruturar seu negócio, havia mais de 1.000 artesanais nos Estados Unidos. Esse número caiu, para depois crescer com força. “Aconteceu uma espécie de seleção natural. Pode estar acontecendo o mesmo agora por lá, e pode vir a acontecer no Brasil”, diz.

A crise dos últimos anos também pode ter um peso na mudança de comportamento dos consumidores – que podem trocar as artesanais pelo nicho chamado de premium, que inclui marcas como Stella Artois, Corona, Heineken e Eisenbahn.

São elas que têm impulsionado o crescimento de faturamento das cervejarias, apesar da queda nos volumes vendidos. O consumo per capita no país, que chegou a 67 litros em 2014, segundo a empresa de pesquisas Euromonitor, caiu para 60,7 litros em 2017. Mas o segmento premium segue crescendo 20% ao ano, segundo a Nielsen, e hoje responde por 11% do mercado.

“Mesmo que as artesanais mais caras recuem um pouco em momentos como o atual, o consumidor não vai voltar ao antigo padrão de consumo. Tende a escolher um caminho intermediário, favorecendo esse nicho premium”, diz Mendes.

Os próximos anos vão dizer se as artesanais de fato bateram no teto nos Estados Unidos, ou se é apenas uma acomodação passageira. Mas seu crescimento mudou o mercado de cervejas para sempre.

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