Orla de Tel Aviv: bairros inteiros estão sendo erguidos nos arredores da metrópole, impulsionado pela demanda de profissionais de tecnologia (kolderal/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 4 de junho de 2023 às 16h32.
Com apenas 9,5 milhões de habitantes e um décimo do território do Rio Grande do Sul, Israel abriga o segundo maior hub de inovação global, atrás apenas do Vale do Silício.
E, embora pareça contraditório, é daquele pequeno país, de solo desértico e geopolítica adversa, que saem muitas das principais soluções tecnológicas para o mundo e que servem de inspiração para outros países.
Depois de seis anos sem viajar a Israel, visitei o país agora em maio em uma missão e fiquei impressionado com a quantidade de bairros nascendo ao redor de Tel Aviv, de prédios emergindo com logos de grandes empresas e da quantidade de novas tecnologias surgindo.
Tive a oportunidade de conhecer de perto algumas delas, como a Cyabra, criadora de um algoritmo capaz de ajudar a identificar notícias falsas, e a Deepdub.ai, que usa inteligência artificial para reproduzir a voz de atores em dublagens para diversas línguas.
São tecnologias que podem chegar em breve por aqui — pelo menos é o que esperam os empreendedores israelenses. Como o mercado interno é bastante restrito, as startups que nascem em Israel precisam ter perspectiva global para escalar.
Como consequência, muitas destas soluções acabam sendo adquiridas por fundos ou empresas maiores, antes mesmo de se tornarem grandes companhias.
Israel transformou-se em uma potência tecnológica global impulsionado, especialmente, por três fatores:
É no exército, durante o serviço militar, que o país começa a se distanciar dos demais. Para lidar com complexo contexto de conflitos com países vizinhos, Israel desenvolveu uma cultura muito forte de inteligência de defesa, e tornou obrigatório o alistamento de homens e mulheres, por um período de dois a três anos.
Enquanto conhecem tecnologias militares de ponta, os jovens israelenses são incentivados a desenvolver produtos e serviços que atendam às necessidades do mercado. Muitos deles saem das forças armadas direto para o caminho do empreendedorismo.
Somado a isso, tem um ingrediente cultural que faz toda a diferença, o "chutzpá" (lê-se rutspá). O termo significa autoconfiança, audácia, e traduz muito bem o estilo do israelense de levar a vida e fazer negócios.
Em Israel, as pessoas têm a cultura de criar soluções, de tentar coisas novas e o insucesso é encarado como parte do processo, não como derrota.
Como dizia Shimon Peres, ex-primeiro-ministro e presidente de Israel, que teve um papel fundamental na ascensão do país como potência tecnológica, “sem encorajar as pessoas a imaginar o improvável, aumentamos o risco em vez de diminuí-lo.” E esses são fatores essenciais para o desenvolvimento do empreendedorismo em qualquer lugar do mundo.
Pensando em Brasil, temos uma população diversa, criativa, trabalhadora, orgulhosa de sua cultura e de onde vive.
Quem sabe uma pitada de “chutzpá” possa estimular os empreendedores a terem mais confiança e ousadia e os investidores a estarem mais dispostos a apoiar grandes ideias não é o ingrediente que falta na nossa receita?