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"Era do crescimento a qualquer custo acabou", diz novo presidente da Grow

Em crise, empresa de patinetes criada após fusão de Yellow e Grin foi adquirida pelo fundo Mountain Nazca, dono do Peixe Urbano

Grow: neste ano, empresa encerrou operações em 14 cidades no Brasil (Grow/Divulgação)

Grow: neste ano, empresa encerrou operações em 14 cidades no Brasil (Grow/Divulgação)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 10 de março de 2020 às 19h14.

Última atualização em 10 de março de 2020 às 22h06.

A empresa de micromobilidade Grow anunciou nesta terça-feira, 10, sua venda para o fundo de capital de risco Mountain Nazca, que tem em seu portfólio empresas como o site de descontos brasileiro Peixe Urbano e o similar americano Groupon. As empresas não revelam o valor da transação. 

A Grow nasceu em 2019, como resultado da fusão entre a brasileira Yellow e a mexicana Grin, e hoje opera em seis países da América Latina. Com o novo dono, o presidente da empresa passará a ser Roberto Álvarez Cadavieco, até então vice-presidente de mobilidade da Grow. O então presidente global era Sergio Romo, que fundou a Grin.

“A era do crescimento a qualquer custo acabou, o que não quer dizer que não seguimos comprometidos com o nosso negócio e nossos clientes", disse o novo presidente em nota enviada à imprensa, afirmando que a Grow tem como plano ser "a primeira empresa de micromobilidade rentável do mundo." O executivo disse no comunicado que um de seus focos será "ter um modelo que seja rentável para a empresa, permitindo fazer que a companhia cresça de forma sustentável". 

A Grow vinha em maus bocados nos últimos meses e encerrou no começo deste ano a operação em 14 cidades no Brasil. As bicicletas da Yellow também foram retiradas de circulação, embora a empresa não confirme ainda se vai encerrar o serviço de forma permanente. Com os cortes, a Grow opera hoje no Brasil somente nas cidades de São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Curitiba (PR).

“A micromobilidade já é uma realidade nos grandes centros urbanos de todo o mundo e, mesmo sabendo de todas as dificuldades, nós, da Grow, tivemos a coragem de trazer esse negócio para a América Latina. Ser pioneiro em um mercado novo é ter a consciência de que inovamos desenvolvendo o modelo ideal em termos de produto e negócio para a região”, disse Cadavieco. 

Escritório da Grow em São Paulo: dificuldade em ser rentável, apesar das mais de 20 milhões de corridas (Mariana Fonseca/Exame)

Conflitos internos e operação cara

Dona das bicicletas e patinentes amarelos (e, depois, verdes, cores da Grin) que ganharam as ruas das capitais brasileiras nos últimos dois anos, a Yellow foi criada em junho de 2017 por Ariel Lambrecht, Eduardo Musa e Renato Freitas. Lambrecht e Freitas co-fundaram o aplicativo de transporte particular brasileiro 99, enquanto Musa já foi presidente da fabricante de bicicletas Caloi.

Lambredcht, Freitas e parte do grupo remanescente da Yellow deixaram a empresa no início deste ano, enquanto circulavam no mercado rumores de que os fundadores da startup brasileira tiveram desentendimentos com os sócios mexicanos da Grin. O grupo brasileiro, por exemplo, foi tirado das posições maiores de comando logo após a fusão com a Grin. O terceiro fundador da Yellow, Eduardo Musa, já havia deixado a empresa depois da fusão, em janeiro de 2019.

A briga entre os fundadores de Yellow e Grin teria, inclusive, afastado um potencial aporte de até 150 milhões de reais do fundo de investimentos Softbank, segundo o site Suno Notícias.

Em novembro do ano passado, a Grow eliminou a marca Yellow e encerrou seu aplicativo, concentrando as operações no app da Grin. A marca Grin é usada em sete países, enquanto a Yellow atua só no Brasil.

No comunicado desta terça-feira, a Grow também não informou o que acontece com o então presidente da companhia no Brasil, Marcelo Loureiro -- brasileiro que fundou a Ride Mobility, empresa de patinetes adquirida pela mexicana Grin antes da fusão com a Yellow. 

Além das desavenças internas na Grow, todo o segmento de micromobilidade também sofre para se tornar rentável. Um dos principais desafios é a depredação de patinetes e bicicletas, o que torna alto o custo de operação.

Neste cenário, a americana Lime também anunciou neste ano o fim das operações no Brasil, somente seis meses após começar a operar no país. Há quem ainda queira tentar: a Uber lançou em São Paulo neste mês seu serviço de patinetes, que já ofertava em países como os Estados Unidos. 

O interesse do Mountain Nazca pela Grow havia sido publicado neste mês pela agência Reuters, com os termos do acordo ainda a serem firmados. O fundo negava as negociações. Fundada em 2012, o Mountain Nazca tem sede no Chile e investe em startups da América Latina.

“O setor da micromobilidade tem um grande potencial de desenvolvimento e acreditamos na experiência e no alto nível de serviços da Grow Mobility para liderar esse movimento”, disse em nota um dos fundadores e sócios do Nazca, Felipe Henriquez Meyer.

O fundo comprou o brasileiro Peixe Urbano em 2018, em meio a um processo de saída dos fundadores, que hoje não participam mais do negócio -- que teve operações unidas com o Groupon, que também é do Nazca.

Maior companhia do segmento no Brasil e terceira maior do mundo, a Grow atingiu a marca de mais de 20 milhões de corridas realizadas desde agosto de 2018. Seu sucesso ou fracasso pode determinar o destino do setor de micromobilidade na América Latina.

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