Sacos de açúcar: Bunge sinalizou planos de deixar o seu deficitário negócio de açúcar no Brasil (Jean-Pierre Pingoud/Bloomberg News)
Da Redação
Publicado em 24 de outubro de 2013 às 17h18.
Chicago - O novo presidente-executivo da gigante norte-americana do agronegócio Bunge sinalizou planos de deixar o seu deficitário negócio de açúcar no Brasil, fazendo da multinacional a primeira grande do agribusiness a avaliar a saída de um mercado que já foi aquecido, tendo atraído bilhões de dólares em investimentos.
A Bunge relatou nesta quinta-feira um prejuízo líquido de 137 milhões de dólares no terceiro trimestre, com sua unidade de açúcar corroendo ganhos.
"Tendo em conta os desafios enfrentados pela indústria brasileira, nós começamos um processo abrangente para explorar todas as alternativas para otimizar o valor deste negócio", disse o presidente-executivo da empresa, Soren Schroder, em comunicado.
Ele disse ainda que a companhia está fazendo "uma revisão abrangente" de suas operações de usinas de cana no Brasil, que sofreram com más condições climáticas e baixos preços globais de açúcar.
A companhia ainda não discutiu uma potencial venda da unidade de moagem com quaisquer pretendentes, disse Schroder mais tarde à Reuters em entrevista.
Schroder, que assumiu como CEO, disse que não tem prazo para esta revisão.
Já passaram seis anos desde que a Bunge e outras empresas incluindo outras grandes de petróleo como a BP PLC e a Olam, listada em Cingapura, correram para agarrar uma fatia nos negócios do adoçante no Brasil.
As companhias compraram usinas e propriedades na tentativa de integrar verticalmente suas operações em uma aposta que o aperto na oferta de açúcar e o crescente mercado de etanol impulsionariam os lucros.
Analistas estimam que a Bunge gastou mais de 2 bilhões de dólares comprando ativos no Brasil, e agora opera oito usinas com uma capacidade combinada de moagem de 20 milhões de toneladas de cana, para produzir tanto açúcar como etanol.
Mas as apostas no Brasil azedaram nos anos recentes, com as usinas locais atingidas fortemente por custos crescentes nas suas operações e por limites do governo aos preços domésticos da gasolina, o que afeta os ganhos no etanol.
Para alguns analistas, é um mau sinal para o setor de etanol no Brasil. Eles questionam como a Bunge encontrará um comprador em meio à tanta incerteza.
"É um mau sinal para o setor", disse Julio Maria Borges, diretor de açúcar e etanol da consultoria JOB Economia.
Resultados
A Bunge está entre os quatro maiores players do mercado conhecidos como "ABCD", que dominam o fluxo de produtos agrícolas em todo o mundo. Os outros são a Archer Daniels Midland, a Cargill e a Louis Dreyfus .
A Bunge teve prejuízo líquido de 137 milhões de dólares no terceiro trimestre, que terminou 30 de setembro, ante um lucro de 289 milhões no mesmo trimestre há um ano.
A receita do trimestre foi de 14,7 bilhões de dólares, abaixo das expectativas dos analistas de 16,9 bilhões, segundo a Thomson Reuters I/B/E/S. Há um ano, a receita foi de 16,5 bilhões de dólares.
A divisão de açúcar e bioenergia da empresa registrou um prejuízo de 19 milhões dólares. A Bunge registrou um encargo após impostos de 415 milhões de dólares, principalmente relacionado a esse negócio.
Schroder, que assumiu o comando em 1 de junho, havia dito anteriormente que a Bunge iria cortar seus gastos de capital em 2013 para 1 bilhão de dólares, ante 1,2 bilhão, a fim de impulsionar os resultados financeiros.